Criado em 2005 pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) - organização não governamental que une a comunidade internacional com o objetivo de reduzir a carga global do câncer, para promover uma maior equidade, e para integrar o controle da doença na saúde mundial e na agenda de desenvolvimento -, o Dia Mundial do Câncer é celebrado nesta sábado (04) e tem como objetivo aumentar a conscientização sobre a doença, que mata 8,3 milhões de pessoas por ano no mundo.
O tema escolhido pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) para a campanha de 2017 é o câncer infantojuvenil, principal causa de morte por doença em crianças e adolescentes no Brasil. A campanha alerta a população sobre os sinais e sintomas e a importância do diagnóstico precoce. Cerca de 80% das crianças e adolescentes acometidos de câncer podem ser curados se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.
Apesar de ser um tema recorrente, o câncer ainda provoca muitas dúvidas e a falta de informação, principalmente a respeito de questões como prevenção e diagnóstico precoce, pode ser um dos maiores problemas enfrentados por médicos e pacientes. Para esclarecer algumas das principais questões relacionadas ao tema, o caderno Medicina&Saúde conversou com a coordenadora médica do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital da Cidade, Júlia Pastorello. Confira a entrevista:
Medicina&Saúde - O câncer segue sendo uma das doenças que mais matam no mundo. Por que é tão difícil tratá-lo ou mesmo encontrar uma cura definitiva?
Júlia Pastorello - Estamos diante de uma doença pleomórfica e complexa, representada por um conjunto de mais de 100 tipos diferentes de câncer com vários fatores influindo na sua gênese e tratamento, vamos encontrar a cura para muitos tipos da doença, porém para outros as perspectivas atuais são menos promissoras.
Medicina&Saúde - Qual o cenário da pesquisa sobre câncer hoje no país?
Júlia Pastorello - São necessárias medidas para melhoria na estruturação dos sistemas de pesquisa, produzimos um número limitado de literatura a respeito e infelizmente as instituições de ensino possuem pouco incentivo para realizar pesquisas de maior impacto na área.
Medicina&Saúde - Muito se fala em prevenção, é possível evitar o câncer?
Júlia Pastorello - Sim! O reconhecimento de fatores ligados aos nossos hábitos de vida como nocivos a saúde, além da conscientização da necessidade dos exames de rastreio indicados conforme idade e fatores genéticos previnem o desenvolvimento de muitas neoplasias.
Medidas de controle da utilização crônica de bebidas alcoólicas e tabagismo, exposição a poluentes, radiação ultravioleta e agrotóxicos, alimentação inadequada e sedentarismo impactam positivamente na diminuição dos diagnósticos de câncer.
Medicina&Saúde - Hoje, quais são os tipos de câncer de maior incidência no Brasil?
Júlia Pastorello - O tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos é o de pele não melanoma, para os homens, os cânceres mais incidentes são os de próstata, pulmão, cólon e reto.
Entre as mulheres, as maiores incidências são de cânceres de mama, cólon e reto e colo do útero.
Medicina&Saúde - Quais são os principais mitos e verdades que você observa no dia a dia a respeito do câncer?
Júlia Pastorello - São inúmeros, os principais mitos são que o câncer ou o tratamento seja contagioso a outras pessoas, que o tumor posso ter se originado de um trauma no local acometido, o contato com telefones celulares ou antenas de transmissão de energia possam originar a doença, ingestão de leite ou adoçantes dietéticos prejudica o tratamento ou que implantes de silicone podem causar câncer.
As verdades, quanto mais precoce o diagnóstico maior a chance de cura, mesmo doença considerada avançada possui cura em algumas situações, manter a ingestão de bebidas alcoólicas e fumo durante o tratamento diminui a eficácia do mesmo, falta de higiene nas regiões genitais pode causar a doença.
Sobre o câncer infantojuvenil
No Brasil, o câncer é a principal causa de morte por doença em crianças e adolescentes, sendo superada somente pelos acidentes e mortes violentas. Entre 2009 e 2013, o câncer foi responsável por cerca de 12% dos óbitos na faixa de 1 a 14 anos, e 8% de 1 a 19 anos. No Brasil, foram registradas 2.724 mortes por câncer infanto-juvenil em 2014 (ano mais recente com informações compiladas).
O INCA estima a ocorrência de 12.600 novos casos de câncer na faixa etária de zero a 19 anos em 2017. O chamado câncer infanto-juvenil inclui, na verdade, vários tipos de câncer. As leucemias representam o maior percentual (26%), seguida dos linfomas (14%) e tumores do sistema nervoso central (SNC) (13%).
As diferenças entre os cânceres infantis e de adultos consistem principalmente nos aspectos morfológicos (tipo do tumor), comportamento clínico (evolução) e localizações primárias. Nas crianças e nos adolescentes, a neoplasia geralmente afeta as células do sistema sanguíneo, o sistema nervoso e os tecidos de sustentação. Nos adultos, as células epiteliais, que recobrem os órgãos, são as mais atingidas. Enquanto o câncer no adulto apresenta mutações, geralmente em decorrência de fatores ambientais, no câncer pediátrico ainda não há estudos conclusivos sobre a influência desse aspecto.
Dados de um estudo sobre o panorama do câncer infantojuvenil1 divulgado pelo INCA e pelo Ministério da Saúde (MS) apontam que a sobrevida estimada no Brasil por câncer na faixa etária de zero a 19 anos é de 64%, índice calculado com base nas informações de incidência e mortalidade. O estudo apontou que a sobrevida varia de acordo com a região do País. Os índices são mais elevados nas regiões Sul (75%) e Sudeste (70%) do que no Centro-Oeste (65%), Nordeste (60%) e Norte (50%).
Colaborou
Júlia Pastorello - coordenadora médica do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital da Cidade.