As sangrias foram uma forma de tratamento durante cerca de 2000 anos. O indivíduo adoecia e lá vinha o barbeiro com suas lâminas abrir as veia e deixar sangrar para sair os “maus humores”. Coube ao médico francês Pierre Charles Alexandre Louis (1787-1872), que era extremamente minucioso em suas observações clínicas, o emprego do método estatístico. Ele contou o número de mortes em quem fazia ou não sangria. Verificou que a sangria aumentava muito a mortalidade. Isso mostra que o uso do método estatístico rudimentar salvou milhares de vidas. O rigor científico tem que permear todas as condutar médicas sem exceção. Atualmente, no caso de novos remédios, tem que haver um rigoroso estudo para mostrar que pode haver um efeito benéfico e que não haja efeitos adversos importantes. A relação custo/benefício cuidadosamente aplicada. Uma medicação, desde que inicia o processo de estudo até sair para o mercado, leva por volta de 12 anos.
Exames e vitaminas
Atualmente encontro pedidos de um grande número de exames (às vezes mais de 90), são procedimentos não científicos que demonstram que, quem pediu, está desorientado. Esses procedimentos aparecem mais frequentemente nos dias de hoje e, curiosamente, seus autores podem ser vistos como grandes profissionais. O povo leigo pode se deixar levar por fantasias. É o perigoso mundo do “overdiagnosis” combatido pela ciência por ser um tipo de “sangria dos tempos modernos”. Algumas dosagens e tratamentos estão na moda. Uma, entre várias, é a dosagem de vitamina D. Dosa-se em muitos indivíduos e, baseados em valores de normalidade discutíveis, encontram-na baixa e receitam vitamina D para todos. Nunca vi tanta oferta dessa vitamina no mercado. Não há nenhuma recomendação científica para dosagem universal como tem sido feita. Esquecem, entretanto, de recomendar exposição ao sol durante alguns minutos, exercícios e dieta saudável (como a Mediterrânea). Mais recentemente começou do nada a ser pedida a dosagem de Vitamina B12. Esta, ao contrário da D, está quase sempre normal. O porquê da sua solicitação para todo o mundo permanece um mistério insondável.
Rigor científico
Numa época de tantas invenções de profissionais embusteiros devemos ter muito cuidado. Vejam o “Dr. Bumbum”. Como eu digo aos meus alunos da Faculdade de Medicina. O médico é um cientista, ele cuida do paciente usando o “rigor científico” escolhendo a intervenção que lhe convenceu pelo método científico. Ele vai garimpar, no meio de milhares de informações, aquela que tem a maior probabilidade de melhorar seu paciente. Como dizia o Dr. Pierre Charles Alexandre Louis, sangrias nunca mais.