Convivendo com pessoas difíceis

Entrevista com o psiquiatra Jorge Sallton

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Jorge A. Salton é psiquiatraJorge A. Salton é psiquiatra
Jorge A. Salton é psiquiatra
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O psiquiatra passo-fundense Jorge Sallton está lançando mais uma obra: Convivendo com Pessoas Difíceis. O livro sugere um norte, um caminho, um método para aplicarmos quando convivemos com pessoas difíceis; algumas, inclusive, que andam de “faca na bota” e “espada na mão”. Para tanto, analisa cenas de filmes e relata vários pequenos casos ilustrativos. Dicas preciosas que o autor traz desde sua experiência como terapeuta, transformadas em leitura agradável por seu talento de escritor de literatura. O livro pode ser adquirido na LIVRARIA Delta ou pelo site da editora com frete gratuito: https://www.physaliseditora.com). Acompanhe a entrevista ao Medicina & Saúde.

 

M&S- Quem podemos considerar como pessoas difíceis?
Jorge Salton - O livro refere-se aquelas pessoas que geram sofrimento para as pessoas que com ela convivem. Pessoas que não conseguem se colocar no lugar das outras e por isso relacionam-se pensando somente em seus próprio interesses e sentimentos. Muitas agem de forma sutil, outras são grosseiras, indelicadas, toscas, mal-educadas. Chamamos de grossos e de grossas. Outras gostam de brigar, andam de “espada na mão” ou de “faca na bota” e “não levam desaforo para casa”. Outras com a justificativa de serem sinceras, falam o que pensam não importando o sofrimento que suas colocações geram. Inclusive, no livro há uma tabela com as grosserias mais comuns.

 

M&S – As pessoas difíceis são sempre difíceis?
Jorge Salton - Não necessariamente. E é bom lembrar que todos nós em dado momento de nossas vidas, fomos pessoas difíceis. Quando adolescentes, por exemplo. Quando vivendo situações de estresse, quando muito ansiosos. É importante reconhecer que o “demônio não são sempre os outros”. Mas há sim a possibilidade de nos tornarmos pessoas que facilitam e não dificultam a relação. É essa a ajuda que o livro tenta proporcionar através de uma linguagem simples, direta.

 

M&S - Como conviver com pessoas difíceis sem sofrer ou sem sofrer muito?
Jorge Salton - Primeiro reconhecer que também já fomos difíceis, isso facilita a identificação e a tolerância com aquele que está agora nos trazendo problemas. Segundo entender que na grande maioria das vezes não se trata de maldade. Trata-se de uma limitação que a pessoa está apresentando. Eu resumo em duas as limitações.

 

M&S – Quais são elas?
Jorge Salton - A forte presença de uma maneira primitiva de pensar que chamamos de pensamento maniqueísta e a ausência da capacidade de empatia, de se colocar no lugar no outro.

 

M&S – Em síntese, o que é “maniqueísmo”? O senhor, inclusive, já publicou um livro a respeito.
Jorge Salton- Trata-se de um pensamento primitivo, infantil, que todos temos dentro de nós. Um pensamento que nos fazer achar que as coisas não andam como queremos devido a maldade dos outros. Pensamento que divide as pessoas em boas e em más. Nós e os nossos, somos bons. Os outros, eles, são os maus. Esse pensamento foi trazido para a filosofia pelo persa Maniqueu trezentos anos d.C. Ele apresenta sete características que poderemos identificar em que está dificultando um relacionamento.


M&S– Quais são elas?
Jorge Salton- Primeiro: nós e os nossos somos BONS, os outros, eles, são MAUS. E insistimos nisso.
Segundo: praticamos o reducionismo. Os políticos são os culpados dos problemas do Brasil. São MAUS. Ora, e os eleitores? E tantas coisas mais? Para todo o problema complexo, há uma solução simples (reducionista) e errada.
Terceiro: generalizamos. Os alemães queriam tomar a Europa e fizeram o holocausto. Não foram os alemães. Foram os nazistas e o primeiro país que eles tomaram foi a Alemanha.
Quarto: praticamos o salto para a conclusão. Os vizinhos reclamam dos latidos do meu cachorro. Os vizinhos não gostam de animais. Não prestam. São maus.
Quinto: ausência de autocrítica.
Sexto: temos a verdade. Nós de antemão já sabemos o que é melhor para o outro, o que é melhor para o Brasil. Nossas idéias são como dogmas, não admitimos que discordem delas. Platão já dizia: “Nunca devíamos morrer por nossas idéias. Elas podem não ser verdadeiras”.
Sétimo. E ausência da empatia. Esta é a característica mais determinante.

 

M&S – E o que fazer com as mágoas que ficam devido as grosserias que sofremos?
Jorge Salton - No livro, descrevo um caminho, um norte, um método para lidarmos com pessoas difíceis sem nos magoarmos muito. Mas também escrevi um capítulo com sugestões para a superação das mágoas permanentes, do fenômeno do ressentimento. O livro pode ser adquirido na livraria DELTA e também pelo correio entrando no site da editora Physalis.

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