Pequena, mas importante

Fundamental para o equilíbrio e harmonia do organismo, a glândula tireoide precisa de cuidado e atenção uma vez que agem em praticamente todos os órgãos, regulando suas funções

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Você sabia que 10% da população apresentam alguma disfunção na tireoide? Esse dado da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) reforça a importância de cuidar dessa glândula, responsável por produzir os hormônios T3 (tiiodotironina) e T4 (tiroxina) que regulam funções de órgãos importantes como o coração, o cérebro, o fígado e os rins. Por isso, é fundamental estar em perfeito estado de funcionamento para garantir o equilíbrio e a harmonia do organismo. E para saber como manter esse bom funcionamento dessa glândula tão pequena, mas muito importante, o caderno Medicina&Saúde conversou com a endocrinologista do Hospital da Cidade, Paula Stefenon, para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto.

Medicina&Saúde - Qual é a função da tireoide no organismo?

Paula Stefenon - A tireoide é uma glândula com formato semelhante ao de uma borboleta que se localiza na parte anterior do pescoço, logo abaixo do pomo de adão. Ela é responsável pela produção dos hormônios tireoidianos tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). Esses hormônios são essenciais para o funcionamento do nosso organismo em todas as etapas de nossas vidas.

Os hormônios tireoidianos agem em praticamente todos os órgãos, regulando suas funções. Controlam os batimentos cardíacos; o peristaltismo intestinal e a frequência das evacuações; regulam a temperatura corporal, o humor; a memória, o ciclo menstrual nas mulheres e a fertilidade. Esses hormônios agem também nos ossos e músculos e são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento das crianças.

Medicina&Saúde - Quais são as alterações que ocorrem na tireoide?

Paula Stefenon - A tireoide pode ter alteração funcional (hipo ou hipertireoidismo) ou anatômica (nódulos e bócio).

O bócio, conhecido popularmente como papo, é o aumento da tireoide que pode ocorrer nas disfunções tireoidianas ou quando ocorre deficiência de iodo (bócio endêmico). A prevalência do bócio endêmico reduziu drasticamente nos últimos anos graças à implementação do iodo no sal de cozinha a partir da segunda metade do século XX.

Os nódulos são detectados à palpação do pescoço em até 10% da população, mas se utilizado exames de imagem a prevalência passa de 50% em alguns estudos. Em 95% dos casos esses nódulos são benignos e não necessitam tratamento específico. Dependendo das características dos nódulos pode ser indicada uma punção para coleta de material para diferenciar nódulos benignos de malignos.

O hipotireoidismo ocorre quando a tireoide funciona menos do que o necessário e é a alteração mais frequente da tireoide. Já o hipertireoidismo ocorre quando a tireoide produz mais hormônio que o necessário.

Medicina&Saúde - Por que elas acontecem?

Paula Stefenon - A autoimunidade, que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca a si mesmo, é a principal causa de disfunção da tireoide. Fatores genéticos também são importantes e outros membros da família frequentemente apresentam disfunções tireoidianas.

Medicina&Saúde - Esses problemas podem desencadear outros problemas de saúde a curto ou longo prazo?

Paula Stefenon - No hipotireoidismo o paciente irá apresentar sonolência e cansaço excessivo; redução dos batimentos cardíacos; intestino preso; alterações da menstruação; memória comprometida; dores musculares e fraqueza; pele seca e queda de cabelo. Diferente do que muita gente pensa o hipotireoidismo não é capaz de produzir gordura, só interfere na retenção de líquido que pode ocasionar aumento de peso, geralmente em torno de 2 a 5 kg.

Caso haja demora no diagnóstico e tratamento pode ocorrer anemia, alteração do colesterol, aumento da pressão arterial, insuficiência cardíaca e raramente o coma, que ocorre mais em idosos quando o diagnóstico não é feito ou param de fazer o tratamento adequado.

No hipertireoidismo paciente vai apresentar agitação; irritabilidade; insônia; cabelos finos e unhas quebradiças; pele quente e úmida; intolerância ao calor (sente mais calor do que o normal); aumento da frequência de evacuações, podendo ter diarreia; alteração do ciclo menstrual; taquicardia; e tremor das mãos.

A longo prazo, o hipertireoidismo pode causar arritmias cardíacas, como fibrilação atrial; diminuição da massa magra; e diminuição da massa óssea com osteoporose e possível aumento do risco de fraturas.

Medicina&Saúde - Quais são os sinais de que a tireoide não está funcionando bem?

Paula Stefenon - Os sintomas que mais chamam atenção são o cansaço excessivo e fraqueza, mas qualquer um dos sintomas citados acima serve como alerta que a tireoide possa não estar funcionando bem. Claro que esses sintomas não são exclusivos de doenças tireoidianas, por isso a avaliação médica e realização de exames são importantes para o diagnóstico diferencial.

Medicina&Saúde - Quais os riscos de não tratar essas disfunções?

Paula Stefenon - A curto prazo, a pessoa com disfunção tireoidiana, tem uma queda na qualidade de vida. A falta de tratamento a longo prazo tem impacto principalmente no sistema cardiovascular, aumento risco de infarto agudo do miocárdio e arritmias, além dos sintomas já citados anteriormente.

Medicina&Saúde - Como estas disfunções na tireoide devem ser tratadas?

Paula Stefenon - O tratamento do hipotireoidismo é feito com reposição hormonal, levotiroxina, que deve ser tomada diariamente, pela manhã, via oral e em jejum. O médico avalia, com exames de sangue, a função tireoidiana e faz ajustes necessários de dose, baseado nos exames laboratoriais e na avaliação clínica da paciente.

No hipertireoidismo há mais de uma opção terapêutica: a droga antitireoidiana, o iodo radioativo ou cirurgia. A melhor opção terapêutica varia conforme a causa do hipertireoidismo e características próprias de cada paciente.

No caso de nódulos e bócios os pacientes podem ser acompanhados clinicamente e com exames periódicos. Caso o bócio ou o nódulo sejam muito volumosos e causem sintomas como dificuldade para engolir e respirar devido a compressão da traqueia e esôfago a cirurgia para retirada da glândula deve ser realizada.

Medicina&Saúde - De que forma a alimentação influencia no funcionamento da tireoide? Qual a importância do iodo?

Paula Stefenon - Não existe nenhuma dieta ou cuidado especial que possa impedir o aparecimento destas disfunções.

A tireoide utiliza o iodo ingerido na dieta para a produção dos hormônios tireoidianos. Uma dieta adequada deve fornecer cerca de 150 microgramas de iodo por dia, que a quantidade suficiente para uma adequada produção dos hormônios tireoidianos. No Brasil, a principal fonte desse elemento é o sal de cozinha, que após projeto de lei passou a ser iodado com a intenção de reduzir doenças tireoidianas como o bócio endêmico. O iodo também pode ser encontrado em frutos do mar, algas e alguns medicamentos como amiodarona. Suplementos a base de iodo raramente são necessários, pois normalmente consumimos a quantidade necessária de iodo com o consumo de sal mesmo em quantidades pequenas. Além disso, uma quantidade exagerada de iodo pode causar disfunção tireoidiana. O excesso de iodo crônico pode ocasionar o hipotireoidismo, enquanto que uma sobrecarga aguda de iodo pode causar tanto hipo como hipertireoidismo.

Medicina&Saúde - Por que as mulheres sofrem mais com problemas na tireoide do que os homens?

Paula Stefenon - A autoimunidade é a principal causa de disfunção tireoidiana e doenças autoimunes são mais frequentes nas mulheres. Isso ocorre provavelmente por uma diferença no sistema imunológico feminino que é mais predisposto a formar auto-anticorpos, por diferenças hormonais e genéticas. Apesar disso, devemos lembrar que doenças tireoidianas também ocorrem em homens e podem acontecer em qualquer fase da vida.  

Colaborou

Paula Stefenon - endocrinologista do Hospital da Cidade de Passo Fundo

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