Desde janeiro deste ano, a Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, que este mês comemora 30 anos, registrou 211 doadores, sendo que 568 foram notificados como potenciais doadores. No ranking de doadores efetivos por estados brasileiros, entre janeiro e junho de 2017, o Rio Grande do Sul é o terceiro colocado, ficando atrás de São Paulo e Paraná.Nos primeiros oito meses do ano foram feitos 488 transplantes de córneas; 376 transplantes de rim; 87 de fígado; 31 de pulmão; e 14 de coração. Até agosto de 2017, 872 pessoas estavam na lista de espera por um rim; 145 pessoas esperavam um fígado; 170 por um transplante de médula óssea; 85 na lista de espera por pulmão; 16 de córnea; e 17 por um coração. Os números foram apresentados esta semana, pois o dia 27 é comemorado o Dia Nacional de Doação de Órgãos
O Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo, referência também em transplantes, registrou até agora a doação de três fígados, 14 rins, um pulmão e 16 córneas. Em 2016 foram captados, 32 córneas, 22 rins, 10 fígados. Em relação ao número de transplantes realizados na instituição em 2017 foram, seis de fígado, 11 de rim e 27 de córneas. Já em 2016 foram realizados 32 transplantes de córnea, 17 de rins e 17 de fígado. Segundo o coordenador da Organização por Procura de Órgãos e Tecidos (OPO-4RS) Cassiano Crusius, o número das doações está abaixo do esperado e isso se reflete na questão da negativa familiar que ainda é maior causa de não doação. “Na nossa região existe um quantitativo alto quanto a negativa familiar a doação. Os motivos são muitos, mas o principal é a falta de conversa sobre a doação e também os receios da família em relação a morte encefálica. É preciso deixar claro que, os procedimentos para a comprovação da morte encefálica são realizados por uma equipe multiprofissional especializada e são totalmente seguros”, salienta Crussius reforçando ainda que morte encefálica e coma são diferentes, onde no coma a pessoa está em estado vegetativo e na morte encefálica o cérebro está parado, ou seja, não há mais atividade cerebral.
A única maneira de tornar-se doador é com autorização da família, por isso o desejo deve ser transmitido aos familiares. Segundo integrantes da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) a conversa com a família é a melhor forma de expressar o desejo da doação e facilitar a decisão da família. “Apesar de todo o sofrimento que a família está passando pela perda de um ente querido, eles precisam entender que, podem fazer o bem para outras pessoas que estão na fila por um transplante. Quando a doação é manifestada ou não em vida, a decisão se torna mais fácil para a família que está consternada pela perda”, esclarecem.
Dilamar Braga, 33 anos, de Pontão, é um dos 77 pacientes que esperam por um rim, na lista do HSVP. Devido a problemas renais crônicos, há cinco anos ele faz hemodiálise três vezes na semana. “Minha vida mudou totalmente depois que comecei a terapia renal substitutiva. Parei de trabalhar, parei com os esportes é uma mudança muito grande”, relata o paciente que espera ansioso pelo dia em que sua vida mudará novamente. “É uma espera angustiante. Não sei se vai ser hoje, amanhã ou ano que vem. Eu sei que dependo de uma doação e nem consigo imaginar como vai ser quando esse dia chegar”, comenta Dilamar fazendo um apelo à população. “A doação de órgãos é muito importante, são muitas pessoas esperando por um transplante. Uma vida será renovada, transformada a partir de um sim de uma família”.
Corrida contra o tempo
A CIHDOTT e a OPO4-RS são as equipes responsáveis pelo suporte à família de doadores e aos transplantados. Estes setores são responsáveis por encaminhar pacientes para lista de espera, organizar a documentação de liberação para que a doação seja efetivada, comunicar ao paciente que receberá a doação e acompanhar todo o procedimento desde a chegada do doador até a realização do transplante de órgão. “O processo de doação as vezes é demorado. Uma série de exames são realizados para identificar alguma contraindicação à doação, e também para saber a compatibilidade deste doador com outras pessoas. Depois a Central de Transplantes, localizada em Porto Alegre, analisa a lista de espera para ver se há um receptor disponível para receber o órgão. Localizado esse paciente, ele tem que se deslocar até o hospital transplantador, para que então, o procedimento de retirada dos órgãos do doador inicie”, exemplifica Crusius.
Após a retirada do órgãos, inicia uma corrida contra o tempo, para que o órgão chegue até o paciente que irá ser transplantado. “Após a retirada, o fígado deve ser transplantado em até seis horas, os rins em até 12 horas e o pulmão e coração em quatro horas. As filas de espera por um transplante são controladas pelas Centrais de Transplantes, de tal forma que os critérios médicos e a ordem de inscrição são totalmente respeitados”.
Vidas transformadas
Durante todo o mês de setembro, o HSVP desenvolveu nas redes sociais a campanha #SetembroVerde com o intuito de falar sobre a doação de órgãos, sanar dúvidas e contar histórias de quem felizmente recebeu um órgão. Nesta campanha recebemos o apoio de várias pessoas. O Movimento Hip Hop de Passo Fundo foi um dos apoiadores e nos enviou um jingle que fala sobre a doação de órgãos. Um dos trechos diz “A morte não precisa ser o fim como se pensa, transforme o seu ponto final em reticencias”, expressando todo o sentimento de continuidade da vida presente no gesto da doação e transplantes.
O sim a doação de uma família permite a continuidade da vida, como no caso do senhor Paulo Molinos, 53 anos, Passo Fundo, que ao recebeu um fígado e uma nova chance de vida. “Desde o momento em que os médicos me falaram que eu precisava de um transplante, até a madrugada em que recebi a ligação de que teria um fígado para mim, a espera foi de nove meses. Mas graças ao suporte da equipe do HSVP, essa espera foi muito tranquila, o transplante e o pós-operatório correram bem”, relata Paulo, que é grato pela doação. “As pessoas precisam conversar sobre a doação de órgãos, esclarecer as dúvidas porque ainda é um assunto complicado pelas questões culturais e religiosas. Mas eu sou um exemplo, estar dando este depoimento é uma forma de mostrar que a doação é muito importante, que salva e transforma vidas”.