A síndrome dos ovários policísticos é um distúrbio hormonal comum nas mulheres em idade reprodutiva. Também conhecida como síndrome de Stein-Leventhal, a doença é definida por um aumento de tamanho dos ovários, que criam várias bolsas cheias de líquido (cistos). É comum a mulher apresentar elevados níveis de hormônios masculinos, ao ponto de, em certos casos, apresentar características masculinas, como excesso de pelos.
Em adolescentes, a menstruação pouco frequente ou ausente pode ser sinal da doença. “Uma em cada 15 mulheres em idade reprodutiva tem SOP, sendo considerada uma das doenças endocrinológicas mais comuns”, conta a emdocrinologista Paula Pires.
A médica desmitificou alguns mitos e verdades sobre a SOP.
1- É verdade que na SOP existe aumento da produção de hormônios masculinos em mulheres?
Sim! Verdade. Estrógeno e progesterona são hormônios femininos produzidos pelos ovários, que levam ao ciclo menstrual mensalmente e ajudam os óvulos a produzirem os folículos, preparando a mulher para uma possível gestação. A testosterona também é produzida pelos ovários, porém em quantidade muito pequena. Na síndrome dos ovários policísticos, ocorre um aumento importante nessa produção de testosterona.
2- O diagnóstico é feito apenas quando os níveis de testosterona encontram-se elevados no sangue?
Mito! Para ser diagnosticada é preciso que a paciente apresente dois ou três sintomas combinados, e que seja excluída outra patologia. Além disso, o médico deve avaliar sua história clínica e realizar o exame físico. Os sintomas são: aumento do volume ovariano, ausência ou irregularidade da menstruação, ausência de ovulação, aumento de peso, acne, hirsutismo (crescimento de pelos no rosto e outros locais em que a mulher normalmente não tem pelos), queda de cabelo, resistência insulínica (RI) e problemas com a fertilidade. Algumas pacientes podem ter a síndrome, mesmo com valores normais de testosterona no sangue.
3-Toda paciente com SOP pode ter diabetes ou resistência a insulina?
Verdade! A resistência a insulina (prejudicando a eliminação do açúcar no sangue) pode atingir 50-70% das mulheres com essa doença e isso independe se o peso está adequado ou se a pessoa está acima do peso. Ou seja, mesmo mulheres magras com SOP devem ter uma alimentação saudável e devem praticar atividade física regular para evitar que fiquem diabéticas.
4-Toda paciente com SOP têm irregularidade menstrual?
Mito! Apesar da SOP ser causa da irregularidade menstrual em 85% das jovens, é um distúrbio que pode se manifestar de diversas formas (como apenas acne e excesso de pelos). Além disso, a SOP está associada com o maior risco para o desenvolvimento de outras doenças como câncer de endométrio (tumor localizado na parede interna do útero), ataque cardíaco e diabetes.
5-Toda paciente com SOP precisa ter ovários policísticos no ultrassom vaginal?
Mito! Apesar do nome ovários policísticos, essa doença pode se manifestar de várias formas! Afinal 7% e 20% das mulheres com SOP podem ter no ultrassom ovários normais. Além disso, 20% das mulheres normais podem ter achados ultrassonográficos compatíveis com ovários micropolicísticos mesmo sem ter a síndrome. “Por isso, este achado corrobora para o diagnóstico, mas deve ser avaliado em conjunto com os outros sinais,sintomas e achados para se fazer o diagnóstico de SOP.” Completa Dra. Paula Pires.
6-Na maioria das vezes o tratamento da SOP é simples e basta o uso do anticoncepcional e mudança no estilo de vida?
Verdade! Dentre as opções medicamentosas, os anticoncepcionais orais são os mais utilizados e são seguros e eficazes em pacientes sem maiores comorbidades metabólicas. Muitas vezes esse tratamento associado a uma reeducação alimentar e exercícios físicos já controla a doença. Por ser uma síndrome, com vários sintomas, o tratamento deve englobar diversos medicamentos como hipoglicemiantes orais (nos casos de resistência à insulina); estimulantes da menstruação, medicamento para reverter o quadro de infertilidade, cosméticos conta a acne e terapias para o controle do estresse e da ansiedade.
Mulheres com SOP apresentam, em geral, valores mais elevados de percentual de gordura, adiposidade central (barriga), testosterona, glicosepós-prandial, insulina basal e pós-prandial, triglicerídeos, colesterol total e LDL colesterol. Além disso, apresentam fatores de risco cardiovasculares mais precocemente do que comparadas as mulheres sem SOP, com mesmo IMC.
De acordo com a Diretriz Brasileira sobre a SOP, dieta e exercícios físicos representam o tratamento de primeira linha, melhorando a resistência à insulina e retorno dos ciclos ovulatórios, mesmo na ausência de perda de peso. Com o tratamento medicamentoso adequado a perda de peso resultante das mudanças no estilo devida favorecerá a queda dos androgênios circulantes, melhorando o perfil lipídico e diminuindo a resistência periférica à insulina; dessa forma, contribuirá para o decréscimo no risco de aterosclerose, diabetes e regularização da função ovulatória. A prescrição de contraceptivos hormonais orais de baixa dose, por sua vez, propiciarão o controle da irregularidade menstrual e redução do risco de câncer endometrial.
“Apesar de ser comum, a Síndrome dos Ovários Policísticos manifesta-se de diferentes formas nas mulheres e por este motivo seu tratamento deve serindividualizado. Até o momento não foi descoberta a cura para a SOP, entretanto com o controle dos sintomas é possível prevenir os problemas associados. Emcasos de suspeita de SOP, procure o seu endocrinologista”, conclui a especialista.