Todos temos dentro de nós sonhos. Uns menores, outros maiores, muitos que nos movem. Alguns não se realizam, outros tornam-se realidade, como o de Daiane Cara, 29 anos, de Sananduva. Há três anos a jovem que cursou veterinária, trata um câncer e convive com algumas sequelas, como a falta de equilíbrio e a dificuldade para andar. Mas nem mesmo a rotina cansativa e o tratamento pesado deixaram de fazer Daiane sonhar. Com uma veia artística muito forte, a jovem faz tricô, crochê, pinta em toalhas e tinha o sonho de pintar telas. Este último, também despertou em Daiane a vontade de conhecer a artista passo-fundense Miriam Postal, em quem se inspira muito.
Foi então que, na última terça-feira, 28 de junho, no quarto 117 da Unidade de Internação 2 do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, Daiane fazia quimioterapia e de repente, viu seu sonho acontecer. Com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos, Daiane recebeu a visita da artista Miriam Postal. “Eu não acredito, meu deus”, foram as palavras da jovem que ficou bastante emocionada. Ali as duas se conectaram, coisa de artista. Daiane contou sua história, mostrou seus trabalhos e Miriam a incentivou a prosseguir com eles. “Você tem um traço muito preciso e uma delicadeza no que faz. Vai ter facilidade em pintar as telas”. Ainda, Daiane recebeu a notícia de que receberia aulas de pintura no hospital, para poder iniciar seu sonho de pintar telas. “Que bom que você já tem professoras, vou trazer o que tenho de materiais para ti”, encorajou Miriam. “Quando a Miriam entrou eu nem acreditei. Porque eu não sabia que ela era de Passo Fundo, eu assistia os vídeos, via as pintura e sempre pensava que eu queria conhecer ela”, relatou Daiane.
Um sonho construído
Com o auxílio das professoras de Artes voluntárias, Alda Beatriz Vargas Fabris e Maria Cristina Fragomeni, nesta quarta-feira, 29 de junho, Daiane deu o primeiro passo para realizar seu segundo sonho. As aulas de pintura em tela foram ministradas na sala do Projeto Classe Hospitalar Escola de Vida, com a ajuda da professora Silvia Ricci. Depois de observar e ouvir um pouco de teoria, o desenho começou a surgir na tela. “Estou muito feliz porque o meu sonho sempre foi pintar em tela. As toalhas que eu pinto, foi com o que aprendi na internet, só que tela é diferente. Está sendo muito legal. Como eu não posso fazer outras coisas pela mobilidade eu faço muito artesanato, isso me ajuda bastante a distrair e a ter uma ocupação. Agora com a pintura então, vai melhorar ainda mais”, conta Daiane, que gosta muito de pintar flores e frutos.
Além de realizar o sonho de Daiane a pintura é um auxílio no tratamento, já que lhe faz muito bem. “É comprovado cientificamente que a arte é muito importante para a cabeça. É algo fundamental mesmo que não se tenha resultados. Só o processo do pincel, da mistura das tintas, já basta para espairecer e ajudar a mente”, relatou Alda, que foi confirmada por Daiane. “É que nem quando eu pinto as toalhas. Eu me sinto bem, fico melhor”.
Auxílio no tratamento
A psicóloga do Centro Oncológico InfantoJuvenil do HSVP, Janaina Reolon Biasi reforça a importância de atividades como esta no tratamento e também da surpresa na vida da jovem. Ela pontua que isso aproxima o jovem da sua rotina normal e faz com que se sinta integrado na sociedade. “Do ponto de vista emocional, é possível perceber uma melhora significativa no humor e na autoestima dos pacientes com as atividades diferenciadas, além de uma melhor aderência ao tratamento. É também, uma oportunidade de humanizar e minimizar o sofrimento vivenciado numa rotina desgastante de internações, exames e procedimentos, na qual são impostas tantas limitações e mudanças de rotina”, explica.