Nem sempre é fácil ser mãe

Apesar de ser envolvida em sentimentos como amor, carinho e atenção, a missão de ser mãe vem acompanhada, também, de desafios que exigem coragem

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Ansiedade. Talvez esse seja o primeiro sentimento de uma mulher que acaba de descobrir que, em poucos meses, carregará no colo um novo e pequeno ser gerado dentro do seu ventre. Depois dela, vem a alegria e a sensação de que tudo aquilo que se conhece sobre o amor estava, na verdade, um tanto equivocado. Por fim, o medo. Medo dos meses que estão por vir, do nascimento, do crescimento, do desenvolvimento, do mundo, da formação de uma nova família. Medo do que será, enfim, a aventura de tornar-se mãe que, apesar de carregada de carinho, afeto e transformação, nem sempre é fácil. Em uma data como a desse final de semana, em que milhares de filhos declaram o amor pelas mães, é válido lembrar, também, da coragem daquelas que optaram por dizer sim ao chamado e, até mesmo, título pela qual mais seriam chamadas em toda a vida: “mãe”.

O lado B da maternidade

Pouco – ou quase nada – se fala das dificuldades enfrentadas pela mulher que se torna mãe. Para a Enfermeira Obstetra e Ginecológica da Maternidade do Hospital da Cidade, Josiele Luiza Carlotto, ter filhos, hoje, está longe de ser uma escolha fácil. “Ter filhos é uma das aventuras mais fascinantes da vida. Convenhamos: ser mãe, nos dias de hoje, não é nada fácil. A cultura em que vivemos afeta ou acolhe nossa trama de subjetividades. Há muito que pensar sobre a vivência da maternidade”, inicia. A enfermeira, que convive, no dia a dia, com diferentes situações relacionadas à maternidade, acredita que o individualismo excessivo é um dos fatores que torna a tarefa de ter, cuidar e criar os filhos torne-se mais difícil. “Ao mesmo tempo, as cobranças que recebemos e assumimos para desempenhar esse papel da melhor forma possível diante da enorme quantidade de informações, são fonte constante de geração de angústias e ansiedades e futura depressão pós-parto para a mãe”, complementa.

Quando as dificuldades aparecem

Em uma sociedade onde cada pessoa é, na realidade, um multivíduo – um ser que além de homem ou mulher, é, também, um profissional, marido/esposa, filho/filha, engajado na sociedade de forma ativa e preocupado com o seu estado intelectual – a tarefa de ser mãe se apresenta em forma de conflito: a busca pela perfeição e pelo “ser a melhor mãe do mundo” entra em choque com a necessidade de simplesmente ser uma mulher que tornou-se mãe e que precisa aprender a melhor forma de lidar com isso. O equilíbrio do conflito nem sempre chega com facilidade. “As dificuldades enfrentadas pela mãe – ou o lado b da maternidade - implicam em uma conciliação bastante pesada de diversas funções simultâneas, entre trabalho doméstico, vida profissional, e criação dos filhos”, explica a enfermeira.

Ela acrescenta, ainda, que é preciso enxergar a maternidade como, de fato, ela é. “Tornar-se mãe não significa deixar de ser mulher, esposa, profissional. É bom lembrar que quando os cuidados com os filhos são compartilhados pelo casal, todos ganham. Ao mesmo tempo, os conselhos ou críticas que as mães iniciantes ouvem, as deixam ainda mais desacreditadas em seu potencial em assumir sua função maternal. Na verdade, a mulher se faz mãe a cada dia, com as experiências, os acertos, os erros, a busca por informação e a observação de como reage seu bebê frente às diversas ocasiões”. E é, justamente, no apoio encontrado ao seu redor que a mãe consegue descarregar todo o peso que carrega. “O suporte e o auxílio da família e amigos são importantes, mas é necessário espaço e respeito para que a mulher possa se definir como mãe e assumir essa posição favorecendo a relação de vínculo com a criança”, completa.

É preciso coragem

Existe um consenso entre todas as mães: ser mãe é uma sensação indescritível e que beira ao amor incondicional. Mas, junto com essa sensação, existe a superação de limites que a mãe mal sabia que existia – que vai desde a dor de uma contração até a missão de educar um outro alguém. Para Alice Aguiar, de 25 anos, mãe da Valentina de 6, a maternidade veio acompanhada da sensação de que um novo ser dependeria exclusivamente dela. “A primeira sensação que tive ao descobrir que aqueles dois riscos representavam uma nova vida com certeza foi o medo. O medo do desconhecido, de como ficaria o meu futuro, de como cuidar de um ser tão pequeno que dependia 100% do meu carinho e cuidado, medo por talvez não ser a melhor mãe do mundo e primeiro, como ser mãe?”, lembra.

Depois do medo, Alice encontrou a calmaria. “Quando nasce um filho, nasce uma mãe também. Pensei que juntas nós iriamos ser eternas companheiras e eu nunca mais estaria sozinha no mundo”, conta. Logo, as primeiras dificuldades apareceram para Alice que, pouco a pouco, encontrou a maternidade de forma sincera e real, longe dos clichês. “Tive complicações a partir das 16 semanas e precisei ser forte por mim e por ela para segurar a gestação o máximo de tempo possível. Diariamente você assiste seu corpo mudar, novas marcas de amor surgir e, mesmo tão nova, eu me doei de forma incondicional. Maternidade real é o que vem quando as visitas vão embora, quando a criança chora e você precisa decifrar o tom do choro e solucionar aquilo que dói muito mais em você que no bebê. Maternidade real é a escolha de ser a melhor mãe todos os dias, ainda que isso signifique alguns “cantinhos do pensar” ou fazer cara de brava quando só queria abraçar”, define.

Apesar de qualquer dificuldade, Alice acredita que o desafio vale a pena. “Para mim a maternidade é amar e se doar incondicionalmente sem restrições. E, para quem está passando por isso, eu diria: “Calma! O choro vai passar, as cólicas também, e aquela febre vai baixar. Você vai ser a melhor mãe do mundo e sim, ela vai amar todos os teus defeitos. Você é a pessoa responsável por lhe ensinar a amar, respeitar, se desenvolver e encorajar mesmo quando dói.

Desafio da Maternidade
Em fevereiro deste ano, uma corrente invadiu o Facebook e expôs milhares de mães que decidiram falar, ao menos uma vez, das dificuldades de ser mãe. Tudo começou quando Juliana Reis, de 25 anos, rejeitou o “Desafio da Maternidade”, que convidava mulheres a postar fotos que mostrassem a felicidade em ser mãe. Juliana seguiu o caminho inverso: desafiou mulheres a postar fotos de desconforto com a maternidade e que fossem capazes de relatar os maiores medos ou piores experiências. A proposta foi, justamente, apresentar os desafios que a mãe enfrenta. O post foi criticado, mas, também, apoiado e compartilhado por outras mães de todo o país: foram quase 22 mil compartilhamentos, 119 mil curtidas e outros 2 mil comentários.

*Colaborou a Enfermeira Obstetra e Ginecológica da Maternidade do Hospital da Cidade, Josiele Luiza Carlotto

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