Cerca de 350 milhões de pessoas sofrem depressão no mundo

Dados da OMS apontam o Brasil como o primeiro no ranking da prevalência da doença em países em desenvolvimento

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A depressão é vista como um problema de saúde pública. Ela é a quarta causa de incapacitação em todo o mundo, afetando 350 milhões de pessoas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Conforme o IBGE, no Brasil, 7,6% da população adulta (sujeitos com mais de 18 anos) já foi diagnosticada com depressão, o que equivale a 11 milhões de pessoas. Desses diagnosticados, 52% usam medicamentos e 16,4% fazem psicoterapia. Isso coloca o país como primeiro no ranking da prevalência da doença em países em desenvolvimento.
Atingindo cerca de 7% da população mundial, a OMS estima que até o ano de 2020-2030, será a principal causa de incapacidade mental do planeta e a segunda causa de incapacidade para a saúde, à frente de câncer e de algumas doenças infecciosas.
Para esclarecer as principais dúvidas e responder à algumas questões, a professora do Curso de Psicologia da Imed, Cristina Della Méa, que atua principalmente nas áreas de psicopatologia e psicoterapia cognitivo-comportamental fala um pouco sobre a doença que a cada dia vem afetando cada vez mais pessoas.

Medicina&Saúde: O que é depressão, como ela afeta o indivíduo e quais são os primeiros sinais apresentados por alguém acometido por essa condição?
Cristina Della Méa: Para entender um quadro depressivo, se faz necessário, primeiramente, diferenciá-lo da tristeza. A tristeza é um sentimento que acomete o ser humano e não está associada a uma patologia. Por exemplo, quando há uma perda de um emprego ou de um ente querido ou se experimenta alguma frustração, é natural sentir-se triste. Normalmente, o indivíduo elabora e supera essa experiência. No entanto, quando a tristeza passa ser profunda e prolongada, acompanhada muitas vezes de choro e interfere significativamente a forma como o indivíduo vive e se relaciona com os demais estamos diante de um quadro depressivo. Portanto, a depressão se diferencia da tristeza pelos seus sinais e pelo conjunto de sintomas que se manifesta.
Para se diagnosticar um episódio depressivo, o paciente precisa sentir-se pelo menos cinco dos seguintes critérios, pela maior parte do tempo durante um período de duas semanas: humor deprimido na maior parte do dia; perda de interesse acentuada na maioria das atividades diárias; alteração do apetite sem estar de dieta (aumento ou diminuição); alterações no sono (dificuldades para dormir ou dormindo mais que o habitual); agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de inutilidade ou culpa; dificuldade para manter a concentração ou tomar decisões; pensamentos recorrentes de morte (planos e tentativas de suicídio). Importante destacar que esses sintomas não são justificados por uma condição médica ou pelo uso de alguma substância e que eles trazem sofrimento ou prejuízos significativos ao paciente. Quando estamos diante de um quadro depressivo, podemos observar uma mudança de comportamento, ou seja, o sujeito passa agir diferente do que anteriormente. Cabe destacar, ainda, que uma pessoa pode ter os sintomas depressivos e não fechar todos os critérios diagnósticos, o que justifica atenção clínica.

Medicina&Saúde: Quais são as pessoas mais acometidas pela depressão? Existe algum grupo de risco ou grupo com mais propensão a desenvolver a depressão?
CDM: O quadro depressivo pode ser compreendido pela influência de fatores genéticos, experiências emocionais adquiridas durante toda a vida e valores culturais. Pesquisadores colocam que parentes de primeiro grau são de 15 a 25% mais propensos a ter um transtorno depressivo do que não parentes. Quem tem histórico de depressão na família, deve ficar mais atento aos sintomas. Não se trata de uma doença justificada somente pela genética, portanto os fatores ambientais são de grande relevância, dentre eles, podemos citar os eventos estressantes (como por exemplo: uma perda, desemprego, uma separação, problemas financeiros uma doença de algum familiar, a sobrecarga de atividades realizadas). Outro público que deve ser observado, são os pacientes portadores de doenças crônicas (como por exemplo, doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias e câncer), pois normalmente o diagnóstico de uma doença crônica traz um prejuízo na qualidade de vida e pode aparecer sintomas depressivos.

Medicina&Saúde: Como as pessoas que convivem com alguém que está com depressão podem identificar o quadro?
CDM: A doença não deixa marcas aparentes, é impossível de ser diagnosticada por exames de imagem e, confundidos com uma tristeza normal, os sintomas podem passar despercebidos. Quem convive com o paciente, normalmente, percebe um prejuízo no âmbito social, afetivo, laboral do sujeito, ficando a qualidade de vida comprometida. O paciente com depressão tem a sensação que a vida “não tem graça”. A depressão afeta a maneira do sujeito pensar, sentir e se comportar, o que influencia nas suas decisões e escolhas. É importante que quem convive com o paciente não interprete os sintomas como “preguiça ou frescura”, alegando que o sujeito tem que se erguer sozinho. O paciente que está deprimido pode tentar reagir, mas na maioria das vezes, não consegue fazer isso sozinho. O ideal é o familiar, quando identifica os sintomas, conversar com o paciente, estimulando a buscar ajuda especializada.

Medicina&Saúde: Existe tratamento e cura para a depressão?
CDM: Existe tratamento sim. O tratamento pode ser farmacológico, com o uso de antidepressivos e com psicoterapia. O ideal é a combinação das duas. Uma das abordagens psicoterápicas indicadas para os transtornos depressivos é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), a qual tem como premissa que a forma como o paciente que está deprimido pensa é distorcida, ou seja, vem com pensamentos negativos e os pensamentos, interferem diretamente nos sentimentos e nos comportamentos. Na terapia, serão trabalhados pensamentos e crenças distorcidas a fim de melhorar a sintomatologia. Associar a TCC a técnicas de meditação tem auxiliado muitos pacientes na prevenção da recaída de sintomas depressivos.
Os pacientes que apresentam um único episódio depressivo, tem chances de, com o tratamento, obter um resultado satisfatório. Já, os pacientes que apresentam dois ou mais episódios (o que caracteriza um transtorno recorrente), precisarão ficar sempre monitorando os sintomas. Cada vez mais vem se estudando o quadro e não há nada milagroso que possamos entender como cura definitiva.

Medicina&Saúde: Quais são as formas de prevenir o aparecimento dela?
CDM: Uma das formas é adotar um estilo de vida saudável, o qual envolve: manter uma rotina de sono e um horário para acordar; dormir bem (a privação do sono pode influenciar o sistema imunológico e deixar o organismo mais vulnerável, além de deixar o indivíduo mais irritado e com dificuldade de render no outro dia); ter uma alimentação saudável, aprender a gerenciar o estresse; realizar uma atividade física; ter momentos de lazer; diminuir o excesso de informações; não fumar e não beber; dividir o sofrimento com os demais, ou seja, falar daquilo que está incomodando. No momento em que está sentindo-se deprimido, é importante não tomar nenhuma decisão importante, pois um indivíduo fragilizado pode não escolher a melhor alternativa. Muitas vezes, essas questões comportamentais não são fáceis de modificar. Assim, a ajuda de um psicólogo para auxiliar se faz necessária.

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