No mês de setembro o amarelo simboliza um movimento mundial que objetiva conscientizar a população sobre a realidade do suicídio. O Setembro Amarelo é uma maneira para mostrar que existe prevenção em mais de 90% dos casos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Estima-se que cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio todos os anos, conferindo um aumento de cerca 60% nos últimos 50 anos. No Rio Grande do Sul, em 2015, registrou-se pouco mais de 10 mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes. Esse número é quase o dobro da média nacional, que é de 5,4 a cada 100 mil habitantes. O psiquiatra do Instituto de Psiquiatria e Psicoterapia (IPP), Dr. Diego Giacomini, relata que várias são as hipóteses para os elevados índices de suicídio, em especial no RS, mas ressalta que não é possível assinalar um fator isolado. “Os suicídios resultam de uma complexa interação de aspectos biológicos, psicológicos, genéticos, culturais, sociológicos e ambientais”, explica. Os dados explicitam que o suicídio é uma grande questão de saúde pública em todos os países do mundo. Assim a assistência de profissionais na prevenção do suicídio é importantíssima e claramente necessária. Ainda existem muitos tabus, conferindo certa dificuldade para a abordagem do assunto, mas uma escuta atenta e empática pode facilitar o processo de detecção de fatores de risco para esse desfecho. “O conhecimento sobre o tema, através da informação à população, pode ajudar a desfazer o estigma envolvido no comportamento suicida”.
Vulnerabilidade
Os adolescentes e jovens entre 12 e 30 anos representam uma população bastante vulnerável quando se fala em sofrimento psíquico, muito em função de o jovem ter que se dar conta do ambiente em que está inserido. Neste período precisa aprender a viver sem os pais e esse degrau entre a infância e a vida adulta tem ficado cada vez mais difícil de transpor. “Até perto dos 23 anos o cérebro do jovem ainda está em formação e sua estruturação emocional, como a resiliência - capacidade de transformar uma situação traumática em algo positivo - ainda pode não estar muito bem desenvolvida”. A combinação de cérebros imaturos, uma carga estressora intensa e uma maior exposição a uso de substâncias só faz aumentar a incidência de doença mental, e por consequência o risco de comportamento suicida.
Boas notícias
As pesquisas caminham na busca por uma medicação que poderia eliminar o risco de uma tentativa de suicídio. O psiquiatra frisa que estudos promissores demonstram a possibilidade de medicações que correspondam a essa expectativa. “Existem estudos em andamento sobre o tema, inclusive em Passo Fundo, mas ainda não se descobriu nada que possa substituir o suporte de um profissional capacitado para o atendimento”.
Fique ligado nos sinais
O médico ressalta que o desafio chave da prevenção está em identificar as pessoas que estão em risco, entender as circunstâncias que influenciam no seu comportamento autodestrutivo e estruturar intervenções eficazes. O reconhecimento de fatores de risco e de proteção é fundamental. A OMS aponta três características psicopatológicas comuns no estado mental dos suicidas. São elas: Ambivalência - o desejo de morrer e de viver se confundem no sujeito. Há urgência em sair do sofrimento e a morte surge como uma alternativa rápida, entretanto há um desejo de sobreviver a esta tormenta. Impulsividade – o suicídio, por mais planejado que seja, parte de um ato usualmente motivado por eventos negativos. O impulso de cometer o suicídio é transitório e tem duração de alguns minutos ou horas. Acolher a pessoa durante a crise com ajuda empática adequada pode interromper o impulso suicida. Rigidez – quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos. Estas pessoas pensam rígida e dramaticamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe. Por isso fica tão difícil de encontrar, sozinho, uma alternativa.
Transtornos
O transtorno depressivo é bastante associado ao suicídio, mas existem múltiplos fatores relacionados. Os principais são: tentativa prévia de suicídio, como principal fator de risco isolado; doença mental, como o transtorno de humor bipolar ou abuso de substâncias; aspectos sociais, como gênero masculino, idade entre 15 e 30 anos e acima de 65 anos, sem rede de apoio familiar, com isolamento social; aspectos psicológicos, como perdas recentes, ter sofrido abuso físico ou sexual na infância, personalidade impulsiva, agressiva ou humor instável; condição de saúde limitante, como doenças crônicas.
O luto das famílias
E nos casos das famílias em que o suicídio ocorreu como lidar com o luto? O psiquiatra ressalta que o luto por suicídio tem algumas peculiaridades que devem ser trabalhados com bastante atenção, como os sentimentos de culpa, vergonha, raiva e a busca incessante pelos porquês. Comumente esse luto tende a ser mais intenso, duradouro e acompanhado de grande sofrimento para os familiares que ficam. “O trabalho com os familiares tem caráter de alivio direto ao enlutado, mas também cumpre um papel preventivo para as gerações que sucedem o suicida trazendo uma possibilidade melhor de lidar com o tema”, finaliza.