A proteína do leite é importante para funções do organismo. A nutricionista Paula Caroline de Oliveira, que atua no Hospital da Cidade de Passo Fundo, com base em extensa pesquisa, explica sobre a importância do leite, da amamentação às outras fases da vida. O leite é um alimento nutritivo, principal fonte de cálcio, sendo essencial para o crescimento e manutenção da saúde. A importância do leite na alimentação diária é indiscutível, devido à sua riqueza em nutrientes e, ainda, por proporcionar um conjunto equilibrado e abrangente de benefícios para a saúde humana, promovendo o crescimento, contribuindo para a formação e renovação do tecido ósseo, regulando o sistema nervoso e aumentando a resistência a doenças infecciosas. O consumo de leite é importante nos diversos períodos da vida. O leite materno, primeiro alimento do bebê quando nasce, é essencial para seu crescimento e desenvolvimento orgânico e funcional, pois é rico em gorduras, vitaminas e minerais indispensáveis para o desenvolvimento do sistema imunológico, preparando o organismo do bebê contra várias doenças. É indispensável que até os seis meses de idade o aleitamento materno seja a principal fonte alimentar da criança. No entanto, se por algum motivo não for possível amamentar, os melhores substitutos são as fórmulas infantis, ou seja, os leites modificados.
Infância e adolescência
Depois da amamentação, a importância do leite continua ao longo de toda a vida. Na infância, participa no desenvolvimento e formação do organismo fornecendo proteína, sais minerais e gordura; na adolescência, o leite fornece condições para o rápido crescimento com ótima constituição muscular, óssea e endócrina. E, para pessoas idosas, é fonte principal de cálcio, fundamental na manutenção da integridade dos ossos. Durante a adolescência, a ingestão adequada de cálcio é fundamental, pois 95% da quantidade total de cálcio dos ossos depositam-se entre os 18 e 22 anos. E nas mulheres, mais de 51% do pico de massa óssea é acumulado durante a puberdade.
Aminoácidos
A qualidade nutricional das proteínas depende do seu teor em aminoácidos essenciais, da sua digestibilidade e da biodisponibilidade dos seus aminoácidos. A alta qualidade das proteínas lácteas é marcada pela presença, em várias quantidades, de todos os aminoácidos essenciais, o que confere as proteínas do leite elevado valor biológico; além disso, o padrão de distribuição desses aminoácidos nas proteínas lácteas assemelha-se ao que se julga ser necessário ao ser humano. Apenas os aminoácidos sulfurados (metionina e cistina) são relativamente pouco presentes nas proteínas lácteas, enquanto a quantidade de lisina é elevada e complementa proteínas de outras fontes alimentares deficitárias neste aminoácido.
Quantitativa e qualitativa
As proteínas são moléculas essenciais para o organismo animal, devendo, portanto, estar presentes na alimentação em quantidades adequadas. Além do aspecto quantitativo deve-se levar em conta o aspecto qualitativo, isto é, seu valor nutricional, que dependerá de sua composição, digestibilidade, biodisponibilidade de aminoácidos essenciais, ausência de toxicidade e de fatores antinutricionais. Tanto as proteínas do leite como as das carnes possuem todos os aspectos quantitativos e qualitativos, devemos ficar atentos na substituição das proteínas animais por proteínas vegetais, as últimas não possuem todos os aspectos qualitativos.
Proteína do soro
O whey protein contém altas concentrações de aminoácidos essenciais em relação a outras fontes proteicas, além de ser rapidamente absorvido. O perfil de aminoácidos das proteínas do soro é muito similar ao das proteínas do músculo esquelético, fornecendo quase todos os aminoácidos em proporção similar às do mesmo, classificando-as como um efetivo suplemento anabólico. Além da relação com o processo de hipertrofia muscular, alguns estudos demonstram os efeitos benéficos das proteínas do soro de leite sobre o sistema imune e sobre o processo de redução da gordura corporal, além de amenizar a fadiga muscular.
Saúde muscular
Os efeitos do consumo de leite sobre a saúde muscular também têm sido discutidos, devido ao seu alto teor de proteínas de alta qualidade, como a caseína e as contidas no soro do leite. Em particular, o whey protein, tem demonstrado efeitos promissores em vários aspectos de saúde, como no ganho de massa muscular, no controle da obesidade e diabetes mellitus tipo 2, podendo-se especular que estes últimos resultados se referem ao efeito sobre a saciedade desempenhada pelas proteínas presentes no soro do leite. As proteínas do soro do leite têm um teor elevado de aminoácidos essenciais de cadeia ramificada (BCAA), em particular a leucina, o que, provavelmente é o motivo pelo qual é atribuído a esse aminoácido a eficiência na síntese de proteínas como um todo e em específico de massa muscular por ativar vias anabólicas neste tecido.
Queijos e iogurtes
Os iogurtes e queijos são bons substitutos para quem não gosta de beber leite. Os iogurtes, além de conservarem as características nutricionais do leite, têm também outras características que podem ser bem exploradas. A maior popularidade do iogurte está no fato deste produto associar prazer, conveniência, sabor, aspectos nutritivos e benefícios à saúde numa boa medida, além de contribuir para o consumo de proteínas (necessárias na construção, reparação e renovação dos tecidos do corpo, participam da produção de anticorpos, hormônios, enzimas e aminoácidos). É naturalmente rico em sais minerais como cálcio, fósforo, potássio, zinco (aumenta a ação de enzimas que combatem os radicais livres, retarda o envelhecimento e favorece o crescimento e fortalecimento dos cabelos), além de conter riboflavina (vitamina B2), ácido pantotênico (vitamina B5), folato (vitamina B9) e vitamina B12. O iogurte integral contém ainda boas quantidades de vitamina A. Assim como os iogurtes, os queijos também são alimentos fundamentais para uma vida saudável, ricos nos nutrientes encontrados no leite. Portanto, devemos usar a criatividade e encontrar alternativas para incluir o leite e seus derivados na nossa alimentação diária.
Restrições ao consumo e intolerância
A restrição ao consumo de leite de vaca se dá em crianças que apresentam alergia à proteína do leite de vaca (APLV), e a redução do consumo nas pessoas que desenvolvem intolerância à lactose, uma vez que grande parte desses indivíduos chega a tolerar 11g a 12g de lactose/dia, sem apresentar sintomas adversos. É importante ressaltar a diferença de ambas, pois a APLV ocorre quando o sistema de defesa do organismo reage às proteínas do leite de vaca, ele as reconhece como “corpos” estranhos. A APLV é uma reação específica às proteínas do leite, os sintomas podem ser gastrointestinais (vômitos, diarreia, fezes com sangue), de pele (vermelhidão, coceira, descamação), respiratórios (dificuldades para respirar, chiados no peito). Já a intolerância à lactose aparece quando o organismo tem dificuldade para digerir e absorver o açúcar do leite (lactose), devido à diminuição ou ausência da lactase, enzima que digere a lactose, os sintomas podem ser diarreia, vômitos, dores abdominais, gases. Somente um médico pode atestar se é alergia ou intolerância. E a restrição/diminuição também se estende a pessoas com determinadas doenças, como Doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, úlcera, gastrite (o leite estimula a produção de suco gástrico, o que pode piorar o quadro), entre outros problemas já existentes que possam ser agravados com o consumo da bebida. O leite integral, por exemplo, pode agravar sintomas de refluxo em pessoas que já têm esse problema. A gordura, de um modo geral, retarda o esvaziamento gástrico e propicia o surgimento dos sintomas.