As condições e os riscos causados pelo parto domiciliar ainda são motivo de debate. No mês passado, um episódio causou polêmica. No município de Ponta Grossa, interior do Paraná, uma menina recém-nascida faleceu, depois de um parto realizado a domicílio, por causa de uma parada cardiorrespiratória logo após o procedimento. Fato que aumentou a preocupação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS).
Em recomendação estabelecida no ano de 2012, o Conselho Federal de Medicina (CFM) alerta médicos e pacientes que o parto deve ocorrer, preferencialmente, em ambiente hospitalar por ser mais seguro. Em documento oficial o CFM afirma que: “o falso antagonismo entre o parto domiciliar e o parto hospitalar ofusca uma preocupação real: a preservação da vida da vida e do bem estar da gestante”.
O último estudo realizado sobre o tema, em dezembro de 2015, publicado pelo New England Journal Medicine, concluiu que a chance dos bebês nascidos por parto domiciliar falecerem é de 2,4 maior comparado com aqueles que nascem dentro do ambiente hospitalar. Ainda conforme a pesquisa, cerca de 1000 partos planejados para ocorrem fora do hospital, 3,9 das crianças morrem no parto ou no primeiro mês de vida. Já dentro dos hospitais, o percentual cai para 1,8 a cada 1000.
Para o diretor da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (SOGIRGS) e obstetra, Gustavo Steibel, o parto domiciliar se torna perigoso também pelo tempo de locomoção da paciente até ao hospital. “As complicações hemorrágicas que podem acontecer logo após o nascimento do bebê, associada à falta de um acesso rápido a um hospital pode ser fatal para a mãe, assim como a impossibilidade de realização de uma cesárea de urgência. Caso necessária, pode colocar em risco a saúde do feto”, afirma.
O parto domiciliar é uma prática bastante utilizada em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, apesar de já estar sendo contestada justamente pela insegurança a que a mãe e a criança são submetidas. Sobre isso, Steibel explica que a estrutura dos países é diferente, portanto é importante olhar de forma atenta para a realidade brasileira. “No geral, parto domiciliar é temerário no mundo inteiro, e nesses países em que a prática é mais comum, os partos ocorrem em casas de parto próximas ao hospital. Ou seja, o deslocamento leva menos tempo, além da estrutura ser melhor. Porém, temos que analisar a nossa realidade. Aqui no Brasil, não é aconselhável também por causa da nossa infraestrutura precária”, analisa o diretor da SOGIRGS.
Tempo de locomoção até o hospital é fator de risco para parto domiciliar
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