Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação na oferta de vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) para meninos de 11 a 15 anos incompletos.
Isso tornou o Brasil o primeiro país da América do Sul e o sétimo do mundo a oferecer a vacina contra o HPV para esses jovens em programas nacionais de imunizações. Além desse grupo, a oferta também foi ampliada para a cobertura de homens e mulheres transplantados e pacientes oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia. A medida inclui ainda cerca de 200 mil crianças e jovens, de ambos os sexos, de 9 a 26 anos vivendo com HIV/Aids.
O governo se esforça no combate ao HPV, mas mitos e desinformação em relação à vacina geram resistência na adesão da imunização, que é uma das principais formas de prevenção do câncer ginecológico, que em 2015 matou mais de 13 mil mulheres no Brasil e mil no Rio Grande do Sul, conforme dados do DataSUS.
A vacina também é ofertada para meninas de 9 a 15 anos, desde 2014. A inclusão dos meninos na campanha é para aumentar a proteção de meninas. A meta para 2017 é vacinar 80% dos 7,1 milhões de meninos de 11 a 15 anos e das 4,3 milhões de meninas entre 9 e 15 anos. Os jovens precisam tomar duas doses da vacina quadrivalente, com um intervalo de seis meses entre as doses, para ficarem protegidos contra os quatro tipos mais comuns do vírus.
O principal câncer secundário ao HPV é o do colo do útero. Mas os cânceres de vulva, da vagina, do ânus, do pênis e da boca e garganta também são causados pelo Papilomavírus. Conforme o oncologista clínico do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN) e diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Alvaro Machado, a vacina quadrivalente protege contra quatro subtipos de HPV, dois dos quais são altamente carcinogênicos. “Reduzindo a incidência de infecção pelo HPV, reduz, por consequência, o desenvolvimento do câncer secundário ao HPV”, explica Machado.
A ampliação da oferta da vacina é um avanço importante no combate ao HPV. “A ampliação de indicação visa proteger uma população que é mais sensível aos efeitos do vírus devido à imunossupressão do tratamento ou da doença de base. É importante salientar que o candidato à vacina deve ser negativo para os subtipos 6, 11, 16 e 18 do HPV”, informa o oncologista clínico do CTCAN.
Entre as principais formas de prevenção está a vacinação contra o HPV. “A vacina deve ser dada a quem não teve contato com o HPV ainda. A faixa etária de 9 a 15 anos tem mínima chance deste contágio, sendo maior o sucesso de imunização. Se conseguirmos universalizar a vacinação contra HPV, será interrompida a sua disseminação, o desenvolvimento da infecção e do câncer”, destaca Machado.
Mitos e desinformação
Mesmo sendo disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nos postos de saúde, a adesão do público-alvo nas campanhas de vacinação é um dos principais desafios e causas do elevado índice de vacinas a vencer, segundo o Ministério da Saúde.
Ainda conforme dados do Ministério da Saúde, divulgados no final de junho deste ano, em agosto há um estoque de 231 mil vacinas de HPV para vencer. Até 2018, o estoque de vacinas a vencer deve chegar a 1,6 milhão de doses. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) considera aceitável a perda de até 5% das vacinas distribuídas aos postos de vacinação, em função de condições logísticas e operacionais.
Para o oncologista do CTCAN, a falta de adesão é consequência de mitos e desinformação em relação à vacina contra o HPV. “Na internet vemos inúmeras baboseiras sobre vacinas. As vacinas são seguras, testadas em milhares de pessoas e, hoje já administradas a milhões de indivíduos no mundo todo. A Austrália, primeiro país a disseminar o uso da vacina contra o HPV, reduziu os cânceres de colo uterino em 50%”, revela Machado.
Estudos internacionais recentes também indicam a eficácia da vacina na prevenção das infecções pelo HPV. Uma pesquisa norte-americana aponta que a vacinação nos Estados Unidos resultou na queda de 88% da infecção oral por HPV.