Em torno de 5% da população adulta sofre de Insuficiência Renal Crônica ou Doença Renal Crônica. Parece pouco, mas a incidência tem aumentado cerca de 8% ao ano. Isso significa que, em poucos anos, grande parte da população mundial correrá o risco de sofrer a perda de função do rim. Considerada uma epidemia silenciosa, mas com formas de prevenção simples, a Doença Renal Crônica é uma disfunção dos rins que tem como consequência a perda de função do órgão. De acordo com a Mestre em Nefrologia, FabianaPiovesan, ela é causada por diversas doenças que podem ser sistêmicas como o diabete melito e a pressão alta ou localizadas tais como pedras nos rins, doenças da próstata entre outras. Esta insuficiência pode ser aguda ou crônica.
Segundo a médica, existem basicamente três tipos de insuficiência:
Pré-renal – ocasionada principalmente por desidratações (diarréias, vômitos) ou diminuição do fluxo sangüíneo renal (hipotensão, hemorragias)
Renal – doenças dos próprios rins como as glomerulopatias, doenças sistêmicas como o diabete melito e a hipertensão arterial sistêmica.
Pós- renal – doenças que afetam porções do trato urinário e que dificultam a drenagem dos rins tais como tumores de próstata, cálculos (pedras), tumores e estreitamentos.
“Outra classificação utilizada é em insuficiência renal aguda –duração de poucos dias a meses ou crônica – duração de anos”, explica.
Função dos rins
Controlam a quantidade de água e sal do corpo
Eliminam toxinas
Ajudam a controlar a hipertensão arterial
Produzem hormônios que impedem a anemia e a descalcificação óssea
Eliminam alguns medicamentos e outras substâncias ingeridas
Causas e sintomas
As causas mais comuns da doença, de acordo com Fabiana, são a hipertensão arterial sistêmica e o diabete melito mal controlados. “Estas são doenças extremamente prevalentes em nosso meio, e, sua incidência têm aumentado nas últimas décadas levando a um aumento em paralelo dos casos de insuficiência renal. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia esta incidência de IRC aumenta 8% ao ano no Brasil e o gasto com programa dialítico no país é em torno de 1,4 milhões de reais/ano”, ressalta.
Infelizmente, a maioria das doenças renais é silenciosa, ou seja, o indivíduo portador de disfunção renal somente apresentará sintomas em fases avançadas da doença, mas entre eles, os sintomas mais comuns são:diminuição da produção de urina, embora, ocasionalmente, a urina permaneça normal; retenção de líquidos, causando inchaço nas pernas, tornozelos ou pés; sonolência; falta de fome; falta de ar; fadiga; confusão; náusea e vômitos; emagrecimento; convulsões ou coma, em casos graves; dor ou pressão no peito. “Às vezes, insuficiência renal aguda não causa sinais ou sintomas e é detectada através de testes de laboratório realizados por outra razão”, explica a médica.
Tratamento
“Para os pacientes portadores de doenças sistêmicas responsáveis pela doença renal a principal recomendação é o adequado controle da pressão arterial e do diabete melito, diminuir o colesterol e a obesidade, utilizar medicações específicas na tentativa de manter e preservar a função renal bem como o controle médico rigoroso das patologias associadas”, destaca Fabiana.
Tem como prevenir?
Fabiana ressalta que todas as pessoas portadoras de pressão alta, diabete melito, pedras nos rins, doença de próstata devem submeter-se periodicamente a exames de função renal. “Esta avaliação é simples, realizada através de dosagem no sangue de creatinina e avaliação da urina. Muitas campanhas nacionais das sociedades médicas têm enfatizado a necessidade de rastreamento da doença renal com intuito de prevenir a insuficiência renal crônica e diminuir o número de pacientes em hemodiálise”, finaliza.
Diferença de diálise e hemodiálise
A hemodiálise e a diálise peritoneal são terapêuticas de substituição da função renal. Estas são requeridas quando o paciente apresenta níveis de depuração renal (função) abaixo de 10% em ambos os rins. Em indivíduos diabéticos usualmente este valor é abaixo de 15% de função renal. Os pacientes podem optar pela hemodiálise – terapêutica realizada à nível hospitalar com sessões 3x por semana com duração de 4h cada sessão. Outra modalidade é a diálise peritoneal na qual o indivíduo realiza a própria diálise em casa (após receber treinamento hospitalar) todos os dias, através de um cateter abdominal e material para as trocas o qual recebe domiciliarmente.
Entrevista
Medicina&Saúde - Um paciente que precisa da hemodiálise o procedimento é para sempre, até conseguir um doador?
Fabiana Piovesan - No caso de insuficiência renal aguda normalmente o paciente necessitará de algumas sessões de hemodiálise até recuperar a função renal. Nos indivíduos que já apresentam insuficiência renal crônica estes necessitarão a realização da hemodiálise pelo resto da vida ou até submeter-se a um transplante renal.
Medicina&Saúde -Quando é exigido o transplante?
Fabiana Piovesan - O transplante renal é uma forma de terapêutica de substituição renal para os pacientes que já estão ou que iniciarão procedimentos de hemodiálise. No RS existe a central de transplantes que coordena o processo de distribuição de órgãos de forma que o indivíduo que está inscrito em lista de transplante receberá o órgão devido à maior compatibilidade com o doador e não por ordem de entrada em lista. Outra forma de transplante também realizada é a de doador relacionado (irmão, mãe, pai,...),ou seja intervivos.
Medicina&Saúde -O indivíduo sobrevive com somente um rim? É verdade que tem pessoas que nascem somente com um rim?
Fabiana Piovesan - O transplante renal é realizado apenas com um órgão (exceto em casos especiais – crianças). Tanto o receptor quanto o doador (se intervivos) sobrevivem adequadamente com um rim só. Existem casos na literatura de indivíduos que nascem apenas com um rim,o outro não se desenvolve por problemas genéticos e mantém função renal estável.
Medicina&Saúde - Quais são os riscos para a saúde como um todo de não cuidar da saúde renal?
Fabiana Piovesan - A perda de função renal pode levar a inchaço generalizado, alterações cardíacas, pulmonares, ósseas, hormonais as quais podem levar ao desequilíbro do organismo como um todo. Os pacientes que têm alterações renais apresentam aumento de morbidade e mortalidade.
Medicina&Saúde - O sal é mesmo o maior inimigo dos rins?
Fabiana Piovesan - Na verdade uma dieta rica em sal (ou sódio) provoca elevação na pressão arterial dos indivíduos e, esta elevação, com o passar dos anos pode levar a doença renal crônica.
A relação entre Doença Renal e Obesidade
A obesidade é um grande problema de saúde pública. Ela leva ao dano renal por si só, aumenta o risco de neoplasias (cânceres) do sistema urinário e predispõe ao desenvolvimento de diabetes mellitus a qual induz também a formação de lesões renais.
Em 2025, a obesidade afetará 18% dos homens e mais de 21% das mulheres em todo o mundo, e que a obesidade grave afetará 6% de todos os homens e 9% de todas as mulheres em todo o mundo. Em algumas nações, a obesidade já está presente em mais de um terço da população adulta e contribui significativamente para a má saúde geral e altos custos anuais de saúde.
Na população em geral, a obesidade aumenta o risco de morte e contribui para muitas outras doenças, como doenças cardíacas, diabetes, hipertensão, colesterol alto, apnéia do sono obstrutiva, fígado gordo, doença da vesícula biliar, osteoartrite, vários tipos de câncer, transtornos mentais e pobres qualidade de vida.
Um crescente corpo de evidências indica que a obesidade é também um potente fator de risco para o desenvolvimento de doença renal crônica (DRC) e doença renal terminal (IRT). As pessoas com excesso de peso ou obesas têm 2 a 7 mais chances de desenvolver ESRD em comparação com as de peso normal.
Dia Mundial do Rim
O Dia Mundial do Rim é uma campanha de conscientização global destinada a conscientizar sobre a importância de nossos rins. A cada ano a campanha aborda um tema.
O tema da edição de 2017 é "Estilo de vida saudável para rins saudáveis” e visa promover os hábitos de vida saudáveis, bem como chamar a atenção para a obesidade. Tão comum nos dias de hoje, a obesidade é uma das maiores vilãs na causa da Hipertensão Arterial, Diabetes e, consequentemente, na Doença Renal Crônica – que tem como principal origem essas duas doenças.
Seguindo o direcionamento internacional e nacional da International Federation of Kidney Foundations e Sociedade Brasileira de Nefrologia, a Fundação Pró-Rim dedica-se todos os anos de forma muito especial com a realização de eventos e campanha de comunicação nessa data. Afinal, tem como um dos seus propósitos, promover a prevenção e a conscientização da Doença Renal Crônica, considerada como uma epidemia silenciosa e com formas de prevenção tão simples.
** IRC=insuficiência renal crônica, DRC=doença renal crônica
Colaborou
Fabiana Piovesan - Mestre em Nefrologia, Doutora em Cardiologia, professora da Universidade de Passo Fundo e Preceptora da Residência do Hospital São Vicente de Paulo