O Dia Mundial da Infância é celebrado nesta terça-feira, 21 de março. E um dos assuntos que preocupa no mundo todo é a prevalência de sobrepeso e obesidade que vem aumentando significativamente, especialmente entre crianças, potencializando os riscos de problemas crônicos de saúde, tais como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. O crescimento no índice de sobrepeso entre crianças menores de cinco anos é um dos dados evidenciados no “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe” da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), divulgado neste ano.
O relatório da OPAS e FAO é baseado em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e apontou que, no Brasil, o sobrepeso em adultos passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014. A tendência de aumento também foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8% da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%. Mas um dos dados mais significativos é o aumento do sobrepeso infantil. Estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, 7,7%.
Já a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita em parceria com o Ministério da Saúde, uma das mais recentes, mostra que cerca 33,5% das crianças brasileiras de cinco a menores de nove anos apresentam excesso de peso.
A OMS também aponta a obesidade com um dos maiores problemas de saúde pública no mundo e estima que, em 2025, haverá 75 milhões de crianças acima do peso no mundo, caso não sejam tomadas medidas para impedir essa realidade. Segundo o oncologista clínico do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Dr. Alvaro Machado, estas informações são muito preocupantes. “Sabemos que obesidade, sobrepeso e sedentarismo são importantes causas de várias doenças, entre elas o câncer”, ressalta Machado.
Entre as causas da obesidade infantil está o consumo de alimentos altamente calóricos e de baixo valor nutritivo, como doces, refrigerantes, salgadinhos e fast food, muito presentes nas refeições das crianças. Conforme o oncologista, estes alimentos também contribuem para os riscos de desenvolver câncer. “Por duas razões: primeiro porque são refeições muito calóricas, em geral acompanhadas de refrigerantes, que também são calóricos; em segundo, porque utilizam carnes processadas, hoje classificadas como carcinogênicas pela OMS”, pontua.
De acordo com Machado, as projeções são muito negativas. “Recente publicação do Nurses Health Study, divulgada pela Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR), mostrou a relação entre alimentação não saudável - calórica, baseada em fast foods - durante a adolescência e maior incidência de câncer de mama em mulheres jovens, na pré-menopausa. É urgente a educação alimentar e uma política de restrição a alimentos industrializados e processados”, enfatiza o oncologista.
Cânceres relacionados à obesidade e ao sedentarismo
A alimentação saudável e a prática de atividades físicas são essenciais para o combate à obesidade e ao sedentarismo, que estão relacionados a inúmeros cânceres, como o câncer colorretal, câncer de mama, câncer de próstata, câncer de útero, câncer de pâncreas, entre outros. O oncologista ressalta ainda que o câncer infantil vem aumentando sua incidência, mas o progresso no tratamento nos últimos anos também é significativo. “Felizmente as taxas de curas são elevadas. Tudo depende do diagnóstico precoce e do tratamento adequado em tempo hábil. Os tipos de câncer infantil mais comuns são as leucemia aguda, tumor de Wilms (rim), retinoblastoma, neuroblastoma, tumores do sistema nervoso central, sarcomas e linfomas”, informa Machado. Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos. Estima-se que ocorrerão cerca de 12,6 mil casos novos de câncer em crianças e adolescentes no Brasil por ano em 2017. Na região Sul, a estimativa é de aproximadamente 1,3 mil casos novos.