Quando a gripe resolve aparecer, a receita do chá ensinado pela avó parece ser o único remédio capaz de aliviar os sintomas e, pouco a pouco, fazê-los desaparecer. E se, por acaso, surgirem dores que não são relacionadas à gripe, uma mistura de outras plantas é capaz de resultar em outro chá que, da mesma forma, alivia os sintomas. No fim, parece que a sua avó - ou avô, ou mãe, ou aquela vizinha que parece entender quase tudo - sabe exatamente o quê usar e quando usar. Pode até parecer uma espécie de superstição, mas não é: a medicina alternativa - ou terapia alternativa - ganha cada vez mais adeptos em todo o mundo porque é baseada em propriedades naturais encontradas, em sua maioria, nas plantas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% das pessoas utilizam métodos alternativos no primeiro estágio de manifestação de enfermidades. O dado permite compreender a necessidade de orientação quando se trata de medicina alternativa e da utilização das plantas como remédio. Ainda de acordo com a OMS, muitas terapias alternativas – como a acupuntura ou o uso de plantas medicinais, por exemplo - tiveram benefícios reconhecidos cientificamente. Porém, precisam ser tratadas com as mesmas precauções da medicina convencional.
Plantas como remédio
Além dos dados apresentados pela OMS, o Ministério da Saúde indica, também, que entre os anos de 2013 e 2015, a busca por tratamentos à base de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos - remédios que utilizam apenas derivados de plantas em sua composição - pelo Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu 161%. A cada ano, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que completou 10 anos em 2016, beneficia cerca de 12 mil pessoas que utilizam medicamentos fitoterápicos industrializados ou manipulados, drogas vegetais e plantas medicinais frescas.
A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos tem como objetivo “garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”, descreve o documento.
Além da Política Nacional, que permite que o SUS ofereça o serviço, há, também, outras formas de se inserir na medicina alternativa. Uma delas é através da Pastoral da Saúde que, em sua essência, é um organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que desenvolve atividades nas Arquidioceses e Dioceses do país. Trabalhando na dimensão comunitária, a Pastoral da Saúde busca a prevenção de doenças através da valorização da sabedoria popular em relação à saúde.
Ou seja: se dispõe a colaborar na compreensão das propriedades das plantas medicinais enquanto alternativa para a cura de doenças e enfermidades. Leontina Colussi, que atua há bastante tempo junto à Pastoral, na paróquia São Vicente de Paulo, acredita que a utilização de plantas como remédios possibilita uma melhor compreensão da saúde. No entanto, orienta para a correta utilização. “Antes de colher as ervas, sempre é preciso saber para quê se vai usar e porquê vai usar. Por que vamos colher? Precisamos saber. E, também, é preciso saber a época em que se vai usar cada planta para melhor utilizar aquilo que ela oferece”, explica.
Leontina acrescenta que as plantas podem ser utilizadas para a produção de chás, de xaropes, pomadas ou, ainda, para a coleta do extrato da planta. “Essa medicina alternativa dá muito resultado. Os remédios que se produzem a partir das plantas são eficientes, já comprovamos isso. É importante utilizar remédios naturais. Ajuda as pessoas e estamos disponíveis para isso, para fortalecer a saúde. Se podemos ajudar, por que não? É uma caminhada. Sempre tem novidade. Por isso temos que estudar as plantas. O nosso estudo é voltado para a medicina popular”, comenta.
Medicina alternativa x Medicina convencional
Quando o assunto é a relação da medicina alternativa com a medicina convencional, Leontina é enfática: é preciso estar atento e, sempre que possível, consultar um médico. “Sempre orientamos para consultar um médico. Os chás também são remédios e têm contra indicações. São usados como remédio, então é preciso orientação porque, como qualquer medicamento, pode ter efeitos colaterais, dependendo do organismo de cada pessoa”, completa.
Entenda o uso das plantas
Leontina explica que, com o passar do tempo, vai se descobrindo a potencialidade de cada planta e, por isso, para cada enfermidade existe uma erva que é melhor indicada. Assim, a Pastoral da Saúde vê nos chás e na utilização das diferentes partes da planta, uma forma eficaz de prevenir doenças e de promover e buscar a saúde de forma integral. Abaixo, ela lista algumas das principais plantas utilizadas e qual a sua indicação.
Dor: capim cidreira; laranjeira; bálsamo; mil em rama, espinheira-santa, bardana.
Digestivas: marcela; manjerona (que é condimento, mas que também se usa como chá); alecrim.
Anti-gripais: funcho; laranjeira; malva; hortelã; guaco; gengibre; poejo; mil em rama.
Anti inflamatórias: melissa; malva; babosa; hortelã; sálvia; boldo; maracujá; calêndula.
Cicatrizantes ou lesões na pele: malva; bardana; calêndula; espinheira-santa; quebra-pedra; gengibre; chapéu-de-couro.
Estimulantes: alecrim; gengibre; bardana.
Sangue: espinheira-santa.
Diuréticas: cavalinha; quebra-pedra; pata de vaca; salsa; amora branca; dente de leão.
Os fitoterápicos mais utilizados na rede pública são o guaco, a espinheira-santa e a isoflavona-de-soja, indicados como coadjuvantes no tratamento de problemas respiratórios, gastrite e úlcera e sintomas do climatério, respectivamente.
Medicina alternativa no SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, também, terapias alternativas: meditação, arteterapia, reiki, musicoterapia, tratamento naturopático, tratamento osteopático e tratamento quiroprático são oferecidas por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Assim, o Ministério da Saúde reconhece oficialmente a importância das manifestações populares em saúde e a chamada medicina não convencional, considerada como prática voltada à saúde e ao equilíbrio vital do homem. Ainda, atualmente, o SUS oferta doze medicamentos fitoterápicos. Eles são indicados, por exemplo, para uso ginecológico, tratamento de queimaduras, auxiliares terapêuticos de gastrite e úlcera, além de medicamentos com indicação para artrite e osteoartrite.
Pastoral da Saúde
Na Arquidiocese de Passo Fundo, a Pastoral da Saúde foi fundada em junho de 1975 e atuava como Pastoral Hospitalar no Hospital São Vicente de Paulo. Mais tarde, a Pastoral iniciou o trabalho domiciliar. Hoje, várias paróquias atuam junto à Pastoral através de três dimensões: solidária (que busca ser presença junto aos enfermos nas instituições de saúde, na família e na comunidade); comunitária (que via a promoção da saúde e atua na prevenção de doenças através da valorização da sabedoria popular em relação à saúde) e dimensão político-institucional (que atua junto aos órgãos e instituições públicas e privadas). “Trabalhamos com alternativas de saúde, por exemplo, focamos na área da alimentação, orientando sobre a importância da boa alimentação, trabalhamos com a medicina alternativa, com remédios caseiros, temos pomadas, xaropes e essências alternativas. Temos, ainda, a terapia alternativa”,resume Leontina.