A importância do acompanhamento psico-oncológico no enfrentamento do câncer

A dor física de descobrir um câncer não vem sozinha. ?? preciso se preparar psicologicamente para enfrentar a doença

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Simone tinha apenas 30 anos quando recebeu o diagnóstico: estava com câncer. Na época esperava o Nicolas, seu segundo filho. Foi a partir do sexto mês de gravidez que ela passou a sentir uma coceira persistente na mama direita. Já no oitavo mês, depois de notar a mesma sensação durante o banho, percebeu um nódulo no local. Após alguns exames, a confirmação: Simone tinha câncer de mama. “Fiquei muito desesperada, com medo da morte. Meu marido estava também muito abalado. Perdemos a noção do que fazer, chorávamos um longe do outro para não demonstrar o desespero. É difícil descrever a situação de tão ruim que é. Olhava para as crianças e chorava pela possibilidade de deixá-las sem mãe. Não podia lembrar-me dos meus pais que chorava com pena de que perderiam uma filha”, relata Simone Fantinell Viegas, hoje com 31 anos. A fisioterapeuta passou por sessões de quimioterapia durante seis meses, depois, veio a cirurgia, uma mastectomia bilateral. No mesmo momento foi realizada a reconstrução mamária com próteses de silicone. Hoje, Simone faz radioterapia em Porto Alegre. Mas a dor física não vem sozinha. É preciso se preparar psicologicamente para enfrentar o câncer.

Sob um novo olhar

Apesar da insegurança pela descoberta da doença, dois sentimentos nunca a abandonaram: o otimismo e a esperança de que, no final, ela sairia dessa fase curada. As sessões de terapia foram essenciais. “No meu caso, além do câncer, surgiu uma insegurança afetiva muito grande e essa ajuda foi fundamental para resolver conflitos internos, para entender porque depois de estar dando tudo certo, de o tratamento dar resultados positivos, eu estava estressada. Para a psicóloga do Centro de Tratamento de Câncer (CTCAN), Susie Graziottin Noschang, receber a má noticia gera ao paciente muita angústia e medo frente ao futuro. Então, para que ele tenha condições emocionais para enfrentar as situações que o tratamento apresenta é necessário estar bem informado para compreender a sua doença e suas possibilidades, entender o seu adoecimento e, aos poucos, ir elaborando e ressignificando as perdas para se adaptar ao novo cenário. “Quando o ser humano apresenta desequilíbrio de suas funções mentais e não possui recursos internos disponíveis para processar as dificuldades da vida cotidiana, pode sim adoecer e desenvolver doenças tanto físicas como emocionais. Por isso, é importante que o paciente oncológico fale sobre seus medos e angústias, expressando seus sentimentos e emoções. Para que isso aconteça, muitas vezes precisamos encontrar um lugar em que se sinta acolhido e seja escutado”, explica.

Tratamento integral

Quando o paciente oncológico é atendido por uma rede de apoio satisfatória, envolvendo equipe multiprofissional (médico, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudióloga entre outros), família e amigos, provavelmente se sentirá mais seguro e confiante diante do tratamento. Conforme Susie, além do paciente, a família precisa receber todo o apoio necessário. “Todos enfrentarão a doença e mudanças serão provocadas, precisando uma reorganização dos papéis e da rotina familiar”. O CTCAN oferece aos pacientes e familiares atendimento psicológico. “A Psico-oncologia é uma área que oferece suporte emocional e auxilia na atenção ao paciente oncológico e sua família de forma integral, interligando os cuidados físicos e psicológicos. Tem como objetivo a prevenção do câncer, assim como atender o paciente desde o diagnóstico, processo de tratamento, até sua finitude, oferecendo qualidade de vida durante todo esse percurso”, explica Susie.
Para Simone, o que no início foi um desafio, hoje se tornou um aprendizado. “É uma lição de vida. Passei a ser feliz nas pequenas coisas, valorizar o dia a dia e deixar o materialismo de lado”. O conselho dela é ser otimista e nunca deixar de ter bons pensamentos. “Ter coragem não significa deixar de ter medo. Então, mesmo sentindo medo, tenha coragem de fazer o tratamento, de encarar de frente essa doença. Imagine-se curada. E se não conseguir ser otimista sozinha, procure ajuda. Lembre-se que o tratamento emocional é tão importante quanto o medicamentoso”, recomenda.

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