As causas e as consequências da perda auditiva

Surdez exige cuidados, tem prevenção e pode ser minimizada

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Dra. Bibiana C. Fortes integra o corpo clínico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, é professora de Otorrinolaringologia da UPF, UFFS e IMED.Dra. Bibiana C. Fortes integra o corpo clínico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, é professora de Otorrinolaringologia da UPF, UFFS e IMED.
Dra. Bibiana C. Fortes integra o corpo clínico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, é professora de Otorrinolaringologia da UPF, UFFS e IMED.
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A perda de audição pode estar ligada a fatores como demência, depressão, acidentes, exposição aos ruídos, envelhecimento ou causas congênitas. Porém, pode ser evitada através da prevenção e tratada adequadamente. A Dr. Bibiana Fortes, médica otorrinolaringologista do corpo clínico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, explica que a deficiência auditiva, hipoacusia, disacusia ou surdez é toda e qualquer redução da capacidade de ouvir, ou seja, é o paciente que só consegue ouvir a partir da intensidade de 25 decibéis no adulto e 15 decibéis na criança. Para entender, uma conversa normal entre duas pessoas fica em torno de 50 a 60 decibéis e uma biblioteca em total silêncio fica na faixa de 30 decibéis.

 

Medicina & Saúde: Quais os sintomas da perda auditiva?
Bibiana Fortes: Muitas vezes o primeiro sintoma da perda de audição relatado pelo paciente é o zumbido (barulhinho dentro do ouvido). Além disso, o paciente pode referir dificuldade de entendimento das palavras e de localização dos sons, intolerância a sons intensos, necessidade de aumentar o volume da televisão ou rádio, incapacidade de acompanhar uma conversa, sensação de ouvido tampado. Assim, orienta-se que na presença de um desses sintomas, o paciente deve ser avaliado por um otorrinolaringologista.

 

M&S: É possível uma autoavaliação da audição?
BF: Sim. Apenas com o ato de tapar um ouvido e comparando com o outro lado enquanto alguém fala ou ouvindo uma música, já se pode ter uma noção se está ouvindo adequadamente ou não. Contudo, hoje em dia existem alguns aplicativos de celulares que procuram simular de forma simplificada o exame de audiometria tonal, o que pode acusar perda auditiva. No entanto, esse tipo de exame não pode ser equiparado com o exame realizado em cabine pelo profissional da fonoaudiologia.

 

M&S: Demência e depressão têm influência?
BF: Sim, ambas podem estar associadas à perda auditiva. Inclusive, um grande problema da perda de audição, principalmente no idoso, é a vergonha, baixa autoestima, sentimento de inferioridade que muitos pacientes sofrem por não conseguirem realizar atividades cotidianas como ir à igreja ou conversarem com seus familiares e amigos. Assim acabam se isolando socialmente e se tornando depressivos. Outra situação importante é questão da demência, pois pacientes com perda auditiva apresentam atrofia cerebral de algumas regiões que são responsáveis pelo processamento do som, linguagem, memória e integração sensorial. Estudos mostram que essas regiões que se tornam atrofiadas estão envolvidas também nos estágios iniciais do comprometimento cognitivo leve e da doença de Alzheimer.


M&S: Idosos podem prevenir ou minimizar?
BF: Os idosos necessitam ter cuidados com a saúde em geral, pois muitas doenças sistêmicas podem contribuir para perda auditiva, uma vez que prejudicam a microcirculação da orelha interna, como a hipertensão, diabetes, dislipidemia, doenças renais e problemas circulatórios. Não se automedicar, pois alguns medicamentos são ototóxicos, isto é, ocasionam lesão no aparelho auditivo, bem como o cigarro e a bebida alcoólica. Deve-se evitar exposição a ruídos, principalmente no caso do idoso que trabalha em locais de barulho intenso. Assim, estes obrigatoriamente devem usar protetores auriculares. Recomenda-se evitar fones de ouvido, controlar o volume da televisão e do rádio, não ficar próximo a caixas de som e fogos de artifícios. E sempre se lembrar de não manipular os ouvidos com hastes flexíveis, grampos, chaves, fazer o uso de cone quente para remoção de cera (ainda muito praticado) pelo risco de trauma e infecção no ouvido.

 

M&S: O barulho pode ter consequências graves?
Sim. Pessoas expostas ao ruído intenso e prolongado como, por exemplo, uma média de 85 decibéis por 8 horas por dia, podem apresentar alterações estruturais na orelha interna, que determinam a ocorrência de PAIR - Perda Auditiva Induzida por Ruído. O PAIR é a perda provocada pela exposição por tempo prolongado ao ruído. Além da perda de audição irreversível, o paciente pode referir zumbido, podendo acarretar em transtornos da comunicação, do sono ou neurológicos. Outra situação de exposição ao ruído é quando ela ocorre de forma súbita e intensa, o que pode causar um trauma acústico temporário ou permanente na orelha.

 

As principais causas da perda auditiva

Existem diversas causas de perda de audição. Uma das principais é a presbiacusia que é a diminuição auditiva relacionada ao envelhecimento por alterações degenerativas que costumam acometer pacientes acima dos 50 anos. No entanto, existem inúmeras outras causas que podem ser classificadas em congênitas ou adquiridas.


- As perdas congênitas são aquelas presentes ao nascimento e, ressalta-se, aqui as determinadas por alterações genéticas, por problemas que ocorreram durante a gestação (pré-natal) ou por alguma intercorrência durante o nascimento. Por exemplo, temos as infecções por rubéola, citomegalovírus, complicações associadas ao fator RH, prematuridade ou anóxia perinatal.


- Já as perdas adquiridas são as que ocorrem após o nascimento podendo acontecer em qualquer época da vida devido a alguma doença local como a infecção do ouvido, chamada otite ou sistêmica como a diabetes, as doenças cardiovasculares, trauma físico (trauma craniano), sonoro (exposição a ruídos de alta intensidade seja por tempo curto ou não, como uma festa, britadeira, fones de ouvido ou explosão), bem como o envelhecimento.

 

Recomendações para prevenção da perda auditiva

As recomendações da Organização Mundial da Saúde quanto às estratégias para prevenção da perda auditiva são:
- imunizar crianças contra doenças da infância, incluindo sarampo, meningite, rubéola e caxumba;
- imunizar adolescentes e mulheres em idade reprodutiva contra a rubéola antes da gravidez;
- prevenir infecções por citomegalovírus em gestantes,
- rastreio e tratamento de sífilis e outras infecções em mulheres grávidas;
- seguir práticas saudáveis ??de cuidado do ouvido; evitando a introdução de objetos e hastes de limpeza na orelha,
- reduzir a exposição (ocupacional e recreativa) a sons altos, aumentando a conscientização sobre os riscos; encorajar os indivíduos a usarem dispositivos de proteção pessoal, como tampões de ouvido e fones de ouvido e fones de ouvido com cancelamento de ruído.
- triagem de crianças por otite média, seguida de intervenções médicas ou cirúrgicas apropriadas;
- evitar o uso de drogas específicas que possam ser prejudiciais à audição, a menos que prescritas e monitoradas por um médico qualificado;
- encaminhar bebês de alto risco, como aqueles com histórico familiar de surdez ou aqueles nascidos com baixo peso ao nascer, asfixia ao nascimento, icterícia ou meningite, para avaliação precoce da audição, para garantir diagnóstico imediato e manejo apropriado, conforme necessário. 

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