Atenção às doenças respiratórias na gravidez

As modificações na anatomia e na fisiologia influenciam na função respiratória

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Durante a gestação, são necessários todos os cuidados com a saúde. Isso inclui as doenças respiratórias. A Dra. Janaína Pilau, médica pneumologista, do corpo clínico do Hospital da Cidade, explica que a gravidez traz modificações na anatomia e na fisiologia respiratórias, o que influencia a função respiratória, causando dispneia (falta de ar) ou afetando o curso de doenças pulmonares. É importante o médico conhecer essas alterações para diferenciar sintomas próprios da gestação das manifestações de doenças, não levando ao tratamento gestantes saudáveis. Deve-se lembrar de que as gestantes, por alterações hormonais e que ocorrem já no primeiro trimestre, frequentemente (60 a 70%) apresentam falta de ar – dispneia fisiológica da gestação. Esse sintoma melhora em mais de 70% no terceiro trimestre, quando a taxa hormonal começa a cair e há o encaixe do feto na pelve, diminuindo a pressão sob o diafragma. Devido a essas alterações, doenças respiratórias deixam a gestante mais susceptível a hipoxemia – queda da oxigenação no sangue – o que leva a alterações no feto e dependendo da intensidade, pode levar a mãe à insuficiência respiratória. Por outro lado, as gestantes também possuem uma imunidade mais baixa, pois precisam se adaptar ao novo ser gerado, o que as deixa mais susceptíveis a patologias infecciosas.

 

Atenção à asma
As gestantes com asma devem ter uma atenção especial. A asma é a doença mais comum em grávidas, possivelmente devido à alta frequência na população geral e ao fato de ser um das doenças mais influenciadas pelas modificações fisiológicas da gestação, devido às adaptações hormonais. Durante a gravidez, a circulação de diversos hormônios pode fazer com que as gestantes asmáticas se comportem de maneiras bem variadas. Estudos demonstram uma melhora de 36%, estabilidade em 41% e uma piora em 23% da asma durante a gravidez. Também se observa um aumento de 20% na incidência de pré-eclâmpsia em mulheres asmáticas, com nítido predomínio nas primíparas (primeira gestação). Além da asma, a gestante deve estar atenta ao tabagismo, gripe por influenza, pneumonia e tromboembolismo pulmonar (embolia pulmonar), pela maior prevalência; porém qualquer patologia respiratória pode ser agravada pela gestação. Em relação à qualidade do ar, tanto pouca umidade quanto muita umidade podem ser fatores desencadeantes, o que se torna difícil devido a amplitude de variação do nosso clima.


Reflexos
A asma também coloca em risco o bebê. Parece existir aumento da incidência de baixo peso, prematuridade, mortalidade perinatal e comprometimento das funções cerebrais do feto, proporcionalmente ao nível de hipoxemia (baixo oxigênio do sangue) durante a gestação. Estudos com gestantes com asma leve não demonstraram diferença na prematuridade, baixo peso, mortalidade perinatal, malformações quando comparado a gestantes não asmáticas. Essas manifestações têm relação direta com a gravidade da asma e com o insucesso do tratamento, antes e durante a gestação. O fato de a mãe ser asmática não necessariamente determina a doença no feto. Porém, o fato da asma ser uma doença com uma interação complexa entre genética, exposição ambiental e outros fatores específicos, faz com que os filhos de mulheres asmáticas tenham uma maior incidência de asma, ou seja, uma maior chance de desenvolver a doença.

 

Controle da doença
Devido às alterações anatômicas e fisiológicas pulmonares durante a gestação, a gestante asmática pode ter uma maior dificuldade de controle da doença nesse período e desenvolver quadros de insuficiência respiratória. Por isso, a boa adesão ao tratamento é fundamental, preferentemente prévio à gestação. O tratamento de manutenção das gestantes asmáticas é baseado nas mesmas classes de medicamentos para os demais asmáticos. A evidência médica estabelece segurança das medicações correntemente indicadas na manutenção da asma durante a gestação. Nenhum estudo, cientificamente elaborado, provou qualquer efeito deletério específico para o conjunto mãe/feto dos fármacos broncodilatadores e anti-inflamatórios, principalmente os inalatórios. A maior dificuldade no tratamento da asma durante a gestação é o medo infundado por parte da mãe (e, infelizmente, por parte de alguns médicos) de distúrbios, malformações fetais ou complicações obstétricas, decorrentes do uso das medicações, principalmente durante o primeiro trimestre. É importante informar a gestante que a hipoxemia, resultante da descompensação da asma inconvenientemente tratada, é o principal fator agressivo. Dessa forma, a utilização plena de broncodilatadores e corticóides inalatórios deve ser considerada durante a gestação.

 

Ações preventivas para a gestante com asma

O objetivo fundamental do tratamento é manter a gestante estável e assintomática, utilizando-se a quantidade necessária de medicações para atingir a melhor função pulmonar possível. Os cuidados de rotina devem ser os seguintes:
- manter uso das medicações de maneira e na dose adequadas
- cessar tabagismo
- fazer visitas pré-natais mensais com obstetra e pneumologista
- fazer as vacinas recomendadas, principalmente da gripe.
- tratar outras doenças que podem levar a descompensação da asma (como rinites, refluxo, sinusopatias...), quando associadas.
- controle ambiental dos fatores desencadeantes
- orientar a gestante asmática a evitar o estresse e o esforço físico intenso – não significa que deve ficar em repouso se a doença estiver sob controle.

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