Alergia: doença que cresce

Em algumas décadas, metade da população mundial vai enfrentar algum tipo de alergia. Hoje, o cenário é cada vez mais comum

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Na década de 50, apenas 3% da população mundial tinha algum tipo de doença alérgica. Trinta anos depois, esse índice subiu para 10% e, hoje, em 2016, esse número chega a quase 30%. As estimativas dos médicos e estudos científicos apontam que, em 2050, a proporção deve aumentar para 50%, ou seja, metade da população vai ter algum tipo de alergia. Das vias respiratórias àquelas relacionadas à pele – passando, ainda, pelas alimentares -, as alergias estão, cada vez mais, presentes na rotina diária e exigem cuidado, atenção e, especialmente, tratamento médico. Por isso, é essencial saber identificar quando algo no seu sistema imunológico está errado porque é a partir dele que as doenças alérgicas se manifestam.

Resposta não esperada
Para cientistas que estudam as alergias, o estilo de vida moderno que, geralmente, está longe da natureza e focada nos grandes centros urbanos, afastou o homem de micróbios bons e o aproximou de diferentes micro-organismos que estão por todos os lados – da terra ao ar. Nesse sentido, o contato intenso com esses diferentes agentes exige do corpo humano uma reação e é justamente aí que surge uma nova alergia. “Alergia é uma resposta não esperada do sistema imunológico frente a uma substância – antígeno - de natureza orgânica ou inorgânica; essa substância, em contato com o sistema imunológico, pode sensibilizar este sistema, e uma vez sensibilizado, o organismo pode ou não desenvolver a doença alérgica”, explica a  Dr. Melissa Tumelero, alergista do Hospital São Vicente de Paulo.
Ela acrescenta, ainda, que a doença pode se manifestar em todos os sistemas do corpo humano: pele, vias aéreas, sistema gastrointestinal, cardiovascular e renal, por exemplo. “O mecanismo imunológico envolvido é o que caracteriza cada reação, sendo as manifestações clínicas diferentes , dependentes do mecanismo envolvido. A gravidade das reações também pode variar para cada pessoa, órgão e causa envolvidos”, continua a médica que coloca que para descobrir se os sintomas identificados pelo paciente são, de fato, uma alergia, é necessário o contato com o médico. “O principal fato para identificar uma alergia é a história clínica com o especialista e se necessários testes alérgicos ou de provocação para comprovar”.

Sintomas e causas
Causadas, especialmente, por aeroalérgenos como ácaros, pólens, pelos de animais, fungos (mofo) e baratas – que causam principalmente os sintomas respiratórios, há, ainda, outras causas: “Também alérgicos alimentares , em crianças os principais são a proteína do leite, ovo, trigo, soja e em adultos frutos do mar, castanhas, amendoim. Também outros: podem ser medicamentos, alérgenos de contato, látex, venenos de insetos. Além destes alérgenos, existem fatores irritativos que também provocam sintomas, como a troca da temperatura, cheiros fortes, produtos químicos, fumaças e outros.” O interessante de se observar é que, apesar da variação de organismo para organismo, os sintomas são, quase sempre, os mesmos: “ Os mais conhecidos são os sintomas da rinite alérgica (espirros, coceira no nariz e olhos, coriza, congestão nasal), da asma (tosse, chiado no peito, falta de ar), da urticária (“vergões na pele”), da dermatite atópica (pele seca, desacoitava, muita coceira), alergia a alimentos (que podem se manifestar como diarréia, vômitos, dor na barriga, até sintomas de pele e respiratórios) e a manifestação mais grave de uma alergia, que é a anafilaxia, que pode chegar ao edema de glote (fechar a garganta) e choque cardiocirculatório e morte”, enfatiza.

Tratamentos e cuidados
Depois de identificada a alergia, o tratamento depende, exclusivamente, dos sintomas e da gravidade da doença. “Alergias agudas, rápidas, graves, devem ser tratadas imediatamente pelo risco de anafilaxia e morte. Já outras não tão graves e alergias crônicas merecem um tratamento adequado, pois todas trazem algum prejuízo ao paciente, seja físico, emocional ou ocupacional. Existem tratamentos com medicamentos para alívio imediato e outros para prevenção a longo prazo, além de tratamentos específicos para algumas alergias, que só o especialista está apto a realizar”, comenta a médica que enfatiza a necessidade de evitar o contato com o agente causador. “Como muitas vezes isso não é possível (por exemplo, ácaros, pólens na primavera, alguns alimentos sem saber), deve-se seguir o tratamento recomendado pelo alergista, e realizar consultas regulares, para acompanhamento e ajuste do tratamento se necessário. Nos casos em que o risco de anafilaxia é sabido, deve-se ter um kit emergencial sempre junto”, define.

Existe um tratamento definitivo?
A alergista do Hospital São Vicente de Paulo, Dra. Melissa Tumelero, ressalta que qualquer tratamento depende da gravidade dos sintomas e que a melhora pode acontecer através do tempo, ou ainda, os sintomas podem ser amenizados através um tratamento específico. A “cura”, no entanto, não existe. “Por exemplo, alergia a alimentos em crianças pequenas, como leite e ovo, a grande maioria pode melhorar com a idade (não existe uma idade certa, é muito variável). Já outras, como rinite alérgica, cerca de 95% dos pacientes terão sintomas pra vida toda. Não existem tratamentos que “curam” as  alergias, mas além dos medicamentos de uso a longo prazo, preventivos, seguros, existe a imunoterapia alérgeno-específica, que é o único tratamento capaz de mudar o curso natural da doença e melhorar os sintomas, através de uma modulação do sistema imunológico. Este tratamento só pode ser feito pelo alergista especialista, em um ambiente monitorizado e seguro. Para algumas alergias graves, como anafilaxia a picada de abelha, marimbondo e formiga, este tratamento quando feito corretamente, tem uma eficácia de até 99%”.

Prevenção
A prevenção acontece, de uma forma geral, através da alimentação: iogurtes, por exemplo, contêm probióticos, micro-organismos que ajudam a regular a flora intestinal. Frutas e verduras são ricas em prebióticos, que estimulam o crescimento das bactérias benéficas para o intestino. Além disso, é importante evitar as bactérias ruins que podem provocar, além de alergia, outras doenças. A dica é lavar bem a louça suja e, se possível, limpar a cozinha com spray antibacteriano. Também, lavar bem as mãos depois de usar o banheiro e antes de comer. A última dica, reforçada por todos os especialistas, é: não passe o dia dentro de casa e de ambientes fechados. A melhor coisa que podemos fazer é estar em contato com o meio ambiente.

Entenda melhor:

Alergia respiratória
Causa: componentes ambientais inalados, chamados de aeroalérgenos (alérgenos supensos no ar). Os mais comuns são os ácaros da poeira doméstica, mofo (fungos do ar), caspas de animais (gato, cão e outros) e pólens de plantas domésticas ou externas
Sintoma: afetam o sistema respiratório causando espirros, coriza, obstrução nasal, coceira nos olhos, lacrimejamento e falta de ar. A rinite alérgica e a asma são as principais doenças alérgicas respiratórias.
Tratamento: depende dos sintomas e tipo de alergia que o paciente apresenta, podendo ser asma, rinite ou sinusite, por exemplo. Normalmente, inclui o uso de remédios anti-histamínicos e corticoides.
Alergia alimentar
Causa: causada por diferentes tipos de alimentos – especialmente leite de vaca, ovo, soja, amendoim, peixes e crustáceos.
Sintoma: se manifesta de várias formas com sintomas como eczema, diarreia, náusea, inchaço na garganta e nos olhos, queda da pressão e, em casos graves, choque anafilático.
Tratamento: consulte um especialista se você tem sintomas de alergia alimentar logo após comer. Se possível, consulte um médico já quando a reação alérgica estiver ocorrendo. Isso vai ajudá-lo a fazer o diagnóstico. Depois disso, o único tratamento comprovadamente eficaz para uma alergia alimentar é evitar o alimento desencadeador da reação.

Alergia aos Insetos
Causa: alergia a picadas de mosquitos e pulgas são as mais comuns no Brasil.
Sintoma: os principais sintomas são erupções na pele e coceira que perduram ou reaparecem após 2 a 3 dias. As alergias a picadas de insetos que injetam veneno, como as abelhas, marimbondos, vespas e formigas podem causar reações generalizadas imediatamente após a picada com sintomas como exaustão, tontura, inchaço na garganta e nos olhos, queda da pressão e, em casos graves, choque anafilático.
Tratamento: recomenda-se passar gelo no local por até dez minutos. Na maior parte dos casos, o uso de um creme à base de corticoide, de 2 a 3 vezes ao dia, por 5 dias, é suficiente para tratar a alergia. Se a área ficar cada vez mais inchada, recomenda-se ir ao médico.
Alergia Cutâneas
Causa: as alergias na pele e podem ser causadas por alimentos (alergia alimentar), medicamentos ou substâncias que fazem contato com a pele (dermatite de contato). As dermatites de contato são frequentemente causadas pelo uso de joias e bijuterias que contenham Níquel, perfumes, cosméticos, produtos de limpeza e muitos outros produtos de utilização frequente.
Sintoma: coceira, ardência, vermelhidão, bolhas na área afetada.
Tratamento: Quando não for possível evitar o contato com o causador da alergia, o uso de materiais de proteção como luvas, aventais e outros equipamentos podem evitar as reações. O médico também poderá indicar alguns medicamentos que controlam os sintomas, caso inadvertidamente você fizer contato com algum material que lhe cause a dermatite.

Alergia ao Látex
Causa: causada pela inalação ou contato com as proteínas do látex; causadas pelas substâncias adicionadas aos produtos e não ao látex (artigos de borracha).
Sintoma: irritação ocular, coceira, rinite ou eczema até o choque anafilático
Tratamento: não existe um tratamento específico, mas o diagnóstico determina o conhecimento da alergia e as precauções para evitar o contato com o látex e amenizar os sintomas, especialmente quando relacionados à pele.

*Colaborou Dra. Melissa Tumelero, alergista do Hospital São Vicente de Paulo

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