O Instituto de Psiquiatria e Psicoterapia (IPP) e a Liga de Saúde Mental (Lisam) do Hospital da Cidade realizaram em Passo Fundo no último final de semana, nos dias 26 e 27 de outubro, a II Conferência de Saúde Mental. Aproximadamente 190 inscritos compareceram ao auditório da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) para debater sobre a relação entre qualidade de vida e saúde mental. As palestras apresentadas trouxeram exemplos de hábitos e comportamentos do dia a dia para aproximar o conhecimento teórico da prática e mostrar como os acontecimentos do cotidiano influenciam pensamentos e emoções.
Atividades físicas
Um dos temas abordados foi a relação entre exercícios físicos e saúde mental, apresentado pelo médico psiquiatra pós-graduado em Psiquiatria Psicanalítica, José Ribamar Fernandes Saraiva Junior, integrante do IPP e professor da UFFS. Segundo ele, já na Grécia Antiga existia essa recomendação de atividades físicas para a melhora do estado de humor, sendo o filósofo Galeano, um dos maiores nomes da medicina, e suas leis exemplo disso. “Hoje os exercícios físicos e a saúde mental estão intimamente relacionados, relação cada vez mais trabalhada desde a década de 70, mostrando correlação benéfica e positiva”, afirmou. Alguns dos benefícios, de acordo com Saraiva, são a diminuição dos níveis de colesterol, o aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro, a diminuição de interleucinas pró-inflamatórias e o aumento das anti-inflamatórias e a significativa diminuição de infarto e acidente vascular cerebral (AVC), além de melhorar a cognição, a memória e o bem-estar. “Todos os estudos acerca de exercícios físicos regulares e sob orientação também mostraram melhoras nos índices de depressão, ansiedade e sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Quando pensamos que precisamos sair da especificidade de só tratar a doença e nos preocupar em promover saúde, o exercício físico entra de forma primordial”, explicou. A prática de atividades físicas em espaços verdes também mostrou ser ainda mais benéfica do que aquelas praticadas em espaços fechados. A tendência das cidades em manter áreas verdes e investir em parques é um fator positivo para incentivar a população a se exercitar nesses locais.
Neurobiologia do bem-estar
Outro assunto abordado na conferência foi a neurobiologia do bem-estar. A médica psiquiatra e mestre em Envelhecimento Humano, Bruna Chaves Lopes, integrante do IPP e docente dos cursos de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF) e da UFFS, retomou desde o conceito da separação entre razão e emoção de Descartes para mostrar como essa lógica mudou. “Ao falar sobre neurobiologia do bem-estar falo sobre o que acontece no organismo enquanto estamos felizes ou tristes e quais são os locais do cérebro e os neurotransmissores envolvidos nas emoções. Às vezes, isso acontece de uma forma tão autônoma que não paramos para pensar que vários sistemas estão envolvidos nas reações que temos diante das situações da vida. O que pode desencadear um quadro de estresse em uma pessoa, pode não ter o mesmo efeito em outra”, observou.
Palestras
A conferência ainda teve palestras sobre: o impacto das relações sociais e do isolamento, com a psicóloga Daiane Savi; a influência do ritmo circadiano e o bem-estar, com o médico neurologista Alan Frohlich; o que é e como praticar o mindfulness, com a psicóloga Marindia Brandtner; e a relação entre memória e reserva cognitiva, com o médico neurologista Daniel Lima Varela e a psicóloga Camila Rosa.