Uma boa noite de sono

O sono é, ao lado da boa alimentação e dos exercícios físicos, um dos três pilares para uma vida saudável. O problema é que boa parte da população enfrenta algum distúrbio relacionado ao sono

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A noite chega, você se prepara para dormir, se deita, encosta a cabeça no travesseiro e... nada. Em um minuto, parece que o sono se vai e toda a atenção se volta para as milhares de tarefas que ficaram por ser feitas ou para cada instante do dia que ainda nem chegou. Você vira de um lado para outro, tentando encontrar a melhor posição, mas nada parece funcionar. A insônia chegou. Esse cenário não pertence apenas a você: a insônia, um dos principais e mais comuns distúrbios do sono, atrapalha a qualidade de vida de 45% da população mundial. E, junto com ela, vem o mau humor, a falta de memória e a irritação. Sintomas esses que se refletem nos outros tipos de distúrbios relacionados ao sono e que são mais comuns do que pensamos e afetam nossa saúde mais do que imaginamos: ao lado da boa alimentação e dos exercícios físicos, o sono é um dos três pilares para uma vida saudável já que é exatamente durante o sono que o nosso organismo volta à condição na qual iniciou o dia - com um repouso que inclui relaxamento muscular e redução da pressão arterial, dos batimentos cardíacos e da produção de urina. É, também, o momento de consolidação da memória e de termorregulação, o controle da temperatura corporal. Por isso, é impossível falar em qualidade de vida sem falar de uma boa noite de sono.

Distúrbios do sono
Em uma sociedade que preza pelo trabalho, pelo imediatismo e pela conectividade 24 horas por dia, dormir bem parece uma realidade um tanto distante. Poucas pessoas conseguem dizer que estão descansadas, de fato, depois de uma noite de sono. E isso não é encarado como anormalidade. E é nessa visão que mora o perigo. Para que o organismo se recupere da correria do dia a dia e do stress de uma rotina diária o ideal seria dormir entre sete e nove horas, mas poucas pessoas realmente conseguem tal feito. O neurologista do Hospital da Cidade, Alan Christmann Fröhlich, comenta que os distúrbios relacionados ao sono são muito comuns e podem ocorrer em qualquer idade. “A apneia do sono, por exemplo, afeta aproximadamente 5% dos adultos e até 20% dos idosos. Muitas pessoas apresentam privação crônica de sono devido ao menor tempo reservado para dormir. Isto ocorre devido às muitas atividades do dia-a-dia, como trabalho e estudos. Crianças e adolescentes também dormem cada vez menos que o mínimo necessário, acarretando em déficit de aprendizado, alterações no comportamento e risco de acidentes”.

Estima-se, hoje, que existam mais de 100 distúrbios que impedem uma boa noite de sono e podem ser agrupados em quatro categorias principais: dificuldade de adormecer ou permanecer dormindo; problemas para permanecer acordado; problemas para conseguir manter uma rotina regular de sono e comportamentos incomuns durante o sono. “Os mais comuns são: insônia, apneia do sono, parassonias (p.ex., sonambulismo), hipersonias (sonolência excessiva), distúrbios do ritmo circadiano e movimentos anormais durante o sono”, complementa o neurologista que acrescenta, ainda, que as causas para que tais distúrbios sejam identificados depende do organismo de cada um, por isso, é essencial a procura por um especialista. “As causas são diversas, dependendo de qual problema do sono nos referirmos. Por exemplo, causas genéticas são determinantes na grande maioria dos distúrbios do sono, enquanto a obesidade é a principal causa da apneia do sono”, completa.

Tratamento
Tendo em vista que o distúrbio do sono afeta a saúde e a qualidade de vida de quem sofre a interferência, é essencial que se procure um médico ou especialista para que se compreenda melhor o que afeta, de fato, o sono e como pode acontecer o tratamento. “A grande maioria dos distúrbios do sono tem tratamento, que varia conforme a patologia. O importante é o diagnóstico e tratamento precoces, a fim de evitar as diversas complicações, como o aumento das doenças cardiovasculares nos pacientes com apneia do sono”, ressalta Dr. Alan. Ele explica, ainda, que a causa do distúrbio também interfere no tratamento a ser aplicado. “O tratamento da insônia, por exemplo, depende da causa. Sempre que estiver associada a outra patologia, o tratamento da causa resolve ou melhora a insônia. Por exemplo, o tratamento dos distúrbios da próstata em homens que precisam levantar muitas vezes à noite para urinar levará a uma melhora na qualidade do sono; em pacientes ansiosos, o tratamento psiquiátrico também pode diminuir a insônia. Por outro lado, o tratamento da insônia primária pode ser realizado com medicamentos ou com várias medidas comportamentais visando a consolidação do sono”, coloca e acrescenta: “Já a apneia do sono, tem solução com um diagnóstico preciso. O tratamento varia de procedimentos não invasivos, como pressão positiva contínua (CPAP, uma máquina que fornece ar a uma pressão predeterminada através de uma máscara colocada sobre o nariz), de dispositivos intraorais (aparelhos feitos por um cirurgião-dentista especializado) ou cirurgia em casos específicos”, conclui.

Entenda o seu sono
O sono tem três fases, não contínuas, que se alternam durante a noite:
- Sono leve (estágios 1 e 2): está presente em aproximadamente metade da noite; é um período entre a vigília e o sono profundo, quando podemos ter alguns abalos musculares (mioclonias) e ocorrem diminuição da frequência cardíaca, respiração e da temperatura corporal.
- Sono profundo (estágio 3): ocorre em 25% da noite; é o momento em que nosso cérebro está com atividade diminuída e é mais difícil de despertarmos. O sono profundo é responsável pela restauração dos músculos, da massa óssea, dos órgãos e do sistema imunológico. A maior parte ocorre na primeira metade da noite.
- Sono dos sonhos (estágio REM): ocorre em um quarto da noite, mais na segunda metade e perto do amanhecer; é o momento em que sonhamos. A atividade do cérebro é semelhante àquela quando estamos acordados, mas nossos músculos ficam completamente paralisados. É importante para nossas funções cognitivas, como a memória e o aprendizado.

Identifique os sintomas
Há diversos distúrbios do sono. As pessoas podem sofrer de algum problema relacionado ao sono se apresentarem algum dos sintomas abaixo:
- Roncos, engasgos ou paradas respiratórias (apneias) durante o sono;
- Sonolência, cansaço excessivo, dor de cabeça, irritabilidade, falta de concentração ou memória durante o dia;
- Insônia, caracterizada pela dificuldade de iniciar ou manter o sono;
- Movimentos ou comportamentos anormais durante o sono, como falar, gritar, levantar, caminhar, mastigar ou ranger os dentes (bruxismo).

Quer dormir melhor? Siga as dicas!
Existem várias medidas, chamadas de higiene do sono, que nos ajudam a dormir melhor, entre elas:
Manter um horário regular para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana;
Ir para a cama somente na hora de dormir. Não se deve ler, assistir à TV, usar laptop, falar ao telefone ou comer na cama;
Deixar o quarto escuro, silencioso e com uma temperatura agradável;
Evitar uso álcool, café, chá preto ou mate, refrigerantes, chimarrão e cigarro à noite; fazer refeições leves à noite. A cafeína tem efeito estimulante e acaba atrapalhando o sono, já as bebidas alcoólicas irritam o estômago, o que pode causar desconforto gástrico durante a noite;
Fazer atividade física regularmente, mas não à noite;
Não ir para cama imediatamente após terminar tarefas que exijam concentração, como trabalho ou estudo; não ficar planejando o dia seguinte na hora de dormir.
Procure se alimentar três horas antes de deitar para que a digestão seja feita completamente antes de dormir;
Se não conseguir pegar no sono em 30 minutos, não fique deitado na cama, pois isso acaba estressando ainda mais. Levante-se e procure realizar uma atividade relaxante, como ouvir música suave ou ler, para ajudar a dormir;

Colaborou Dr. Alan Christmann Fröhlich, Neurologista/Medicina do Sono - Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital da Cidade de Passo Fundo e Supervisor do Programa de Residência Médica em Neurologia da UFFS / HSVP

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