Nem todas as transformações são fáceis. No caso da menopausa, a maioria das mulheres, além de muitas mudanças, também sofre com as incertezas e os sintomas nem sempre tão simples de se conviver. Do calor insuportável a uma tristeza muitas vezes sem motivos, a menopausa, mais do que um período de transição na vida de uma mulher, é também um momento de olhar para si, já que em cada mulher ela se manifesta de maneiras diferentes. Muito diferentes!
“Em torno de 20% das mulheres não tem sintoma algum, já em outros 20% eles podem durar até os 80 anos”, esclarece a médica coordenadora do Ambulatório de Menopausa do Hospital São Vicente de Paulo, Karen Oppermann Lisbôa. Segundo a médica, de maneira geral, os sintomas duram em torno de cinco anos e são diversos, incluindo-se os famosos e desagradáveis fogachos (calorões, sufocos), sudorese, insônia, irritabilidade, cansaço, nervosismo, tristeza, dor de cabeça, secura vaginal, dor na relação sexual, e distúrbios urinários. “Os sintomas são chamados de climatério, ou, sintomas climatéricos, e esse tempo de persistência de sintomas é bastante variável. De uma forma geral são mais intensos nos cinco primeiros anos. Mas é individual. Cada mulher tem o seu período com sintomas diversos, alguns muito desagradáveis e difíceis de conviver e outras mulheres apresentam sintomas leves que cessam com o tempo”, explica.
>O que é menopausa?
A menopausa é a última menstruação da mulher. “Para se dizer que a mulher está/teve a menopausa, deve-se aguardar 12 meses de ausência de menstruação. Esse período é chamado perimenopausa”, explica a médica.
Esse período acontece por volta dos 52 anos e os sintomas climatéricos, que são dependentes da diminuição da produção hormonal, em especial do estradiol, podem iniciar anos antes ou mesmo anos depois da menopausa, dependendo de cada mulher.
Mais do que sintomas físicos
Muito além de calorões e insônia, a menopausa é também sinônimo de grande enfrentamento emocional para as mulheres. Segundo Karen, se os sintomas vierem associados ao sentimento de a mulher não ser mais ela mesma é um período muito difícil na vida de uma mulher. “Associado a essa ‘tristeza da mudança reprodutiva’, encontram-se noites mal dormidas, o cansaço, a sensação de angústia diária, e isso tudo naturalmente acaba abalando o emocional. Além da menopausa e todos esses sintomas decorrentes da falta de hormônios, há a idade”, destaca. Para ela, infelizmente, ainda há o preconceito de que as mulheres que chegaram aos 50 anos estão envelhecidas. “Na nossa cultura, o envelhecimento é considerado algo ruim. Não concordo nem com uma nem com outra coisa. Nem acho que os 50 anos são marcos de envelhecimento, muito menos que o envelhecimento tenha que ser ruim. Pode-se viver muito bem a segunda etapa de vida, como costumo combinar com as pacientes!”.
Para evitar que esse período seja tão complicado, Karen recomenda algo simples: comer bem, de forma saudável, não fumar, fazer exercícios com regularidade. “Isso para todos nós, homens e mulheres!”, lembra a médica que também recomenda que a mulher busque um médico de confiança para quem possa contar todos os seus sintomas, suas angústias, dúvidas e fantasias. “Dúvidas devem ficar esclarecidas e muito deve ser conversado. Exames físicos e laboratoriais específicos para essa fase também são importantes, assim o médico vai poder escolher a melhor terapêutica para aquele momento! O tratamento costuma ser modificado ao longo do tempo, por isso exames e consultas rotineiras são fundamentais. Reforçando: viver bem e saudável para se aproveitar a segunda etapa de vida!”, enfatiza.
>Como é feito o tratamento para menopausa
Existem dois tipos de tratamentos usados para amenizar os sintomas da menopausa: a terapia hormonal da menopausa e os tratamentos não hormonais. Karen explica que a terapia hormonal de reposição, hoje chamada de terapia hormonal da menopausa, é basicamente composta pelo hormônio feminino estrogênio. No caso de mulheres que não retiraram o útero, a médica ainda recomenda que seja receitado o progestogênio. Há ainda o caso de algumas pacientes que têm a necessidade de reposição de androgênios.
Entretanto, assim como qualquer tratamento, a terapia hormonal tem alguns riscos. “Os principais riscos do uso de hormônios são tromboembolismo, e câncer de mama”, explica. Para diminuir esses riscos, Karen ressalta que a escolha do tipo de hormônios, a via de uso e exames rotineiros com seu médico, são essenciais.
Já os tratamentos não hormonais são recomendados para pacientes que apresentarem contraindicações ao uso de hormônios (para isso é fundamental que a paciente seja examinada pelo seu ginecologista), como por exemplo, no caso de pacientes que tiveram câncer de mama, há possibilidade de tratar com outros tipos de medicações.
Entrevista
Medicina&Saúde - Na menopausa a mulher fica mais suscetível a outras doenças?
Karen Oppermann Lisbôa - Sim. Há aumento de gordura abdominal, que está associada a risco cardiovascular. Também pela diminuição do estrogênio, há um maior risco de infarto, osteoporose. A mulher além da menopausa tem o envelhecimento natural que contribui a outros riscos: sedentarismo aumento de peso, depressão. Eu vejo esse período como uma oportunidade da mulher revisar vários aspectos que compõe a saúde e iniciar uma nova etapa!
Medicina&Saúde - Muitas mulheres se queixam de falta de libido na menopausa? Como lidar com isso?
Karen Oppermann Lisbôa - Sim, muitas. É bastante frequente essa queixa. Na mulher, a libido e o prazer sexual dependem de vários aspectos. A mulher deve estar descansada, com boa autoestima, se achando feminina e atraente, ativa, valorizada, e com a genitália bem hidratada e assim responsiva às carícias. Os hormônios de uma forma geral auxiliam bastante. Mas não são os únicos a serem tratados.
Medicina&Saúde – O que é menopausa precoce?
Karen Oppermann Lisbôa -É a parada da menstruação antes dos 40 anos. Deve-se ficar atento para aquelas mulheres que após os 35 anos iniciem a ter menstruações infrequentes. Devem ser investigadas para a possibilidade de menopausa precoce.
Estudo
Karen participou no início deste mês, do Congresso Mundial de Menopausa (15th World Congress on Menopause) em Praga, República Tcheca, onde apresentou dois trabalhos. Os estudos se originaram do rastreamento de um grupo mulheres passo-fundenses que estão em acompanhamento há 20 anos. Como o grupo de pacientes é uma amostra de todas as mulheres da cidade, seus achados despertam muita curiosidade. Os trabalhos apresentados foram relacionados ao uso de hormônios e sua influência nos riscos cardiovasculares entre mulheres na pós-menopausa recente, definidas como aquelas com até 10 anos após a última menstruação.
A especialista explica que um dos estudos demonstrou que nas mulheres que usaram hormônios para diminuir os sintomas climatéricos apresentaram menos placas de calcificação nas coronárias, sugerindo que haveria uma diminuição do risco para infarto. Ainda, segundo ela, o outro estudo mostrou que após 10 anos de uso de hormônios, as mulheres não aumentaram a circunferência abdominal, ponto positivo já que, a gordura nessa localização é prejudicial para a saúde. Estes resultados foram obtidos através do trabalho conjunto de alunos da Faculdade de Medicina e colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Mariana Sgnaolin, Giovanni Zin, Bernardo Oppermann Lisbôa, Verônica Colpani e Poli Mara Spritzer.
Colaborou:
Karen Oppermann Lisbôa - Professora de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo e Coordenadora do Ambulatório de Menopausa do Hospital São Vicente de Paulo