Ela é tão frequente que já é considerada uma velha conhecida. Pelo menos 63 milhões de brasileiros, de todas as idades, sofrem com dores de cabeça frequentes. O problema é tão sério que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca está entre as vinte doenças que mais prejudicam a vida saudável de suas vítimas quando se mede a quantidade de anos que ela incomoda. Na 12ª posição, ela está à frente do diabetes e até da Aids.
O problema é que, apesar de ser um grande mal, muita gente acaba negligenciado a velha conhecida. É analgésico aqui, chá ali e, às vezes, o que pode ser sintoma de coisa séria, acaba sendo mascarado pelo (mau) hábito.
A temida enxaqueca
A enxaqueca, de acordo com o médico neurologista no Hospital da Cidade de Passo Fundo, Alan Christmann Fröhlich, é uma doença crônica, de origem cerebral e genética, cujo principal sintoma é a dor de cabeça. Ela ocorre devido a alterações no funcionamento de algumas substâncias químicas no cérebro, chamadas neurotransmissores. “As pessoas que sofrem de enxaqueca podem ter crises desencadeadas por diversos fatores, muitos associados à nossa rotina e atividades da vida diária. O estresse é o principal deles, além da falta de sono, má alimentação, obesidade e sedentarismo”, explica o médico.
Os sintomas variam e são diferentes para cada pessoa, mas de maneira geral são dor de cabeça de um lado da cabeça, latejante e pulsátil. “A dor pode ser forte a ponto de a pessoa precisar abandonar a escola ou o trabalho, necessitando de repouso. A intensidade da dor piora com atividades rotineiras, como caminhar ou subir uma escada”, comenta o médico.
Além da cefaleia, durante as crises também podem ocorrer intolerância à luz e à claridade (fotofobia), ao barulho (fonofobia), náuseas e vômitos. Na infância, o médico ainda lembra que dor abdominal pode ser um sintoma comum associado. “Uma parcela menor de indivíduos pode ter, também, sintomas visuais (borramento visual, pontos ou luzes piscantes) e sensitivos (formigamento e dormência) em um dos braços”.
Destaque
Existem mais de 100 tipos diferentes de dor de cabeça (cefaleia). A causa mais frequente é a Cefaleia do Tipo Tensional, que é a dor de cabeça comum, de intensidade leve, que não atrapalha as atividades diárias e melhora com o uso de analgésicos comuns. A enxaqueca já é uma doença com diversos sintomas que, além da cefaleia, geralmente causa prejuízo nas atividades diárias.
Quando o problema é maior
Quem sofre de enxaqueca sabe que, de um jeito ou de outro e com tratamento, dá para conviver com a situação. O problema está em quando uma simples dor de cabeça pode indicar algo pior. Por isso, Fröhlich lembra que uma avaliação médica é fundamental. “Qualquer dor de cabeça nova deve ser investigada, especialmente em pessoas que não costumavam ter cefaleia, ou se a dor estiver associada a outros sintomas, como perda de força em um lado do corpo, alteração da fala, alteração do equilíbrio ou do comportamento”, ressalta lembrando que testes adicionais, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética cerebral não são feitos de rotina em pacientes com enxaqueca, mas são fundamentais se existir a suspeita de outra causa para os sintomas.
Como identificar
Segundo o neurologista, existem diversos sinais de alerta que sugerem que a dor de cabeça possa estar associada à doenças mais graves:
- Cefaleia de início abrupto;
- Mudança de padrão na cefaleia;
- Cefaleia com início após os 50 anos;
- Cefaleia progressiva, persistente ou sem melhora com o tratamento de rotina;
- Cefaleia associada a outros sintomas, como febre, emagrecimento, doenças crônicas ou a sintomas neurológicos (fraqueza em um lado do corpo, perda do tato, alteração do equilíbrio ou da fala).
Fröhlich ressalta que quando houver qualquer sinal que sugira alguma doença mais grave como as citadas ou quando exista qualquer prejuízo nas atividades diárias é fundamental buscar o auxílio de um médico. “Não existe cura, mas existem vários tratamentos disponíveis para a enxaqueca. Definitivamente, ninguém precisa ficar sofrendo com dor de cabeça achando que é algo normal, mas sim buscar um atendimento especializado”, lembra.
Tem como prevenir?
Para quem quer evitar o problema, o médico lembra que, além de medicamentos, hábitos de vida saudáveis ajudam a diminuir as crises, e o estabelecimento de rotinas é especialmente importante para diminuir as crises de enxaqueca. “Recomenda-se manter horários regulares de sono e alimentação, além da prática de atividade física regular”, finaliza.
Cuidado com o excesso de medicamentos
De acordo com o neurologista, o uso frequente de analgésicos é uma das principais causas de piora da enxaqueca, o que propicia o surgimento da chama cefaleia atribuída ao uso excessivo de medicamentos. “Em média, usar medicamentos para dor mais do que 10 dias por mês pode aumentar cada vez mais o número de vezes que o indivíduo sofre com as crises”.
Colaborou:
Alan Christmann Fröhlich - médico neurologista no Hospital da Cidade de Passo Fundo e Serviço de Neurologia e Neurocirurgia (SNN).