Aos 43 anos, Patrícia, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Sentia-se feliz, formada em Administração pela Imed, ela estava iniciando uma nova jornada profissional, havia passado na seleção de um novo emprego. O resultado veio em julho de 2017, três dias antes de dar início aos procedimentos para começar no trabalho, ao fazer exames de rotina. Totalmente fora do grupo de risco já que nunca fumou, não consome bebidas alcoólicas, não é obesa, amamentou os dois filhos e não teve casos desse tipo de câncer na família, ficou surpresa com o resultado, pois nem havia percebido qualquer caroço ou dor. “Fiz a mamografia, durante o exame de ultrassom de mamas, percebi que havia algo errado e pedi para o médico o que estava acontecendo. Ele me explicou que na mamografia tinha aparecido uma lesão na mama esquerda e no ultrassom ele conseguiu confirmar outra. Me encaminhou para conversar com um mastologista e pedir uma biópsia para confirmar. Fiz biópsia e sim foi confirmado o diagnóstico de câncer”, relata Patrícia.
Vai passar...
A vida de Patrícia, após a confirmação, mudou totalmente. Viu o sonho profissional ser adiado e mais uma vez a família e amigos passaram por incertezas, pois aos 37 anos ela já havia sido diagnosticada com um tumor cerebral. “Entrei em um mundo totalmente diferente, mas sempre cercada por anjos que foram essências para superar todas essas fases. A oncologia começou a ser o lugar mais frequentado, com profissionais de várias especialidades para dar suporte ao paciente, fisicamente e psicologicamente, que me ajudou a entender que simplesmente acontece, e sim tem muita vida pela frente. Desta forma começou minha vida com o câncer: consultas, exames, internações, 18 aplicações de quimioterapia, o corpo e o psicológico tentando se adaptar à droga. Não é fácil, mas passa. A frase mais usada durante o processo foi ‘vai passar...’, comenta a administradora”.
Superando barreiras
Ao olhar-se no espelho, Patrícia já não se reconhecia mais. Porém, o objetivo de seguir até o fim e superar as barreiras impostas pela doença fizeram com ela não desistisse. Ao receber a notícia de que o câncer havia sido superado, as incertezas tomaram conta mais uma vez. Era hora de decidir se gostaria de fazer a reconstrução mamária. “Não queria ficar mutilada! Mas como algumas pessoas me diziam que o importante era a cura indiferente do procedimento foi através de excelentes profissionais que mais uma vez eu encontrei confiança”, explica. O procedimento de retirada foi realizado. “A retirada de toda a mama e colocação da prótese de silicone foi a fase mais fácil de todo o processo. A pele foi preservada, já que minhas lesões eram mais profundas e a recuperação foi rápida. Claro que com cuidados, o resultado foi excelente, estou muito feliz” declara.
Exames periódicos
Atualmente, um ano após o diagnóstico, Patrícia faz tratamento de hormonioterapia para câncer de mama. “A importância dos exames de diagnósticos periódicos é essencial para descobrir o câncer em seu estágio inicial. Ele é silencioso e nem sempre temos sintomas, como foi no meu caso, e não existe grupos de riscos, nós mulheres formamos esse grupo de risco”, alerta Patrícia. Outras ‘Patrícias’ são acometidas pelo câncer de mama, é o tipo que mais atinge a população feminina mundial e brasileira, de acordo com dados do Ministério da Saúde. No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, é o de maior incidência em mulheres de todas as regiões, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa a primeira posição. Em 2016, foram estimados 57.960 casos novos, o que representa uma taxa de incidência de 56,2 casos por 100.000 mulheres.
Remoção ou reconstrução da mama
Ao receber o diagnóstico do câncer de mama, uma das dúvidas que surge nas mulheres é saber se será necessário remover a mama para tratar a neoplasia. O estágio da doença, tamanho do tumor, entre outros, são fatores que determinam qual será a abordagem para que o câncer deixe de ser uma preocupação. Em alguns casos, principalmente quando a doença é descoberta precocemente, é possível conservar a mama. Em outros, a única alternativa é a remoção (mastectomia). Seja qual for a situação, a evolução das técnicas cirúrgicas tem ajudado a minimizar as sequelas causadas pelo câncer de mama e sua utilização, facilitado a recuperação, quando empregadas por um médico cirurgião plástico.
Em dois tempos
De acordo com a professora do curso de medicina da Imed, a cirurgiã plástica Danielle Negrello, a reconstrução da mama pode ser feita em dois tempos. “A reconstrução imediata é realizada no instante em que a mama é retirada. Neste caso, no mesmo tempo cirúrgico a mama é reconstruída. Em outras situações em que as pacientes necessitam tratamento complementar como radioterapia, quimioterapia ou possuem algum outro problema de saúde que impeça de fazer a reconstrução neste primeiro momento, realizamos em um segundo tempo e chamamos de reconstrução tardia. A paciente fará todo seu tratamento e só depois, quando estiver curada, é feita a reconstrução. Esses dois tempos são primordiais. O que irá definir se será imediata ou tardia vai ser o quadro clínico de cada paciente”, explica a professora.
Recuperação lenta
Como qualquer cirurgia, esse procedimento também pode apresentar complicações. “Hematomas e seromas - acúmulo de sangue ou líquido junto do implante, infecção, deiscências da ferida operatória e abertura dos pontos. Porém, todas essas complicações não são frequentes e podem ser tratadas. Além da recuperação mais demorada comparada com uma cirurgia completamente estética”. comenta a Dra. Danielle. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), há legislação vigente que prevê o direito do procedimento de reconstrução da mama às mulheres atendidas pelo SUS. Aprovada em 2013, a Lei 12.802 que completou cinco anos em 2018, estabelece o direito à paciente em reconstruir a mama no mesmo procedimento cirúrgico da mastectomia, quando houver condições técnicas.
Prótese durável
Atualmente, não existe mais prazo de validade para prótese de silicone. A evolução dos materiais utilizados melhorou muito a qualidade do implante. Antigamente existia o prazo de 5 ou 10 anos e se comentava que era necessário fazer a troca da prótese. “Independente de a prótese ser colocada para fins estéticos ou para reconstrução não existe mais esse prazo” enfatiza a professora Danielle. Com o passar do tempo, pode ser 5 meses ou 10 anos, algumas pacientes podem evoluir para a contratura capsular. Ou seja, em determinado período da vida o paciente começa a sentir a mama mais endurecida, aumento de tamanho devido acúmulo de líquido ao redor do implante. “Nestes casos, muitas vezes, é feita a troca da prótese, mas não é uma rejeição, é como se fosse um processo inflamatório referente ao corpo estranho que é o próprio implante”, explica a médica.
Dois caminhos
Quando a cirurgia for feita de forma imediata, o mastologista retira o câncer e o cirurgião plástico entra para reconstruir. Existem dois caminhos nesse momento: Em alguns casos, quando a cirurgia é mais conservadora, ou seja, o tumor é menos agressivo ou menor, a prótese é implantada imediatamente, no mesmo espaço onde estava a mama. Em tese, a paciente já sai com a mama reconstruída e vai passar apenas por procedimentos para refinamento. “Em alguns casos em que é necessário retirar a pele da mama junto com o tumor temos a opção do expansor tecidual que funciona como uma prótese vazia (murcha) em que é colocado na posição em que deveria existir a mama. A paciente fica visualmente como se não tivesse nada, faz os tratamentos de quimioterapia e radioterapia e após isso iniciamos a expansão do tecido, como se fosse um balão, vamos enchendo com soro fisiológico no consultório até chegar ao volume desejado para depois trocá-lo pelo implante. Em alguns casos quando a ressecção da pele foi muito extensa precisamos associar um retalho composto de pele e músculo para auxiliar na cobertura do expansor”, comenta a cirurgiã plástica.
A importância da reconstrução
A mama na mulher é um órgão relacionado à sexualidade, sensualidade, maternidade e autoestima. A professora Danielle comenta que no momento do diagnóstico as pacientes chegam e relatam que não querem reconstruir porque estão muito mais preocupadas com o tratamento da doença. Quando vão processando a informação de que a doença terá cura e que a vida delas irá continuar a questão da reconstrução é fundamental. “A paciente sente-se mais confortável, as relações interpessoais melhoram e conseguem se inserir normalmente no convívio social. Então, é essencial para a autoestima da paciente” explica. A recuperação varia de acordo com o procedimento adotado. Se a reconstrução foi imediata, a recuperação é mais rápida, de 15 a 30 dias. Se for feito o uso do expansor, a recuperação é um pouco mais lenta e demanda outras cirurgias até o resultado final.
O indispensável autoexame
O diagnóstico está ocorrendo cada vez mais cedo. O câncer de mama está atingindo mulheres cada vez mais jovens. Antigamente era identificado aos 40 ou 50 anos. “Hoje em dia existem pacientes com 25 ou 27 anos recebendo o diagnóstico. Então, já se sabe que não é o câncer que adiantou, mas estamos conseguindo identificar de forma precoce. Da mesma maneira que a paciente deve fazer seu exame ginecológico preventivo, deve fazer anualmente o exame das mamas com o ginecologista e também o autoexame em casa”, enfatiza a professora Danielle.