Ingerir apenas proteínas, sopa ou somente frutas. A moda da dieta tem novidades a cada ano. Atualmente, a que desponta entre celebridades e pessoas comuns é o chamado jejum intermitente. Essa prática consiste em uma redução drástica de calorias ingeridas em um determinado período de tempo. O jejum pode ser de 10, 14 ou 16 horas. Alguns adeptos optam por comer pouco durante dois ou três dias na semana. Outros chegam a ignorar uma refeição por dia. Apesar de alguns estudos indicarem benefícios como um sono melhor, longevidade e a tão desejada perda rápida de peso, especialistas alertam para malefícios e problemas psicológicos que tais exageros podem desencadear.
Mesmo com supostos benefícios apontados por algumas pesquisas, o médico da Camargo Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Rio Grande do Sul (SBEMRS) Eduardo Camargo alerta que não há evidencias concretas de que o jejum intermitente seja realmente eficaz. “Embora o jejum possa causar emagrecimento, esse ocorre às custas de uma perda grande de massa muscular e água. Além disso, a maioria dos estudos que temos foi feita em animais”, salienta Camargo.
Durante o jejum é natural que ocorra a perda da reserva de energia, através de respostas hormonais. Esse processo tem como objetivo manter nossas funções vitais no período de restrição alimentar. Em caso de o tempo sem ingerir alimentos ser longo, há perda de nutrientes importantes, massa muscular e cansaço. “Com um jejum prolongado a pessoa começa a sentir maior irritabilidade, confusão mental, perda de água, músculo e de nutrientes importantes, como o potássio”, conta o médico.
Muitas vezes, a dieta intermitente implica no consumo de menos calorias que a pessoa necessita por dia. Para o médico, um homem adulto ativo precisa ingerir cerca de 2.200 calorias diariamente, sendo que uma mulher, com as mesmas características, necessita em torno de 1.600 calorias no mesmo período. “Para tolerar o jejum, se consome mais gordura e proteína. Esse tipo de compensação não é saudável Reduzir drasticamente a quantidade de calorias não é saudável, diferente de uma dieta bem equilibrada, balanceada com todos nutrientes e, principalmente, individualizada”, destaca o endocrinologista.
Além de causar uma série de problemas causados pela falta de nutrientes para o metabolismo, a dieta pode resultar em transtornos psicológicos. “Esses métodos radicais de perda de peso rápido são de risco. Podem causar uma anorexia ou bulimia nervosas, por exemplo, em algum indivíduo mais frágil, focado na beleza e no culto ao corpo”, diz a psiquiatra da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Maria Angélica Antunes Nunes.
A cultura pela beleza e o culto ao corpo, próprios da sociedade atual, é um dos fatores que podem ocasionar transtornos alimentares. “Se tens uma cultura que bate em cima da beleza corporal, pode fazer com que jovens procurem esse tipo de dieta, trazendo problemas para a vida do indivíduo”, complementa a médica.