Os métodos contraceptivos evoluíram muito a partir da década de 1960, com o uso comercial da pílula anticoncepcional. Foi um marco que acompanhou mudanças comportamentais para as mulheres. Uma novidade que causou espanto e, claro, alguns mitos. Porém, a pílula é hoje o método mais utilizado. Para tirar algumas dúvidas sobre esse medicamento, os esclarecimentos são da Dra. Sofia Noskoski, médica ginecologista e obstetra, membro do corpo clínico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo. Ela explica que a pílula anticoncepcional é um conjunto de comprimidos que contêm hormônios que incluem diversos tipos de progesterona associados ou não a estrogênios. Elas funcionam bloqueando hormônios e impedem a liberação dos óvulos pelos ovários, além de tornar o muco cervical mais espesso, criando um ambiente hostil para à ascensão dos espermatozoides no útero e nas trompas.
O início
A primeira pílula foi sintetizada em 1950 a partir de uma planta derivada da batata-doce mexicana com propriedades estrogênicas. Os antigos egípcios também utilizavam tampões vaginais ou tampas feitas de excremento de crocodilo, linho e folhas comprimidas. Assim que foi estabelecida a relação do sêmen com a gravidez. O método anticoncepcional masculino mais conhecido era o coito interrompido.
A eficácia
A eficácia da pílula é de 99,9% quando utilizada de uma forma perfeitamente correta. O índice de falha, nos casos em que há irregularidade na tomada, má absorção, interação com outros medicamentos, pode chegar a 9%. Existem outros métodos mais seguros como: adesivos, anel vaginal, anticoncepcionais injetáveis, dispositivos intrauterinos (DIU) sem hormônios ou com hormônios e ainda o implante subdérmico. Estes demonstram em ordem crescente uma efetividade maior.
A pílula e o desejo sexual
O anticoncepcional pode reduzir a libido em algumas mulheres, pois seu mecanismo de ação age no bloqueio da ovulação e na redução da testosterona circulante. No entanto as pesquisas científicas e a prática clínica apresentam resultados conflitantes: enquanto algumas apontam o anticoncepcional hormonal como redutor da libido para algumas mulheres, outras relatam que o desejo aumentou depois que começaram a tomar a pílula por não temerem a gravidez, e ainda há aquelas que acreditam não ter seu desejo afetado.
Intervalos
A exigência de intervalos depende do tipo de pílula e da composição hormonal da mesma. Algumas pílulas são de regime contínuo, 28 comprimidos, sem intervalo. Se a mulher preferir realizar o intervalo poderá ser feito de 7 ou de 4 dias, dependendo do contraceptivo.
Menstruação
Quando se utiliza o contraceptivo hormonal combinado com pausa, não existe ovulação, não existe menstruação, ocorre apenas uma descamação endometrial devido à parada da medicação. Ou seja, o uso contínuo faz o bloqueio completo do eixo hormonal e é principalmente indicado para mulheres que não desejam menstruar, que possuem dor de cabeça na pausa, muita tensão pré-menstrual, endometriose e cólicas intensas neste período. No entanto, a menstruação é cultural para algumas mulheres e muitas preferem realizar a pausa cíclica, principalmente para verificar e se sentirem mais seguras da ausência de gestação.
Dia seguinte
A pílula do dia seguinte contém apenas progesterona em doses mais altas e não deve ser administrada para quem já está em uso de anticoncepcional tradicional, pois é um contraceptivo de emergência e deve ser utilizado quando houver uma relação desprotegida sem o uso de outro método adicional.
Riscos e mitos
O risco de trombose nas pílulas que contêm estrogênio existe, no entanto ele é considerado relativo e pequeno. Sobretudo quando a mulher apresenta fatores de risco como: outros casos de trombose na família, história pessoal de trombofilia, tabagistas, obesas, hipertensas, entre outros fatores, pode haver um aumento dos casos. Não há associação direta do uso de pílulas com a celulite, apenas algumas mulheres dependendo o tipo de progesterona podem reter mais líquidos e se sentirem mais “inchadas”, no entanto, alguns tipo de pílulas têm uma ação até contrária a essa retenção.
Orientação
Todo método contraceptivo deve ser escolhido junto com seu ginecologista para que seja feita a melhor escolha considerando as características, individualidades e fatores de risco de cada mulher. A pílula é considerada um método eficaz, seguro e de baixo risco se utilizado em mulheres saudáveis, com orientação médica e de uma forma correta.
Tirando dúvidas
A pílula pode provocar aumento de peso?
Segundo os trabalhos não há relação da pílula com o aumento de peso, apenas com os métodos contraceptivos injetáveis trimestrais.
Pode causar câncer?
Não. Pode haver um pequeno aumento do risco de câncer de mama, mas ainda são escassas as publicações sobre o assunto. Em contrapartida, o uso de anticoncepcionais, em alguns estudos, reduziu o risco de câncer de ovário, útero e intestino.
O uso da pílula pode causar infertilidade?
Não, a infertilidade é causada principalmente por infecções, endometriose e pela diminuição da reserva ovariana que acontece principalmente após os 35 anos.
Há alguma relação entre o anticoncepcional e acne?
Há uma redução considerável da acne quando se utiliza pílulas combinadas, principalmente àquelas que contêm hormônios mais antiandrogênicos, estes diminuem a testosterona livre circulante, resultando em melhora da oleosidade, redução da acne e dos pelos.
Álcool, tabaco ou outras drogas interferem no efeito?
O álcool e o cigarro não interferem no efeito da pílula anticoncepcional, no entanto, algumas medicações, como algumas utilizadas para epilepsia, antidepressivos, entre outras, que podem diminuir a eficácia da mesma.
Pode alterar o humor nas mulheres?
Sim. Há uma redução da tensão pré-menstrual (TPM) devido à supressão da ovulação e redução da oscilação hormonal.