Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou os resultados da pesquisa Vigitel 2016, que aponta o crescimento da obesidade, hipertensão e diabetes no Brasil. Essas alterações também podem causar graves danos à visão, conforme nos explicou o médico oftalmologista do HSVP, Dr. Eduardo Ventura. “Sem dúvida que sim. Todas estas situações têm implicação direta na função visual, devendo ser dada a sua devida importância no sentido de preservar e tratar cada uma destas situações”. Sempre ouvimos falar da importância dos exames oftalmológicos periódicos. Um descuido nessa rotina pode ter implicações. “O preventivo é o mais importante. Sempre digo que qualquer sintoma ou sinal relacionado à visão deve ser investigado com um profissional oftalmologista, porque um desleixo à saúde ocular poderá trazer consequências desastrosas. Exames periódicos podem evitar complicações graves oriundas de tais patologias”.
Alterações no globo ocular
A hipertensão interfere nos hormônios e nas musculaturas cardíaca e vascular, é associada a patologias como infarto, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e a insuficiência renal. Os olhos também estão nesta lista. Para compreendermos como isso ocorre, Eduardo Ventura descreveu como a hipertensão age no globo ocular. “A hipertensão arterial é responsável por causar alterações na vascularização de algumas regiões do globo ocular, incluindo a retina. Estas podem ser classificadas em angiopatia, retinopatia e neuroretinopatia. Casos leves podem não apresentar manifestações ao exame oftalmológico ou, então, apenas apresentar discreta estenose das artérias retinianas. Porém, com a persistência do processo, poderá ocorrer isquemia ou até necrose vascular e dilatação com extravasamento de plasma. Já nos casos mais avançados, as oclusões vasculares, hemorragias e regiões de infarto retiniano. Daí a importância dos exames oftalmológicos de rotina”.
Retinopatia por hipertensão
A retinopatia por hipertensão arterial chega silenciosamente. Isso preocupa o especialista. “Infelizmente, as fases iniciais podem ser assintomáticas, não apresentando sinais nem sintomas específicos. Mas o exame de fundo de olho é fundamental para diagnóstico e tratamento preventivo das complicações mais graves relacionadas às fases mais avançadas da doença”. Um caminho para evitar a retinopatia é prevenir a hipertensão, combatendo a obesidade. Além disso, ele recomenda “manter os níveis pressóricos bem controlados, associado à prática de exercícios físicos e alimentação balanceada”.
Hipertensão e catarata
A hipertensão arterial também é responsável pelo aumento nos casos de outra doença ocular: a catarata. Antes de falar sobre as causas, Ventura explicou sobre a doença. “A perda de transparência da lente natural do olho (cristalino) dificulta a entrada de luz nos olhos e, assim, diminui a visão caracterizando a catarata. Essas alterações no funcionamento da visão podem ocasionar pequenas modificações visuais e até levar à cegueira”. Mas a ocorrência da catarata não está associada apenas à hipertensão. “Apesar de ter uma incidência muito maior acima dos 60 anos, antes disso uma pessoa pode ter catarata. Podem ser várias as causas, como diabetes, senilidade, doenças metabólicas, doenças oculares como glaucoma, uveítes e traumas. O uso indiscriminado de medicações também pode causar a catarata. Mulheres que contraírem doenças como rubéola, toxoplasmose ou sífilis durante a gravidez, devem ser bem investigadas. Isso porque a chance de catarata congênita é muito grande, devendo fazer o tratamento cirúrgico o mais breve possível”.
Aumentam os casos
De acordo com o especialista a incidência da catarata está aumentando. Porém, quando diagnosticada em tempo, tem tratamento cirúrgico, explicou o oftalmologista. “Os casos diagnosticados de catarata estão aumentando muito e aparecendo cada vez mais cedo. A catarata não tratada pode evoluir a um estado de hipermaturação, podendo alterar a pressão intraocular levando a uma atrofia glaucomatosa total do nervo óptico, e, nesta situação, não haverá tratamento eficaz para a reabilitação da função visual. O tratamento da catarata é cirúrgico. A técnica moderna de tratamento é a facoemulsificação com implante de lente intraocular, o que reestabelece a função visual em 100%, na grande maioria dos casos”.
Retinopatia diabética
A retinopatia diabética é mais uma doença ocular em consequências dos problemas metabólicos, assim definida por Ventura. “A retinopatia diabética é o nome que se dá às alterações retinianas provocadas pela diabetes. São alterações nos vasos retinianos levando hemorragias e extravasamento de líquido na retina. Isto provoca áreas de isquemia na retina e consequente neoformação de vasos anômalos. Estas alterações dos vasos podem ocasionar trações vítreo-retinianas e descolamento da retina sensorial, levando à cegueira”. Em relação ao tratamento, novamente o especialista destaca a ação preventiva. “Porém, depois de estabelecidas as alterações retinianas, dependendo do estágio da doença podemos tratar com laser, anti-inflamatórios de longa duração, terapia anti-VEGF e até cirurgias de vitrectomia nos casos mais avançados de descolamento de retina”.
Como é a cirurgia de catarata
A intervenção para substituir o cristalino por uma lente
Sem mistérios, a facoemulsificação é a cirurgia de catarata. Eduardo Ventura explica como é o procedimento. “A cirurgia consiste na retirada do cristalino, que é a lente original do nosso olho, o que é feito através do facoemulsificador. Depois vem a consequente substituição por uma prótese acrílica de material dobrável, chamada lente intraocular dobrável, que irá substituir o componente óptico que é retirado na cirurgia. É uma intervenção relativamente rápida e muito segura. Porém, como toda cirurgia, possui seus riscos e complicações inerentes ao procedimento. A recuperação é rápida e plenamente finalizada em sessenta dias”.
Evolução
O desenvolvimento tecnológico simplificou o procedimento para propiciar qualidade de vida ao paciente. “A facoemulsificação com implante de lente intraocular é um procedimento eficaz e seguro, estando estatisticamente dentro dos 95% de êxito. A grande vantagem em relação às outras técnicas é o tamanho da incisão, apenas 1,5 milímetros, abertura que permite toda a realização do procedimento, não sendo necessário o uso de fios de sutura para fechamento do globo ocular. A cirurgia reestabelece a função plena da visão. Na maioria dos casos ainda permite que a pessoa tenha independência de óculos no pós-operatório. O que, convenhamos, para uma pessoa idosa faz uma enorme diferença”.