A obesidade cresceu 60% no Brasil nos últimos dez anos. No Rio Grande do Sul, de acordo com o médico Dr. Carlos Augusto Madalosso, a obesidade atinge quase 20% da população. Segundo o especialista em cirurgia bariátrica, com 15 kg acima do peso ideal a pessoa é qualificada como obesa e com 40 kg acima como obesa mórbida. O peso ideal é calculado pelo índice massa corporal ou IMC, em fórmula que utiliza o peso e a altura. Assim, surge uma classificação: desnutrição, peso ideal, sobrepeso, obesidades leve, moderada e mórbida e, ainda, a superobesidade. Em proporcionalidade, estão os riscos de acordo com essas classificações. A obesidade não é congênita e, excetuando-se raríssimas síndromes, a obesidade é adquirida.
As causas
De acordo com Madalosso, a obesidade é uma doença crônica, progressiva e incurável. Açúcar, gordura e sódio são os principais agentes causadores. Nós fomos constituídos para sermos obesos nesse ambiente de excesso alimentar, com reduzida oportunidade de gasto energético. De fato, o indivíduo obeso é uma máquina perfeita, com capacidade de reter energia para ganhar uma autonomia nos períodos de carência alimentar. No passado isso foi extremamente importante, pois era necessário gastar-se muita energia na obtenção de alimentos que eram escassos, assim geneticamente fomos preparados para lidar com um ambiente de carências. O que acontece hoje é que este ambiente foi substituído pela fartura alimentar, não há mais que se perseguir a presa, porém nossa genética permanece. Assim, o indivíduo passou a ser doente quando esse foi retirado do ambiente de escassez. Aí vem a pergunta, é possível através da mudança de hábitos simular este ambiente de escassez? Se conseguirmos ser bem sucedidos nesta simulação, sim será possível adotar tais mudanças de hábitos e obtermos diminuição dos casos de obesidade. Contudo, para quase todos os indivíduos muito obesos, esta mudança será insuficiente.
As consequências
Carlos Augusto explica que as sequelas podem ser classificadas como orgânicas, ou psicoemocionais. As orgânicas são aquelas que comprometem a saúde física do indivíduo. Essas podem estar relacionadas à carga ou peso excessivo, ou aos aspectos metabólicos. Articulações e ligamentos sofrem muito com o excesso de peso. E mesmo em pacientes jovens já podemos identificar doenças articulares, especialmente em joelhos, tornozelos, coluna e quadris. Já as complicações metabólicas estão relacionadas com desequilíbrio de níveis sanguíneos de gorduras e açúcares, dos efeitos inflamatórios e hormonais causados pela obesidade. Aumento dos níveis de colesterol e triglicérides, diabetes tipo 2, hipertensão arterial sistêmica com os efeitos advindos deles aterosclerose, doença coronariana, arritmias cardíacas, aumento do risco de acidente vascular cerebral, prejuízos à função renal, esteatose hepática. Esterilidade e síndrome dos ovários policísticos com hirsutismo (aparecimento de pelos) na mulher e impotência sexual em homens, também são consequências da obesidade. O efeito metabólico da obesidade ainda está relacionado ao aumento da ocorrência de câncer de diversos órgãos. Mas tão graves quanto as complicações clínicas, são as emocionais como baixa autoestima, prejuízo nos relacionamentos interpessoais e familiares.
Os tratamentos
1 - Mudança comportamental, através de correção de hábitos alimentares e atividade física. Devem ser seguidos para a vida toda. Este deverá ser utilizado sempre, em qualquer opção de tratamento.
2 - Uso de métodos auxiliares como medicamentos e procedimentos endoscópicos. Geralmente são de uso temporário.
3 - Tratamento definitivo: cirurgia bariátrica. Ficam reservados aos casos de obesidade grave e ameaçadora à vida.
Em 95% dos casos os tratamentos ficarão limitados ao nível 1, eventualmente chegando ao 2. Existe uma opção que é do balão intragástrico, um incentivador à mudança comportamental que induz uma perda bastante rápida de peso. Recentemente tem sido proposta a redução de estomago por endoscopia. Um procedimento cirúrgico, invasivo, com risco e com perspectiva de resultados muito deficientes em médio prazo. Sibutramina e Orlistat são as medicações mais empregadas, mas muitas vezes o uso de ansiolíticos e antidepressivos também pode ser necessário.
As cirurgias
A utilização de cirurgia para tratamento da obesidade deve ser encarada como o último recurso para controlar, e não curar, uma doença crônica, progressiva, incurável e ameaçadora à vida. Assim deve-se ter um tempo de doença superior a dois anos, caracterizando a cronicidade. Também de não ser passível de controle com outros tratamentos não cirúrgicos confirmando a incurabilidade e deve ser ameaçadora à vida, ou pela presença de complicações como diabetes tipo 2, hipertensão grave, apneia obstrutiva do sono ou pelo elevado grau do excesso de peso caracteriza a obesidade mórbida. O êxito das cirurgias, de um modo geral, é em torno de 95% no primeiro ano. Em outra avaliação, através do arrependimento de ter feito a cirurgia, ao final de 10 anos, é inferior a 3%. Ou seja, mesmo aqueles que recuperaram muito peso, não se arrependeram de terem sido submetidos à intervenção.
Os métodos cirúrgicos
As cirurgias mais empregadas são a Gastrectomia Vertical ou o Bypass Gástrico, ambas realizadas através de videolaparoscopia. O número destes procedimentos vem aumentando. Hoje são as cirurgias abdominais eletivas mais realizadas no mundo inteiro. As novidades não se limitam às técnicas em si, mas à comodidade com que vêm sendo realizadas. O uso de equipamentos cirúrgicos de precisão viabilizam cirurgias em menos de 60 minutos. A cirurgia robótica aumenta ainda mais a perfeição na execução dos procedimentos. Ainda, há avanços no campo da anestesia através de dispositivos que garantem um despertar muito rápido, com mínimos efeitos colaterais. Outra novidade é o tratamento do reganho de peso. Uma promissora técnica para resgate é a laparoscópica SADI-S. Para os pacientes que reengordam expressivamente, esta técnica é capaz de promover uma significativa perda adicional de peso.
Cirurgias abdominais eletivas são as mais realizadas no mundo
- Aumento global da obesidade e de sua forma mais grave, a obesidade mórbida. Em 1999 estimava-se que 1 a 1,5% da população adulta necessitava de tratamento cirúrgico. Hoje esta proporção chega a mais de 5%.
- Aumento da segurança do procedimento. Inicialmente considerada de altíssimo risco, com mortalidade de 1 a 2%, hoje na maioria dos serviços de referência a taxa é inferior 1óbito/1.000 cirurgias. Isso graças ao maior conhecimento da doença, evolução de equipamentos anestésicos, cirúrgicos, suporte intensivo e maior preparo técnico das equipes.
- Advento da técnica laparoscópica que garantiu mais segurança e conforto pós-operatório.
-Disponibilidade dos resultados no meio científico levando à maior aceitação pelos profissionais da saúde que passaram a endossar a opção bariátrica de tratamento.
- Surgimento de novas técnicas trazendo maior comodidade no seguimento em longo-prazo, dispensando muitas vezes a necessidade de suplementação vitamínica.
- A exposição de bons resultados tardios, anulando alegações de que em longo prazo a cirurgia seria muito perigosa.