Por muitos motivos, fala se hoje em postergar a gestação. Postergamos a maternidade para estudar, entrar no mercado de trabalho, comprar uma casa, um carro, ter condições financeiras para sustento da prole, nós mulheres mudamos os hábitos. Enquanto nossas avós tinham filhos aos 15 anos, hoje queremos ter aos 40. Porém toda a mudança de hábitos e atitudes implica em consequências. Percebe se um desconhecimento grande da mulher em relação ao funcionamento do organismo e, principalmente, ao funcionamento ovariano. Devemos estar cientes de que o feto feminino carrega em seu ovário aproximadamente 2 milhões de folículos na época de seu nascimento. É o folículo que libera o óvulo (óvulos são as células germinativas da mulher), até chegar à puberdade esse número já diminuiu para 200 ou 400 mil. Desses apenas 300 a 400 irão maturar, chegando à ovulação, somando se a isso todo o período de vida fértil da mulher. Quanto mais perto da menopausa maior será a sua diminuição, chegando a menos de 1000 folículos na menopausa, a qual ocorre, em média, aos 50 anos.
Redução folicular
No período que antecede a menopausa, o número reduzido de folículos provoca diminuição acentuada da fertilidade. Muitos estudos mostram que esse período crítico tem início 13 anos antes da menopausa, aos 37 anos, portanto, para uma menopausa esperada aos 50. Porém, não podemos esquecer que há outra parcela de mulheres que acaba menopausando mais cedo e durante esse período de 13 anos que antecede não há sinais clínicos que possam orientar a mulher sobre sua reserva folicular. Alterações menstruais com diminuição do intervalo e ciclo irregular costumam ocorrer somente 2 a 3 anos antes da última menstruação. A diminuição do patrimônio folicular e a queda crescente da fertilidade são fenômenos silenciosos. Além de diminuir progressivamente com a idade, a reserva ovariana pode ser ainda menor se for associada a cirurgias ovarianas prévias, endometriose ou exposição aos gonadotóxicos.
Congelamento de óvulos
Podemos ter uma ideia da reserva ovariana, ou seja, do patrimônio folicular (quantidade de folículos no ovário) quando solicitamos um exame chamado Hormônio Anti-Mülleriano, exame de sangue que pode ser solicitado pelo ginecologista geral ou pelo especialista em reprodução, para as pacientes que desejam postergar a gestação. Além de diminuir a taxa de gestação, o aumento da idade da mulher amplia as probabilidades de aborto espontâneo, de malformações fetais, de complicações gestacionais, piorando o prognóstico reprodutivo da mulher. Hoje, para tentar preservar a fertilidade realizamos congelamento de óvulos ou congelamento embrionário, onde, após congelar, a paciente escolhe a melhor hora para gestar, adequando-se ao seu estilo de vida. Ressaltando que quanto mais precoce for esse congelamento, maiores serão as taxas de gestação. Preconiza- se o congelamento até os 38 anos de idade e, pode ser realizado após, porém a qualidade dos óvulos é menor e a taxa de gravidez com esses óvulos também será mais baixa e devemos esclarecer isto à paciente antes de iniciar todo o processo. As mulheres devem atentar para a fertilidade, pois o envelhecimento ovariano é inevitável e o relógio biológico é implacável. Já conseguimos retardar o envelhecimento físico através dos mais variados tratamentos estéticos. Porém é importante lembrarmos que o envelhecimento ovariano, até o presente momento, ainda não tem solução.