Existe uma preocupação mundial acerca da atenção à saúde das pessoas idosas. Nos países em desenvolvimento, o ritmo de envelhecimento é acelerado e tanto o sistema de saúde quanto as instituições encontram dificuldades para se adaptar e oferecer serviços de qualidade aos idosos. No Brasil, no ano de 2010, 11,3% da população tinha idade igual ou superior a 60 anos, com projeção para 22,7% em 2050. Os estudos sinalizam que a longevidade é alcançada por uma considerável parcela da população, porém, sob as precárias condições de vida e com recorrentes internações. A desnutrição hospitalar é um dos problemas de saúde pública e está associada diretamente ao aumento significativo de morbidade e mortalidade. No Brasil, estima-se que 48,1% dos pacientes internados estejam desnutridos. Os idosos possuem taxas elevadas de internação hospitalar e permanência mais prolongada em comparação com os demais grupos etários, consequentemente, gerando a necessidade de maior demanda de recursos financeiros, humanos, físicos e materiais.
Em busca do perfil
Tendo em vista as especificidades do cuidado à pessoa idosa e as fragilidades de grande parte desta população, os residentes da Residência Multiprofissional Integrada, do Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo, Universidade de Passo Fundo e Prefeitura de Passo Fundo, juntamente com os profissionais da Emergência sentiram a necessidade de estudar qual o perfil nutricional, de saúde/doença e também terapêutico dos idosos atendidos na Emergência do HSVP. A pesquisa foi realizada pelas profissionais, Adaize Mognon (nutricionista), Daniel Camini (enfermeiro), Jaíne Busanello (farmacêutica) e Nayam Rafaela de Freitas Picoli (nutricionista). Com supervisão dos preceptores Tatiana Pacheco Rodrigues (nutricionista), Maristela Rodrigues (enfermeira) e Francine Buhler (farmacêutica), o trabalho teve como objetivo descrever as características da população idosa atendida pela Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso no período de setembro a outubro de 2017.
Números para sensibilizar
“A partir dos resultados obtidos, a proposta é sensibilizar profissionais de saúde quanto às particularidades no atendimento das pessoas idosas, bem como, alertar a população geral sobre os cuidados, sinais e sintomas de complicações referentes ao estado nutricional deste grupo populacional”, destacam os profissionais. A equipe explica que foram avaliados 100 idosos atendidos com idade média de 73,5 anos e a maioria era do sexo masculino (52%). Em relação ao diagnóstico da internação, prevaleceram as doenças do sistema respiratório com 20% dos investigados, seguidos problemas ortopédicos (19%), neurológicos (17%), oncológicas (10%), trato urinário (5%), apenas 3% dos avaliados possuíam causas não identificadas e 2% por doença renal. Quanto às doenças associadas, identificou-se que a maioria possuía o diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica. Quanto aos sintomas gastrointestinais, 51% dos pacientes relataram não ter, 17% relatou constipação, 17% náuseas e vômitos e 10% referiu diarreia. Referente à dentição, foi possível observar que 55% possuía completa com prótese, 27% incompleta, 16% com dentição totalmente ausente e apenas 2% referiu dentição completa natural.
Alerta para a capacitação
Ao analisar se o idoso atendido pela emergência tem conhecimento sobre as medicações das quais faz uso em domicílio, 52% deles demonstrou não saber quais medicamentos de uso contínuo utilizam, 30% revelou saber alguns, mas não na sua totalidade e apenas 18% revelou saber todos os medicamentos que faz uso. “O estudo demonstrou uma importante deficiência dos idosos sobre o conhecimento dos medicamentos de uso contínuo. Essa deficiência pode acarretar em prejuízos à saúde dos mesmos e sugere a necessidade de um acompanhamento fármaco-terapêutico para um processo de capacitação de pacientes, em especial, dos portadores de doenças crônicas que fazem uso contínuo e em grande variedade de medicamentos”, alertam os pesquisadores.
O estado nutricional dos pacientes idosos
Em relação à análise do estado nutricional, de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), 43% foram classificados desnutridos, seguido de eutrofia (boa nutrição) em 40% e sobrepeso em 17% dos avaliados. Conforme a equipe, em pacientes hospitalizados, a desnutrição é causada pela combinação de fatores inerentes à sua condição clínica e ao seu tratamento, que podem acontecer antes, durante e até depois da internação. Essas condições incluem doença de base, comorbidades agudas ou crônicas, efeitos colaterais de medicamentos, inatividade física, deficiência na oferta e ingestão de alimentos, fatores psicológicos, além de negligência das equipes de saúde quanto aos aspectos nutricionais em detrimento de outros cuidados. São muitas as condições que podem causar dificuldade na ingestão alimentar e anorexia, além de procedimentos de investigação, necessidade de alteração da dieta e constante jejum.
Fatores da desnutrição
“Observamos que 43% dos investigados apresentam algum grau de desnutrição. Com o avançar da idade, é comum haver perda de peso involuntária, redução do apetite e alterações fisiológicas que favorecem a desnutrição no idoso. A anorexia causada pela redução do apetite contribui para o desenvolvimento e a progressão da sarcopenia, que é uma variável utilizada para definição da síndrome de fragilidade, prevalente em idosos, gerando maior risco de quedas, fraturas, hospitalização e mortalidade”. Ainda, a partir da pesquisa, os profissionais concluíram que o declínio da sensibilidade olfativa e gustativa interfere diretamente no estado nutricional do idoso, pois há redução de cerca de 60% das papilas gustativas, se comparada às de um adulto, o que resulta em diminuição dos sabores, tornando os alimentos menos apreciados e desejados. “A deglutição é o processo dependente de estruturas como a cavidade oral, faringe, laringe e esôfago, que leva o alimento até o estômago em uma consistência apropriada, e uma das doenças decorrentes da deglutição, é a disfagia, que vem sendo relacionada fortemente à desnutrição. Na pesquisa, foram encontrados, 27% dos investigados com dentição incompleta e 16% com dentição totalmente ausente. A perda dentária está diretamente relacionada com o estado nutricional do idoso, uma vez que, ao não conseguirem mais cortar e mastigar os alimentos de maneira adequada, estes acabam optando por alimentos de fácil ingestão, muitas vezes, menos nutritivos”.
Um perfil para definir condutas
Com essas informações disponíveis, os profissionais concluíram que o perfil encontrado neste estudo reflete a realidade das emergências hospitalares, demonstrando as condições gerais de saúde desta população. “A partir dos resultados encontrados, será possível estabelecer estratégias de cuidados relacionados à prevenção de complicações oriundas da desnutrição em idosos. É imprescindível que os profissionais de saúde saibam identificar o aspecto geral do paciente emagrecido e investigar de forma adequada a história de perda de peso recente involuntária, qualidade da alimentação e da dentição de forma imediata à internação”, avaliaram. Ainda reiteram que a avaliação inicial define as condutas necessárias para que a equipe multiprofissional estabeleça metas de atendimento compatíveis com as necessidades nutricionais do paciente com vistas a sua recuperação. “A realidade observada através deste estudo, demonstra o quanto o idoso e sua família ainda necessitam de orientações especializadas para manter o estado nutricional saudável e/ou alimentação adequada”.