Epicondilite lateral exige tratamento multidisciplinar

Também conhecida como ?EURoecotovelo de tenista?EUR? a epicondilite é um quadro doloroso que pode ter relação com diversos hábitos prejudiciais do dia-a-dia

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Fisioterapeuta Fabrício BordinFisioterapeuta Fabrício Bordin
Fisioterapeuta Fabrício Bordin
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Aquela famosa “dor de cotovelo” vai além de uma simples expressão popular, ela existe e tem muitos agravantes que vão da idade ao esforço repetitivo. A epicondilite lateral afeta de 1% a 3% da população em ambos os sexos. Mesmo sendo relacionada com a expressão “cotovelo de tenista”, o menor grupo afetado é justamente o de jovens praticantes de esportes. O problema acomete principalmente pessoas entre 35 e 60 anos das quais 95% fazem uso excessivo dessa musculatura com atividades de repetição ou esforço intenso. Atividades simples como girar a maçaneta, digitar um texto ou mesmo o uso do mouse podem se tornar dolorosas e impraticáveis. Para compreender os diversos aspectos desta patologia confira a entrevista realizada com três especialista da área: o ortopedista e cirurgião de mão, Osvandré Lech, o ortopedista e especializando em cirurgia do ombro e cotovelo, Cyrio Borges Fortes, ambos da Clínica IOT de Passo Fundo, e o fisioterapeuta Fabrício Bordin.

A VISÃO ORTOPÉDICA

O que é a epicondilite lateral?

Ortopedistas Osvandré Lech e Cyrio Borges Fortes - É uma síndrome dolorosa que resulta do distúrbio na vascularização e cicatrização dos tendões da musculatura extensora do punho e dos dedos, normalmente ocasionada por sobreuso.  A expressão está consagrada, mas incorreta, já que o sufixo “ite” se refere a inflamação, e isto não ocorre; trata-se de uma degeneração dos tecidos e o sufixo correto seria “ose” -  epicondilose.

Como se instala? 

Ocorre necrose dos tecidos devido à falta de irrigação sanguínea, que é deficiente nesta região, resultando na formação de tecido de granulação. Com isto, tem início a degeneração ou rupturas microscópicas nas fibras do tendão geralmente associada aos esforços de tração. O tendão inicialmente acometido é o extensor radial curto do punho, responsável pela extensão do punho.  

Fatores de risco que podem causar a epicondilite? 

Vários são os fatores de risco: a idade superior a 30-40 anos, quando os tecidos musculares iniciam o processo de envelhecimento, esforços repetitivos, prolongados ou intensos que exijam a extensão do punho ou dos dedos, técnica inadequada ou treinamento excessivo de esportes de arremesso ou de uso de empunhadura, como tênis, paddle, canoagem, arco e flecha. O sedentarismo, tabagismo, etilismo, doenças reumáticas e diabete também são fatores desencadeantes.

Os casos estão aumentando ou diminuindo?  

A epicondilite lateral é a causa mais comum de dor no cotovelo.  Afeta aproximadamente 2% da população e há dois grupos distintos - o grupo menor (5%) formado por jovens que praticam esportes de empunhadura de forma intensa, no qual o sobreuso é fator determinante, e o grupo maior (95%) representado por pessoas entre 35 e 60 anos, nas quais o início dos sintomas é insidioso e associado a atividades de repetição ou esforços intensos isolados (digitadores, operários de linha de produção e de abate de aves, cozinheiros, motoristas, carregadores, e os que “se esforçam muito no final-de-semana”). Ocorre igualmente entre os sexos e com maior frequência em brancos.

A epicondilite lateral pode estar relacionada com o uso do mouse? 

A princípio, sim, já que o uso prolongado ou errôneo do mouse pode desencadear dores no membro superior, mas não é isto que se observa na prática diária.  Todo o digitador – ou sua empresa - deve conhecer os princípios de ergonomia para esta atividade.  O mais importante é o apoio dos antebraços e punhos, além de adequar individualmente à altura da cadeira e do teclado.  Esta boa postura evita contraturas e dores nos membros superiores. Além disso, intervalos frequentes, atividade física preventiva (alongamento e leve reforço muscular), rotação de atividades são igualmente importantes.

Quais são os sintomas?

A queixa mais frequente é a dor de início leve localizada na região lateral do cotovelo e antebraço, com piora progressiva e desencadeada ao segurar objetos leves (xícara) ou pesados (cadeira, sacos, etc.). Formigamento e diminuição de força de preensão e de extensão geralmente estão presentes. O diagnóstico é clinico e deve ser diferenciado da compressão de nervos que ocorre na região.

É possível prevenir?

Com a melhoria da ação da medicina do trabalho, esta condição dolorosa é rapidamente identificada nos funcionários de empresas. Por outro lado, o mais rápido atendimento e o esclarecimento da população auxiliam para diminuir esta condição. A prevenção se baseia em evitar os fatores de riscos, alternando atividades repetitivas com pequenas pausas e alongamentos, uma ergonomia adequada no posto de trabalho. Convém alternar atividades sentadas e em pé, ter um bom condicionamento físico. No esporte, evitar treinamento excessivo e praticar o gesto esportivo correto. Quanto antes for diagnosticada e tratada, maiores são as chances de um bom resultado, lembrando sempre que a evolução é lenta e os sintomas podem durar até um ano.

Qual é o tratamento médico? 

A epicondilite é tratada pelo ortopedista, fisiatra, reumatologista, médico do trabalho, geriatra e cada área tem preferências próprias.  De modo geral, o tratamento conservador resolve 90% dos casos e se baseia em analgesia (analgésicos, anti-inflamatórios, corticoides), repouso relativo e revisão da ergonomia no local de trabalho, imobilização parcial do punho com tala de velcro para evitar a extensão, cuidados caseiros (gelo, alongamento, etc).  Nos 10% que não melhoram, existem outras opções como a infiltração local, o uso de ondas de choque extracorpóreo, cirurgia aberta ou artroscópica. As técnicas que utilizam toxina botulínica, plasma rico em plaquetas e células-tronco não apresentam resultados melhores que outros mais simples.

A VISÃO FISIOTERAPÊUTICA

Tratando a epicondilite lateral

O fisioterapeuta Fabrício Bordin explica que em conjunto com o tratamento medicamentoso, o tratamento fisioterapêutico tem como objetivo diminuir o quadro  doloroso no primeiro momento com aparelhos específicos, em conjunto com alongamentos e gelo local e, posteriormente, reforço da musculatura do antebraço. 

Quais os exercícios e equipamentos utilizados?

São utilizados aparelhos como o ultrassom terapêutico, a eletroestimulação por ondas de choque de baixa frequência, o laser, e a eletro-acupuntura, (tratamento de agulhas combinado com eletroestimulação). Também são realizados alongamentos musculares principalmente da musculatura acometida e uso de gelo local (crioterapia).

Qual o período de tratamento?

O tratamento é longo e alguns casos podem demorar até seis meses. Sua evolução é observada quando o paciente refere melhora nas atividades do dia a dia, que pode acontecer nos primeiros dois meses.

Quais são as recomendações ao paciente? 

Vários cuidados nas atividades do dia-a-dia são importantes para o sucesso do tratamento, como: evitar movimentos de torção do antebraço (torcer um pano), não realizar esforço repetitivo durante longos períodos (digitação, linha de montagem ou de abate), evitar carregar pesos ou sacolas com a mão voltada para trás (a mão voltada para frente relaxa os músculos extensores lesados e utiliza os flexores, que estão assintomáticos), uso da tala de velcro e aplicar gelo no local da dor.

Qual a conduta pós-tratamento?

Boa ergonomia no local de trabalho, preparo físico adequado através do combate ao sedentarismo, ginástica laboral no próprio local de trabalho, tratar as doenças de base e evitar esforços exagerados da musculatura do antebraço, procurar atendimento assim que os sintomas se instalarem.

* Atividades simples como girar a maçaneta, digitar um texto ou mesmo o uso do mouse podem se tornar dolorosas e impraticáveis.

 

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