Notícias falsas desafiam a vacinação

Doenças erradicadas como o sarampo voltam a assustar

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Dr. Jeovany Martínez Mesa é professor do curso de Medicina da ImedDr. Jeovany Martínez Mesa é professor do curso de Medicina da Imed
Dr. Jeovany Martínez Mesa é professor do curso de Medicina da Imed
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Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de eliminação da circulação do vírus de sarampo. No Rio Grande do Sul, só neste ano, são seis casos confirmados. No Amazonas e em Roraima, a situação é ainda mais alarmante, são cerca de 500 casos confirmados e mais de 1,5 mil em investigação. Dados do Ministério da Saúde mostram que a aplicação de todas as vacinas do calendário adulto está abaixo da meta no Brasil – incluindo a dose que protege contra o sarampo. Entre as crianças, a situação não é muito diferente – em 2017, apenas a BCG, que protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta de 90% de imunização. Em 312 municípios, menos de 50% das crianças foram vacinadas contra a poliomielite. Apesar de erradicada no país desde 1990, a doença ainda é endêmica em três países – Nigéria, Afeganistão e Paquistão.

Fake News
O doutor em Epidemiologia Jeovany Martínez Mesa, professor do curso de Medicina da Imed, entende que o panorama atual acerca da vacinação deve-se também à circulação das fake news. “As notícias falsas podem influenciar o rumo de uma eleição, ou de algum outro processo do tipo, elas também podem modificar condutas em relação à saúde. Assim, do mesmo jeito que uma comissão de campanha eleitoral fica atenta para contra resposta a tais fatos, em saúde precisamos fazer a vigilância contínua destes movimentos e nunca subestimar o impacto negativo que elas poderão vir trazer. Acho que os movimentos antivacina foram além do esperado”, comenta. As políticas públicas e ações permanentes são a solução para evitar o retorno das doenças erradicadas e evitar também que outras não erradicadas, mas sob controle, voltem a tomar dimensões catastróficas para a saúde pública. “O problema é complexo, mas plausível de ser entendido e modificado. Adotar um modelo de atenção centrado na pessoa, na família e não mais na doença parece ser imprescindível para modificar tal realidade”, explica o professor.

Saúde coletiva
No Brasil?, a consolidação do SUS e d?entro dele ?a? reafirmação da? ?Estratégia da ?Saúde da ?Família, como carro chefe na atenção primária à saúde? faz parte da solução para a melhora dos indicadores de acesso e utilização do Programa Nacional de Imunizações. “Os desafios são vários. Um deles seria entender que a vacinação não deveria ser considerada como um direito individual, mas sim como uma questão de saúde coletiva. Tendo em vista que se a vacina não for feita muita gente poderá vir adoecer e até morrer. Isto porque é sabido que quanto maior o número de pessoas vacinadas, menor a chance de circulação de uma determinada doença na população”, comenta o professor Jeovany.

 

Risco e gravidade
De acordo com o epidemiologista, é necessário que as pessoas entendam que fazem parte do grupo de risco para determinadas doenças. “Além de uma sexualidade responsável que inclui o uso de camisinha em todas as relações, o melhor jeito para erradicar o câncer de colo de útero e bloquear a circulação do vírus HPV é vacinação. Para evitar casos graves, como os de influenza, que podem levar o indivíduo à morte, precisamos falar com os grupos de risco para realizar a vacina e contribuir para desconstruir mitos, como aquele de que quem toma a vacina adoece de gripe. O esquema vacinal das crianças deve ser cumprido à risca em tempo hábil para evitar lamentações desnecessárias”, alerta.

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