O Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo ao longo dos seus 100 anos de história, além do cuidado, humanização e segurança, mantém muito forte a caraterística do pioneirismo. Com esta proposta inovadora, em 1981 foi o primeiro hospital no país a organizar um Banco de Tecidos Musculoesquelético (BTME). Numa época com literatura escassa e a falta de uma regulamentação específica para os serviços de Bancos de Tecidos, foi necessário se valer das experiências internacionais, como a do Banco de Tecidos Central de Moscou, e ainda de publicações cubanas, se adequando à realidade local. Com o desenvolvimento e propagação de outros Bancos de Tecidos Musculoesqueléticos pelo Brasil, houve a necessidade, por parte dos órgãos reguladores (Ministério da Saúde, Sistema Nacional de Transplantes e Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de se criar legislações para a adequação sanitária, de infraestrutura e de gestão para estes serviços.
Regulamentação nacional
A partir desta regulamentação, em 2002 os Bancos de Tecidos foram oficialmente instituídos no país e passam a ser submetidos às inspeções regulares, para manutenção do seu funcionamento. Assim, em outubro de 2005, após as adequações necessárias, o BTME/HSVP recebe autorização para o seu funcionamento dentro dos padrões exigidos. Até hoje, o São Vicente mantém o único Banco de Tecidos Musculoesqueléticos (BTME) em atividade no Rio Grande do Sul. Conforme o enfermeiro gestor do Banco, Maurício Luciano Zangirolami, desde 2005 o BTME registrou 86 doadores falecidos e 347 doações em vida. Destas doações 1761 unidades de tecidos foram transplantadas em procedimentos ortopédicos e 5781 em procedimentos odontológicos.
Terapêutica e pesquisa
“Com instalações físicas, equipamentos, recursos humanos e técnicas adequadas, o Banco faz a seleção de potenciais doadores, triagem clínica, laboratorial e sorológica, coleta, identificação, processamento, estocagem e distribuição de tecidos musculoesqueléticos de procedência humana, para fins terapêuticos ou de pesquisa, de acordo com as normas do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, vigentes para esta atividade”, evidencia Maurício. Também explica que com base em normas e diretrizes estabelecidas por órgãos nacionais e internacionais, como a AATB (American Association of Tissue Banking), o BTME/HSVP desenvolve, através do seu Sistema de Gestão da Qualidade, um rigoroso controle de seus processos, qualificando os mesmos a fim de garantir a distribuição de tecidos com segurança e qualidade para o tratamento de pacientes das áreas de traumato-ortopedia e odontologia, minimizando os riscos associados ao material biológico humano.
Mantidos em ultracongeladores
Processo de doação, captação e envio de tecidos seguem normas nacionais
O material do Banco é proveniente de doações realizadas pelas famílias de pessoas falecidas ou de pacientes que se submeteram a cirurgia ortopédica com remoção de ossos para substituição por próteses, com idade entre 18 e 70 anos, após a assinatura de termo de consentimento da doação. Para se tornar um doador de órgãos e tecidos o indivíduo deve comunicar à família o desejo de doar. “Os segmentos ósseos são retirados do doador em centro cirúrgico por profissionais habilitados. Dá-se preferência pelos ossos longos como fêmur, tíbia, fíbula, rádio, úmero e também tendões. Após a captação os tecidos são preparados no banco de tecidos e fragmentados em partes menores de acordo com a aplicabilidade. Depois do processamento os tecidos são armazenados em embalagens triplas e mantidos em ultracongeladores a uma temperatura de 80ºC negativos”, explica Maurício, salientando ainda que, os tecidos ósseos têm validade de cinco anos e os tendinosos de dois anos a contar da data da retirada.
Utilização em cirurgias
Os segmentos ósseos e tecidos são utilizados em cirurgias para correção de fraturas; cirurgias para correção de deformidades (maxilar, mandibular e da coluna); cirurgias de reconstrução ligamentar; cirurgias de ressecção de tumores ósseos; cirurgias de revisões de artroplastias (joelho e quadril) e transplantes de meniscos. “O Banco de Tecidos Musculoesqueléticos tem uma abrangência nacional, no entanto, dá prioridade à demanda da região norte e serra do Rio Grande do Sul. Os tecidos musculoesqueléticos são distribuídos para transplante somente com solicitação documentada do profissional transplantador autorizado, que contenha identificação do receptor, informações sobre o profissional transplantador, características e quantidade de tecido, indicação terapêutica e procedimento a ser realizado, local onde será realizado o procedimento e data prevista”, informa o enfermeiro. “A logística de envio de tecidos para outras cidades e/ou estados pode ser feita via transporte aéreo regulado pela central de transplantes do Rio Grande do Sul, por transporte rodoviário onde o profissional solicitante autoriza a retirada e transporte do tecido por determinada empresa e, além disso, os tecidos podem ser enviados utilizando-se o serviço dos Correios. Em média o banco disponibiliza tecidos para 40 pacientes/mês que são submetidos a procedimentos cirúrgicos odontológicos ou ortopédicos”.
Equipe multiprofissional
A equipe técnica do BTME é composta por dois médicos ortopedista/traumatologistas, que exercem as atividades de responsável técnico e de responsável técnico substituto. Dois enfermeiros e uma bióloga que atuam nas atividades de triagem de doadores, captação, processamento, armazenamento, distribuição dos tecidos e ações de garantia e controle da qualidade e uma secretária responsável pelas tarefas administrativas. Além da equipe local, o BTME conta com duas equipes satélites de captação de tecidos musculoesqueléticos. Uma no Hospital Nossa Senhora de Pompéia de Caxias do Sul e outra no Hospital Tacchini de Bento Gonçalves, que seguem as mesmas normas da equipe local e passam por capacitações periódicas com a equipe do BTME.