No quarto 309, amor não falta. Vaidade também não. De unha pintada e brincos nas orelhas, a pequena Yasmin, de três anos, posa às fotos da reportagem de ON. Além do carinho que recebe da mãe, outra substância é fundamental para o tratamento, pelo qual passa há pouco mais de oito meses. Ela tem neuroblastoma, câncer que atinge as glândulas suprarrenais e pode ser desenvolver na barriga, peito, pescoço, pélvis e ossos. A cada 15 dias ela vai, acompanhada pela mãe Maite Migliorini da Silva, até o quarto andar do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP). Ali, ela faz quimioterapia e como efeito do tratamento, sofre uma queda na imunidade. É quando ela conta com a solidariedade de quem é doador de sangue.
A mãe, que se dedica exclusivamente ao tratamento da filha, resume: “a doação de sangue salva vidas”. O sangue que é recebido no sexto andar do hospital também possibilita o tratamento do Lorenzo, de três anos. Ele está há aproximadamente um mês em tratamento contra leucemia. Quase todos os dias ele recebe plaquetas. Os pais, Rubia Kummer e Roberto Abati, enfatizam a mesma resposta de Maite. “Depois que a gente precisa, percebe como é importante doar”, diz Abati.
Entre receptores, familiares, doadores e funcionários da instituição, há o consenso e a consciência deste gesto que dura minutos para chegar a bolsa de sangue e se transforma em anos de vida, já em outro corpo. Foi com este propósito que o casal de vendedores Franciele Wegler e Tiago da Rocha foram até o Serviço de Hemoterapia no início da tarde desta quinta-feira (24). O sangue doado por eles, será encaminhado a uma familiar de Tiago que passou por procedimento cirúrgico. Ambos já haviam doado sangue em ocasiões anteriores. “É um gesto de amor e que salva vidas”, ressalta o vendedor.
As palavras da assistente social Larisa Schons são cheias de gratidão ao casal e a todas as outras pessoas que doam vida. “Queremos agradecer a todos os nossos doadores de sangue pelo seu gesto de solidariedade e amor ao próximo. Sem a doação, muitas vezes, não teríamos como ajudar os pacientes que necessitam de transfusão para o tratamento e recuperação de sua doença ou cirurgia”, explana. O casal compõe o índice dos 1,8% da população brasileira que atualmente doa sangue. Embora o percentual esteja dentro dos parâmetros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de que pelo menos 1% da população seja doadora de sangue, os órgãos de saúde trabalham constantemente para aumentar o índice.
Em 2015, cerca de um milhão de pessoas doaram sangue pela primeira vez, o que representa 38% do total das doações. Já outras 1,6 milhão de pessoas, ou 62% do total, retornaram para doar. Durante o período, foram realizadas 3,7 milhões de coletas de bolsa de sangue no País, resultando em 3,3 milhões de transfusões.
Alerta constante
A média é de 40 doadores por dia no HSVP. Porém, a demanda é de pelo menos 50 doações por dia. No Hemopasso não é diferente. Em meses normais são registradas entre 40 a 50 doações por dia.e em épocas de queda, alguns dias variam entre 13 a 20 doações por dia. O ideal seria ter 70 doações por dia para que pudesse se trabalhar com tranquilidade e sem estar com o alerta ligado, de acordo com a coordenadora de captação do Hemopasso, Alexandra Mazzoca.
A assistente social ressalva que em época de férias, as doações caem. “No início do mês houve queda nas doações e a tendência é haver uma redução maior em função do período de férias que se inicia”, alerta Alexandra. O Hemopasso antede 139 municípios e grande parte dos doadores vêm de municípios vizinhos. “Para manter o estoque, trabalhamos com a unidade móvel e atendimento especial nos dias festivos. Hoje o estoque está estável, mas estamos sempre com o sinal de alerta ligado. Nunca sabemos ao certo qual vai ser a demanda”, afirma a coordenadora.
Dia do doador de sangue
Nesta sexta-feira (25), é comemorado o Dia Nacional do Doador de Sangue. O Hemopasso atende de segunda a sexta-feira, das 8h às 13h30, e aos sábados das 7h às 11, mediante agendamento pelo telefone (54) 3311-5555 Já o Serviço de Hemoterapia do HSVP atende das 8h às 14h, de segunda a sexta-feira. Para comemorar o data, as duas instituições tiveram atividades ao longo da semana. O Hemopasso trabalhou com a semana do doador e estendeu o horário de atendimento até às 17h, nesta quinta-feira (24). A comemoração foi antecipada em parceria com o Sest-Senat e Associação dos Reservistas de Passo Fundo. Já no HSVP, haverá recepção diferenciada nesta sexta-feira para quem doar sangue. Quem anima a comemoração da data é o mascote Hemozito. A assistente Larissa faz o convite para que as pessoas doem sangue e “façam o bem sem olhar a quem”.
Quem pode doar
No Brasil, pessoas entre 16 e 69 anos podem doar sangue. Para os menores (entre 16 e 18 anos), é necessário o consentimento dos responsáveis, e entre 60 e 69 anos a pessoa só poderá doar se já o tiver feito antes dos 60 anos. É preciso pesar, no mínimo, 50kg e estar em bom estado de saúde. O candidato deve estar descansado, não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação, não fumar e não estar de jejum. No dia da doação, é imprescindível levar documento de identidade com foto.