Muito além do esquecimento

Sem fatores específicos, a Doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência em indivíduos com mais de 60 anos

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Descrita pela primeira vez por Alois Alzheimer em 1907, a Doença de Alzheimer é uma doença neurológica degenerativa e progressiva que se manifesta por deterioração da cognição e memória mais especificamente, alteração progressiva das atividades de vida diárias e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e distúrbios comportamentais.
Em função do envelhecimento da população mundial, o nível de pessoas afetadas por demência vem crescendo de forma significativa. As estimativas indicam que em 2025 o número de pessoas com demência no mundo seja de 34 milhões. Hoje, cerca de 15 milhões de pessoas tem Doença de Alzheimer e a previsão é que o número aumente principalmente em países em desenvolvimento, entre eles o Brasil que hoje tem, segundo o IBGE, cerca de 1,2 milhão de pessoas com a doença.
As preocupações se voltam para o Alzheimer por ser uma doença do cérebro incurável degenerativa que compromete de forma lenta e progressiva funções cerebrais como linguagem, memória, cálculo e comportamento. Muito além do simples esquecimento, com o tempo, a pessoa com Alzheimer tem sua independência reduzida, precisando de auxílio e cuidados intensivos para executar atividades diárias. Por isso, diagnosticar precocemente a doença é uma das formas mais eficazes de garantir melhor qualidade de vida à pessoa e à família.

Dificuldades iniciais
De acordo com o Neurologista e Neurofisiologista do Hospital da Cidade, Daniel Lima Varela, o início da doença acontece de modo insidioso e a percepção de que algo está errado vai depender da demanda do paciente, mas os primeiros sintomas são relacionados a dificuldades cognitivas, em particular a memória, percepção de perda da eficiência da memória pela própria pessoa ou principalmente pelos que com ela convivem. “Os pacientes tornam-se típicos contadores de histórias ocorridas no passado, repetitivos. Às vezes o início é mais agudo, com agitação ou delírio após uma cirurgia ou outro evento traumático”, explica o médico.
No caso de atividades executivas, é comum que tomadas de decisão, planejamento, execução e seu monitoramento fiquem prejudicados e, muitas vezes, pessoas com DA podem apresentar alteração de comportamento de forma precoce, como por exemplo, depressão, disforia, irritabilidade, apatia e alterações de sono.

Com o aumento substancial da expectativa de vida da população mundial verificado nas últimas décadas, a doença de Alzheimer tornou-se um sério e importante problema de saúde individual e coletiva. A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência em indivíduos com mais de 60 anos, mas também em pessoas que se encontram abaixo desta idade. A causa é desconhecida, mas acredita-se que seja geneticamente determinada.

Alguns sintomas iniciais da Doença de Azheimer:
• falta de memória para acontecimentos recentes;
• repetição da mesma pergunta várias vezes;
• dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;
• incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
• dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;
• dificuldade para encontrar palavras que exprimam idéias ou sentimentos pessoais;
• irritabilidade, desconfiança injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.

Diagnóstico e prevenção
Apesar de ser uma doença sem uma causa completamente específica, sabe-se que o Alzheimer é uma doença heterogênea e de causa multifatorial. Entretanto, o envelhecimento é apontado como o principal fator de risco. Outros possíveis fatores são baixa escolaridade, traumatismos cranianos prévios, síndrome de Down e aqueles relacionados à doença vascular como hipercolesterolemia, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, obesidade, diabetes mellitus, aterosclerose e doença coronariana.
Segundo Varela, o diagnóstico é essencialmente clínico. “Uma história clínica associada ao exame clínico, neurológico e psiquiátrico”. Além disso, deve-se sempre excluir outras causas de demência, como hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, insuficiência renal, insuficiência hepática, alcoolismo, AVC, doenças infecciosas (sífilis e AIDS principalmente), lesões encefálicas pós traumáticas e a hidrocefalia de pressão normal .
Os principais testes de rastreio são o Mini-exame do estado mental (mini mental), o teste do relógio e a avaliação da fluência verbal. “Uma avaliação neuropsicológica mais específica auxilia muito na avaliação das demências, especialmente em casos mais precoces, para auxiliar na diferenciação das diferentes demências e avaliação de outros possíveis diagnósticos neuropsiquiátricos associados ou causadores da deterioração cognitiva”, destaca.
Para retardar o aparecimento da doença, o neurologista recomenda iniciar pelas medidas não farmacológicas – segundo ele as mais importantes – , ou seja, os hábitos de vida. Os principais são: atividade física regular, alimentação saudável, o cuidado com o peso corporal, dormir bem, ginástica cerebral – especialmente o hábito regular da leitura. “É muito importante ressaltar que até o momento não existe um tratamento específico ou preventivo para a doença de Alzheimer, embora existam estudos em andamento”, frisa.

Tratamento
A doença é incurável. O objetivo do tratamento é retardar a evolução e preservar por mais tempo possível as funções intelectuais. Os melhores resultados são obtidos quando o tratamento é iniciado nas fases mais precoces.
A fim de minimizar os distúrbios associados à doença, o médico destaca a união de quatro aspectos: o tratamento farmacológico, o tratamento não farmacológico – inclui orientação nutricional, fisioterapia, atividade física orientada, terapia de reabilitação cognitiva, prevenção de riscos -, o tratamento multidisciplinar e atenção ao cuidador. “O tratamento farmacológico específico disponível até o momento inclui a inibição da enzima acetilcolinesterase (Rivastigmina, Donepezila e Galantamina), e a inibição glutamatérgica (Memantina).Além destes fármacos específicos, utiliza-se outros com o objetivo de controlar demais sintomas que podem vir associados à DA, como alterações comportamentais – agitação, agressividade, alteração do sono, crises convulsivas, entre outros”, comenta.
Os objetivos do tratamento da Doença de Azheimer são desacelerar o declínio cognitivo; controlar o comportamento; reduzir o declínio funcional; garantir a saúde do cuidador; manter o nível mais alto de função possível; e permitir a família escolher o melhor caminho de cuidados.
Numa doença que é progressiva nem sempre é fácil avaliar resultados. Por essa razão, é fundamental que os familiares utilizem um diário para anotar a evolução dos sintomas. A memória está melhor? Os afazeres diários são cumpridos com mais facilidade? O quadro está estável? O declínio ocorre de forma mais lenta do que antes da medicação? Sem essas anotações fica impossível avaliar a eficácia do tratamento.
Uma vez iniciado, o tratamento precisa ser reavaliado pelo médico ao completar um mês, mas deve ser mantido obrigatoriamente por um período mínimo de 3 a 6 meses, para que se possa ter idéia da eficácia. Enquanto a resposta for favorável, o medicamento não deve ser suspenso, sendo fundamental a tomada diária nas doses e observar os intervalos prescritos. A administração irregular compromete o resultado.

Em 21 de setembro de 1994 foi instituído o Dia Mundial do Alzheimer pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ppor isso, ao longo de todo o mês de setembro, diversos órgãos e instituições do Brasil realizam a campanha Setembro Lilás, caraterizada por integrar ações que visam promover os cuidados com a saúde dos idosos e informar sobre a Doença de Alzheimer.

Qual é a diferença entre Alzheimer e Parkinson?
A Doença de Alzheimer é uma doença neurológica degenerativa e progressiva que se manifesta por: deterioração da cognição e memória mais especificamente; alteração progressiva das atividades de vida diárias; variedade de sintomas neuropsiquiátricos e distúrbios comportamentais.
É a doença neurodegenerativa mais prevalente na atualidade. Em nível microscópico, ocorre a deposição de Placas senis ou neuríticas e de Emaranhados neurofibrilares, Degeneração dos neurônios e sinapses e Atrofia cerebral.
A degeneração progressiva dos neurônios e sinapses estão relacionadas à diminuição do neurotransmissor acetilcolina. Acetilcolina é um importante neurotransmissor cerebral envolvido na memória em determinadas regiões cerebrais, como Hipocampo, córtex cerebral e amígdala.
A Doença de Parkinson é uma desordem neurodegenerativa progressiva caracterizada por lentidão de iniciação, redução progressiva da velocidade e amplitude dos movimentos sequenciais, rigidez muscular e tremor de repouso grosseiro, lento, de rolar pílulas.É a segundasdoença neurodegenerativa mais comum na atualidade.
A assinatura patológica mais frequentemente associada com esta condição clínica é a grave perda de neurônios pigmentados na camada ventrolateral da pars compacta na substância negra com a presença de inclusões de α sinucleína imunorreativas (corpos de Lewy).

Colaborou:
Daniel Lima Varela - Neurologista e Neurofisiologista. Professor de Neurologia do Curso de Medicina da IMED. Preceptor da Residência Médica em Neurologia da UFFS / Hospital da Cidade de Passo Fundo/ Hospital São Vicente de Paulo e Neurocirurgia da UFFS

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