Um sim que pode transformar vidas

No Hospital São Vicente de Paulo, 109 pessoas aguardam um órgão na fila pelo transplante

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Aos 66 anos, pai de três filhos e com oito netos, Affonso Ulisses Toazza teve a chance de recomeçar a vida aos 66 anos, graças a um transplante de fígado. Internado no Posto 10 do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, 15 dias após o procedimento, ele está bem e espera a hora de ir para casa. Mais que um fígado, o procedimento devolveu a Affonso a esperança e alegria para continuar a vida. “A doação de órgãos é a coisa mais linda que um ser pode fazer. Os familiares que perdem seu ente querido tem a chance de salvar a vida de outras pessoas. Eu rezo e agradeço pela pessoa que me ajudou. Eu sei que é duro para os familiares a perda de uma pessoa, mas eles devem se conscientizar que uma vida pode ganhar uma nova chance, a partir do momento em que uma família diz sim”, relata emocionado o transplantado.
Affonso é morador de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, como a cidade não dispõe deste procedimento, ele poderia optar por outro local que disponibilizasse o transplante. “Como já morei em Passo Fundo e sabia que o Hospital São Vicente é referência para esses tipo de procedimento, vim para cá. A necessidade do transplante veio depois de complicações da Hepatite B e de nódulos no fígado. A espera de sete meses na fila foi de ansiedade porém, não tive complicações mais graves de saúde. Então, recebi o telefone e havia chegado a minha vez”, conta ele reiterando a importância da doação. “Faço um apelo as famílias para optem pela doação. Eu li muito e me informei sobre esta causa, que busquem também informações e percebam sua grande valia”.

109 pessoas aguardam por uma nova chance de vida
A doação de órgãos permitiu uma nova chance de vida para Affonso, e assim como ele, outras 32 pessoas foram transplantadas neste ano. Deste total, foram cinco transplantes de rim, nove de fígado e 18 de córneas registrados no HSVP. Por outro lado, existe uma preocupação com a diminuição das doações. Até agora, foram captados quatro rins, um fígado e 12 segmentos ósseos no HSVP. Enquanto isso, 109 pessoas aguardam um órgão na fila pelo transplante, sendo que 72 pessoas esperam por um rim, 32 por um fígado e outras cinco aguardam um transplante de córneas. Conforme o coordenador da OPO4 -RS, Cassiano Crussius, a principal causa da não doação na região é a negativa familiar. “Os motivos são muitos, mas o principal é a falta de conversa sobre a doação e também os receios da família em relação a morte encefálica. É preciso deixar claro que, os procedimentos para a comprovação da morte encefálica são realizados por uma equipe multiprofissional especializada e são totalmente seguros”, salienta Crussius reforçando ainda que morte encefálica e coma são diferentes, onde no coma a pessoa está em estado vegetativo e na morte encefálica o cérebro está parado, ou seja, não há mais atividade cerebral.
A enfermeira da OPO4- RS Fabiana Dal Conte também reforça que a conversa com a família é a melhor forma de expressar o desejo da doação e facilitar a decisão da família. “Apesar de todo o sofrimento que a família está passando pela perda de um ente querido, eles precisam entender que, podem fazer o bem para outras pessoas que estão na fila por um transplante. Quando a doação é manifestada ou não em vida, a decisão se torna mais fácil para a família que está consternada pela perda”, esclarece.

Como funciona o processo de doação?
A Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) e a Organização por Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) do Hospital São Vicente de Paulo dão suporte a família dos doadores e aos transplantados. Estes setores são responsáveis por encaminhar pacientes para lista de espera, organizar a documentação de liberação para que a doação seja efetivada, comunicar ao paciente que receberá a doação e acompanhar todo o procedimento desde a chegada do doador até a realização do transplante de órgão. Fabiana explica que a família do possível doador só será abordada após os exames e a conclusão de que o paciente teve morte encefálica por isso, a comissão atua no amparo dessa família desde a entrada do paciente potencial doador. “Quando um protocolo de morte encefálica é iniciado começa uma corrida contra o tempo. A equipe da CIHDOTT faz a abordagem à família para saber se esta autoriza ou não a doação de órgãos. Se autorizado a doação, iniciam a realização dos exames e protocolos de doação”, relata a enfermeira. “É um processo que as vezes é demorado. Uma série de exames são realizados para identificar alguma contraindicação à doação e também para saber a compatibilidade deste doador com outras pessoas. Depois a Central de Transplantes, localizada em Porto Alegre, analisa a lista de espera para ver se há um receptor disponível para receber o órgão. Localizado esse paciente , ele tem que se deslocar até o hospital transplantador, para que então, o procedimento de retirada dos órgãos do doador inicie”, exemplifica Crussius afirmando ainda que, a família recebe o corpo do ente querido sem deformações, já que são colocadas próteses no lugar dos órgãos retirados.

Quero ser doador e agora?
A única maneira de tornar-se doador é com autorização da família, por isso o desejo deve ser transmitido aos familiares. Com o objetivo de despertar a consciência coletiva, o HSVP realiza permanentemente a campanha Doe Órgãos - Uma corrente pela vida, que faz um apelo para que as pessoas participem desta corrente pela vida, tendo a percepção da doação pela necessidade do ser humano e não apenas pelo sentimento da morte. Dúvidas e questionamentos podem ser sanados através do fone (54) 2103 4058 ou pelo [email protected].

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