Preparando para uma certeza

O exercício da dignidade através dos cuidados paliativos

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Diante de um risco iminente à vida, também há o exercício da dignidade para pacientes e familiares. São os cuidados paliativos, um amplo suporte que objetiva a melhoria da qualidade de vida. É uma ação multiprofissional que, em um momento crítico, coloca em prática um plano de ações. Num momento em que as pessoas não estão preparadas para enfrentar uma certeza, surge uma equipe apta para oferecer um acompanhamento adequado. No Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo é o Grupo Consultor de Cuidados Paliativos. Uma das fundadoras do GCCP é Débora Marchetti, psicóloga do HSVP, que esclarece sobre os cuidados paliativos e as atividades deste grupo.

 

Os cuidados paliativos
Falar em cuidados paliativos geralmente assusta as pessoas, pois vem acompanhada com a frase: “Não há mais nada para fazer”. Porém, ao contrário: “Há muito para fazer!”. Conforme a Organização Mundial de Saúde (2002) os Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameaça à vida, por meio de intervenção precoce, avaliação minuciosa e tratamento da dor e dos demais sintomas físicos, sociais, espirituais e psicológicos.
 
Um evento natural
Os cuidados paliativos devem ser iniciados desde o diagnóstico da doença potencialmente mortal, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como quimioterapia e radioterapia. O objetivo é cuidar do paciente em diferentes momentos da evolução da sua doença, traçando um plano integral de cuidados, adequando a cada caso. O cuidado paliativo resgata a possibilidade da morte como um evento natural e esperado na presença de doença ameaçadora da vida, colocando ênfase na vida que ainda pode ser vivida, através de um sistema de suporte que garanta qualidade e bem-estar para que o paciente possa viver ativamente, quanto for possível, até o momento da sua morte.
 
Ciência e reflexão
Segundo a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, no Brasil o cuidado paliativo teve o seu início na década de 1980, com crescimento significativo a partir do ano de 2000, com a consolidação de serviços já existentes e a criação de novas iniciativas em todo o país. Esse tipo de tratamento tem sido cada vez mais inserido nas instituições em vista do envelhecimento progressivo da população nas últimas décadas, o aumento da prevalência do câncer e de outras doenças crônicas. Os cuidados paliativos buscam o equilíbrio entre o conhecimento científico, o avanço tecnológico, e a reflexão sobre a mortalidade humana, a fim de resgatar a dignidade da vida e a possibilidade de se morrer em paz.

 

Atividade em evolução
Por mais que esse tipo de tratamento tem se mostrado cada vez mais necessário nas instituições do país, ele tem avançado de forma isolada e restrita. Há uma grande resistência por parte dos profissionais da área da saúde em aceitar a morte como uma etapa no ciclo da vida, principalmente porque nós, profissionais, somos treinados para salvar vidas e buscar a saúde, e não a lidar com situações de perdas de saúde, perda da esperança e morte. Ainda temos um longo caminho a percorrer e o primeiro passo é investir na formação de profissionais especializados em cuidados paliativos.

 

Avaliar benefícios
É muito complicado estar diante de uma doença que ameaça a vida e a possibilidade de morte, por isso é importante dar espaço e escuta ao paciente que está vivenciando esse momento. Atender suas vontades, seus desejos, respeitar sua autonomia, avaliar os benefícios de determinadas terapêuticas para não cair na obstinação de realizar procedimentos dolorosos, invasivos e fúteis apenas com o intuito de adiar a morte e manter a vida biológica a qualquer custo. Os cuidados paliativos buscam assegurar a morte correta, que respeita a evolução natural da doença, chamada de ortotanásia, pois entende que a morte faz parte da vida e que, quando a vida humana chega ao seu final, ocorra de forma digna, com o menor sofrimento possível.
 
Com a vida
Ao contrário do que muitas pessoas consideram, trabalhar com cuidados paliativos não é trabalhar com a morte, mas, sim, com a vida. Poder cuidar do paciente como um sujeito que tem a sua história, independente dos seus anos, possibilita encontrar um novo sentido de existência, para o próprio paciente e para todos os envolvidos no seu cuidado.
 
Após a morte 
Os cuidados paliativos se estendem para a família após a morte do paciente, a equipe de saúde se coloca à disposição para acolher, esclarecer dúvidas que possam ter ficado, mas observa-se que após a morte os familiares precisam de tempo para viver o seu luto para, posterior, seguir em frente com suas vidas.

 

Os cuidados paliativos no HSVP

No Hospital São Vicente, desde 2013 um grupo de profissionais de diversas especialidades vem estudando e buscando a melhor forma de inserção na instituição. Em abril de 2015 foi formalizado como Grupo Consultor de Cuidados Paliativos (GCCP), que consiste em uma equipe multiprofissional que se coloca à disposição de todas as diferentes especialidades do hospital para a elaboração de um plano de cuidados dirigido ao paciente e à sua família, permanecendo o paciente sob a responsabilidade da equipe assistencial. O GCCP, junto com a equipe assistencial, buscará medidas que promovam ao paciente e a sua família qualidade de vida e a manutenção da dignidade humana no decorrer da doença, na terminalidade da vida e na morte, para que todos se sintam mais orientados e seguros para enfrentar as dificuldades que surgirem. A proposta do GCCP é disseminar os cuidados paliativos, quebrar paradigmas, desmistificar conceitos ao construir um pensar de cuidado individualizado para cada paciente. Além das solicitações, o GCCP também promove aulas junto à residência médica e multiprofissional, educação continuada com treinamentos para todos os profissionais do hospital e eventos aberto ao público, para abranger a população em geral.

 

Equipe
O GCCP é composto por: assistente social, assistente espiritual, enfermeiros, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médicos, médicos residentes, nutricionista e psicólogos. Os cuidados paliativos só acontecem com uma equipe multiprofissional, em que cada integrante deve saber muito bem aquilo que é da sua área de conhecimento para, dessa forma, contemplar o cuidado integral do paciente. A comunicação entre os profissionais de saúde, paciente e família é a chave para o sucesso desse tipo de tratamento. Comunicar más notícias é uma tarefa árdua para o profissional, é fundamental demonstrar empatia, oferecer apoio e conforto, garantindo ao paciente e a sua família, que por pior que seja a situação, ali se encontra alguém que cuidará dele, que não o abandonará.

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