Conhecendo os pacientes com queimaduras

Estudo foi desenvolvido pela Faculdade de Medicina da UPF

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Projeto é desenvolvido pela Medicina da UPFProjeto é desenvolvido pela Medicina da UPF
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Conhecer o perfil dos pacientes com queimaduras atendidos no Hospital São Vicente de Paulo. Este foi o projeto de uma pesquisa, realizada no período de abril de 2015 a março de 2016, pela Universidade de Passo Fundo, através da Faculdade de Medicina. “Perfil epidemiológico de pacientes queimados atendidos na emergência de um hospital geral do Rio Grande do Sul”, foi o tema conduzido por uma equipe de pesquisadores, coordenada pelo professor Cassiano Mateus Forcelini. O trabalho preenche uma lacuna em nível nacional, pois no Brasil, não há estimativa de atendimentos às pessoas que sofreram queimaduras em serviços de saúde gerais. Os poucos trabalhos existentes são casuísticas vindas de poucos centros de referência em queimaduras, não refletindo o que acontece com a população em geral.

A proposta 

O estudo surgiu através da iniciativa do aluno da Medicina, Victor Antônio Brocco. Após elaboração do protocolo em equipe, recebeu a aprovação do Grupo de Pesquisa do Hospital São Vicente de Paulo e, depois, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UPF. O cenário de coleta de dados foi a emergência do Hospital São Vicente de Paulo. Segundo Brocco, os médicos ou residentes, logo após atenderem aos pacientes com queimaduras, preenchiam um cadastro para traçar o perfil dos afetados e as caraterísticas das lesões. “Imaginamos que as queimaduras têm uma incidência grande na população. Muitas pessoas chegam à emergência com queimaduras superficiais, não precisando de internação. Contudo, existem muitos casos em que são graves e decorrentes de causas simples que podem ser prevenidas. Além disso, há poucos dados sobre o assunto no país, o que me motivou para essa pesquisa”, explicou o acadêmico.

A equipe

Além do proponente Victor Antônio Brocco e do coordenador Cassiano Forcelini, participaram do projeto de pesquisa a estudante de Medicina Bárbara Colombo, o cirurgião plástico Junior Grandi, o médico e professor da UPF Daniel Navarini e a médica residente Luma Guareschi. “Achei importante essa iniciativa, porque não tínhamos muita oportunidade de trabalhar com pesquisa na faculdade. Foi uma experiência nova, de aprofundamento no assunto”, destacou Bárbara.

Os dados

Ao longo do estudo, 50 pacientes com queimaduras foram atendidos no setor de emergência do Hospital São Vicente de Paulo. “Segundo a pesquisa, a distribuição por gênero – homem e mulher – foi mais ou menos igual, e a idade média dos pacientes era de aproximadamente 26 anos. Metade dos pacientes atendidos era de empregados e tiveram, em grande parte, os acidentes no trabalho”, divulgou o coordenador do projeto. A pesquisa também revelou que muitos acidentes com queimaduras ocorreram em ambiente doméstico, envolvendo estudantes e aposentados. Além disso, 56% dos pacientes tiveram queimaduras de 2º grau, considerada grave, 21% de 1º grau e 22% de 3º grau. Dos 50 pacientes compilados na pesquisa, dois chegaram a falecer em decorrência da gravidade das queimaduras.

A relação queimadura – escolaridade

Segundo Forcelini, um importante resultado do trabalho é a relação entre o grau da queimadura e a escolaridade do paciente. “Uma das coisas que nos surpreendeu é que a extensão da queimadura é inversamente proporcional à escolaridade. Isso quer dizer que não influenciou tanto o tipo de trabalho que a pessoa fazia, ou como se queimou em casa. O dado importante foi que as pessoas com escolaridade maior tiveram queimaduras menos extensas, enquanto que as com escolaridade menor tiveram as queimaduras mais extensas, ou seja, mais graves”, explicou.

Descuidos cotidianos

Como a gravidade das queimaduras não teve tanta relação com a ocupação da pessoa, a pesquisa revelou que muitas vezes a falta de conhecimento e de escolaridade básica faz com que as pessoas menosprezem os riscos de poder acontecer uma queimadura em casa ou no trabalho. “Acender o fogo de uma churrasqueira com um frasco de álcool, manejar inadequadamente panelas no fogão e soltar fogos de artifício sem precaução alguma estão entre pequenos descuidos que podem causar graves lesões. Independentemente da ocupação, as pessoas, provavelmente por terem baixa escolaridade, não imaginam que pode ocorrer uma lesão grave de queimadura, e isso poderia ser evitado com cuidados preventivos”, disse.

Faltam centros de referência no atendimento a queimados

De acordo com o professor Cassiano Forcelini, no Rio Grande do Sul, há escassos centros de referência a pessoas com queimaduras, sendo o mais próximo localizado em Porto Alegre. “Nós não temos, na região, nenhum centro especializado em queimados, o que representa mais fidedignamente o que é uma realidade geral do país, infelizmente”, comentou. Um dos objetivos da pesquisa realizada pela UPF foi o de entender o perfil dos pacientes queimados atendidos na emergência de um hospital geral, refletindo a realidade provável do que ocorre em termos de queimaduras com a população. Conhecidos o perfil dos pacientes, as causas dos acidentes e os determinantes de gravidade, resta o compromisso de divulgação para comunidade leiga e científica. “Um dos objetivos é servir de alerta para os fatores de risco para queimaduras. Outro é o de sensibilizar os gestores dos serviços de saúde da região para que possamos criar um centro especializado no tratamento de queimados e atender melhor essas pessoas”, destacou o coordenador do trabalho.

No encaixe do perfil de Passo Fundo

Faltam centros de referência para atender queimados no Rio Grande do Sul.

Se Passo Fundo é considerado um polo em saúde, teria um perfil adequado para polarizar mais uma atividade referencial. Por esse motivo, a mobilização da comunidade para a criação de um centro especializado em queimaduras poderá contribuir para o melhor atendimento das pessoas afligidas por tais lesões. Além disso, fomentaria a especialização de profissionais em cirurgia plástica reconstrutiva e equipes de enfermagem na direção de um melhor atendimento aos pacientes da região norte do estado, sem que pacientes graves necessitem ser transferidos para cidades distantes para tratamento especializado. “Infelizmente, mesmo com a tragédia da Boate Kiss, não houve a criação de centros especializados no tratamento de queimados em cada macrorregião do estado. Hoje, se houver um acidente envolvendo queimaduras em muitas pessoas, ou mesmo poucas com grande extensão nas lesões, não há protocolo ou serviço para atendimento especializado aqui. Gostaríamos que essa pesquisa se tornasse, com o perdão do trocadilho, a fagulha para motivar um movimento em prol da criação de um centro especializado no tratamento de queimados em Passo Fundo”, justificou Forcelini. 

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