Todo o ser humano, ainda que em momentos e situações diferentes, é carregado de ansiedade, sentimento que faz parte da vida e que, inclusive, é capaz de estimular a ação. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 33 milhões de pessoas no mundo todo alega sofrer de ansiedade. Não há como negar: todos já passaram por momentos de ansiedade, seja diante de um público com a qual não está acostumado, em meio a uma crise financeira, ou na dificuldade de resolver um problema. E até aí tudo bem. A palavra, que segundo o dicionário significa “grande mal-estar físico e psíquico; aflição, agonia”, só se torna um problema quando ao invés de estimular o movimento, proporciona uma espécie de pane na mente de quem a sente e inviabiliza ações básicas do dia a dia, como, por exemplo, o relacionamento com o outro. Identificar quando um simples sentimento se torna uma patologia capaz de paralisar a vida social e profissional, no entanto, não é nada fácil.
Primeiro passo: compreensão
Como explica a psicóloga clínica do Hospital da Cidade, Juliane Disegna Fraporti, a ansiedade faz parte da vida e é um sentimento intrínseco ao desenvolvimento humano. “É propulsora de mudanças e pode contribuir para a melhora do desempenho global, para promover soluções criativas e para estimular a cooperação. A ansiedade é uma reação emocional normal e esperada diante de uma situação nova e desconhecida, sendo também um sinal de alerta em caso de perigo iminente, por isso é natural em situações adversas o aparecimento da ansiedade”, comenta. Bastante presente nas reclamações recebidas pelos serviços de saúde, a ansiedade, classificado por especialistas como um mal dos tempos modernos, só é caracterizada como patologia quando é constante e gera um desconforto paralisante. “Podemos classificá-la como patológica quando há uma resposta inadequada ao estímulo, ou ainda, quando sua intensidade ou duração é exacerbada”, explica.
Nem sempre é transtorno
Como a psicóloga Juliana enfatiza, a ansiedade somente se manifesta de forma patológica quando ocorre sem causa aparente ou mesmo com estímulo, mas com uma reação desproporcional e com intensidade elevada. “A pessoa sente alto nível de sofrimento e apresenta baixa capacidade de tolerá-lo, as crises tem duração persistente e recorrente e o comportamento da pessoa normalmente é desajustado ao contexto”, acrescenta.
Identificando a causa
Apesar de ser bastante comum, a ansiedade não tem uma causa comum a todo indivíduo. Podendo surgir a partir de alguma doença orgânica ou, especialmente, de problemas emocionais, a ansiedade depende, na maioria das vezes, da importância que cada ser humano deposita em uma situação. “A ansiedade pode ser um sintoma não específico decorrente de causas relacionadas às situações pontuais de ordem emocional, ou ainda, pode ter origem em alguma doença orgânica, pois várias condições clínicas podem apresentar ansiedade associada. Por exemplo, condições neurológicas, uso de substâncias ou até intoxicações, abstinência, condições cardiovasculares e circulatórias, condições infecciosas, endócrinas e metabólicas”, enumera.
Tratamento
Ainda que se saiba a causa da ansiedade, o diagnóstico clínico é essencial para entender de forma completa o sintoma para, então, iniciar um tratamento. “O tratamento é definido a partir de diagnóstico específico e avaliação psicodinâmica, desta forma o tratamento é planejado de forma individual, e conta com intervenções de apoio psicológico, psicoterapia, terapia ocupacional, medidas ambientais e psicofarmacológicas”, coloca e ressalta que o contato com os profissionais da saúde é o que pode ajudar a compreender a ansiedade e colaborar com a percepção do paciente a cerca do sintoma. “O diagnóstico de transtorno de ansiedade é feito por profissionais da saúde, especialmente o psiquiatra. Desta forma, a pessoa deve buscar avaliação de saúde mental ao perceber-se com vivência de ansiedade com intensidade exacerbada e de importante duração”, orienta.
Controle sua ansiedade
Sabendo que a ansiedade nem sempre é um problema patológico, é possível, assim, compreender que o sintoma, ainda que normal, pode ser controlado de alguma forma. “Através do autoconhecimento a pessoa poderá ter maior entendimento quanto às causas desencadeadoras de crises de ansiedade, através da compreensão e aceitação de sua condição, é possível ampliar sua consciência subjetiva e adquirir recursos para suportar os sintomas da ansiedade. Além da manutenção efetiva dos tratamentos indicados, quando se tratar de transtorno de ansiedade”, conclui a psicóloga. Há, também, algumas dicas importantes para controlar o sentimento:
- Opte pelo natural: alimentos como maracujá, chás e alface (sim!) podem colaborar para dar a sensação de calma e leveza;
- Relaxe: tome um banho morno e tente desligar a mente da rotina corrida do dia a dia;
- Respire fundo: controle sua respiração de forma calma e profunda;
- Pensamento positivo: pode parecer bobagem, mas se preocupar com o futuro ou com o lado negativo de tudo só vai te ajudar a ficar ainda mais ansioso, tente pensar no presente e de forma positiva;
- Ocupe-se: encontre um hobby, uma atividade, um esporte ou algo que te deixe bem e invista seu tempo livre nisso.
Identificando os sintomas
Sintomas Físicos |
Sintomas Psicológicos |
Enjoo e vômitos |
Agitação e balanço das pernas e dos braços |
Tontura ou sensação de desmaio |
Nervosismo |
Falta de ar ou respiração ofegante |
Dificuldade de concentração |
Dor ou aperto no peito e palpitações no coração |
Preocupação |
Dor de barriga, podendo ter diarreia |
Medo constante |
Roer as unhas, sentir tremores e falar muito rápido |
Sensação de que algo ruim vai acontecer |
Tensão muscular, causando dor nas costas |
Descontrole sobre os próprios pensamentos |
Irritabilidade e dificuldade para dormir |
Preocupação exagerada em relação à realidade |
- Colaborou a psicóloga Juliane Disegna Fraporti, Psicóloga Clínica no Hospital da Cidade de Passo Fundo e Preceptora do Programa de Residência Multiprofissional HC/UPF/SMS. Pós-Graduada com Residência Multiprofissional Integrada em Saúde pela ISCMPA/UFCSPA.