A importância em conhecer a depressão

Síndrome carrega um conjunto de sintomas e sinais

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Dr. Juliano Szulc Nogara é médico psiquiatra com pós-graduação em Dependência Química, psiquiatra forense e professor de Psicofarmacologia-Psiquiatria Instituto Abuchaim e integra o corpo clínico do HSVP.Dr. Juliano Szulc Nogara é médico psiquiatra com pós-graduação em Dependência Química, psiquiatra forense e professor de Psicofarmacologia-Psiquiatria Instituto Abuchaim e integra o corpo clínico do HSVP.
Dr. Juliano Szulc Nogara é médico psiquiatra com pós-graduação em Dependência Química, psiquiatra forense e professor de Psicofarmacologia-Psiquiatria Instituto Abuchaim e integra o corpo clínico do HSVP.
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O significado da depressão vai muito além da interpretação popular. O Dr. Juliano Szulc Nogara, médico psiquiatra com atuação no Hospital São Vicente, explica que a tristeza é sentimento normal do ser humano, é definida como um sentimento de muita infelicidade, de infortúnio, de vazio e desesperança. Depressão, ou transtorno do humor depressivo, é uma situação mais complexa. Se para a população em geral é sinônimo de tristeza, no linguajar científico apresenta mais de um sentido. A depressão sob o ponto de vista psiquiátrico é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas. É importante ressaltar que nem sempre a tristeza participa deste conjunto sindrômico. Eis uma distinção importante entre a linguagem do cotidiano e o da literatura científica. Os sentimentos de tristeza e alegria colorem o fundo afetivo da vida psíquica normal. A tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda, derrota, desapontamento e outras adversidades. Cumpre lembrar que essa resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do retraimento, poupa energia e recursos para o futuro. Por outro lado, constitui-se em sinal de alerta, para os demais, de que a pessoa está precisando de companhia e ajuda.

 

Sintoma e síndrome
As reações de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam-se pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude. As reações de luto normal podem estender-se até por um ou dois anos, devendo ser diferenciadas dos quadros depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando devidamente estimulada. Não se observa, no luto, a inibição psicomotora característica dos estados melancólicos. Os sentimentos de culpa, no luto, se limitam a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras ideias de culpa estão geralmente ausentes. Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).

 

Medicina & Saúde: Quem está suscetível à depressão?
Juliano Nogara: Aqueles que possuem história familiar de depressão, alcoolismo ou suicídio. Os fatores associados aos transtornos depressivos comumente encontrados são sexo feminino, baixas renda e escolaridade, idade de início entre 20 e 40 anos, pessoas divorciadas/separadas, viúvas ou que moram sozinhas; falta de suporte social, residentes em zona urbana e estresse crônico. Ainda, baixa tolerância ao estresse e comportamento impulsivo, com ocorrência de "acessos" de raiva.

 

M&S: Quais os sintomas da depressão?
JN: No diagnóstico da depressão levam-se em conta: sintomas psíquicos; fisiológicos; e evidências comportamentais. Sintomas psíquicos: Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa. Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis. Fadiga ou sensação de perda de energia e diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Sintomas fisiológicos: alterações do sono (mais frequentemente insônia, podendo ocorrer também hipersonolência), alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite) e redução do interesse sexual. Evidências comportamentais: retraimento social, crises de choro, comportamentos suicidas, retardo psicomotor e lentificação generalizada ou agitação psicomotora.


M&S: Como deve ser tratada?
JN: Existe dois tipos de tratamento: psicoterápico(terapia com psiquiatra ou psicólogo),com inúmeras abordagens (dirigida ao insight, cognitivo-comportamental, interpessoal entre outras; que devem ser criteriosamente indicadas conforme as características de cada caso) e psicofarmacológico(medicamentos, nos casos moderados a graves, preferencialmente devem ser tratados por psiquiatra). Nos casos depressivos leves, podem ser tratados somente com psicoterapia. Saliento, que nos casos moderados a graves, o melhor tratamento é o combinado (psicoterapia e medicamentoso).

 

M&S: A doença apresenta níveis de gravidade diferenciados?
JN: Apresenta quadro leve, moderado e grave. Especificadores de gravidade: Leve: dois sintomas; Moderado: três sintomas; Moderado a grave: quatro ou cinco sintomas; Grave: quatro ou cinco sintomas com agitação motora presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é humor deprimido ou perda do interesse ou prazer. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta, ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os dias. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias. Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)

 

M&S: Quais os riscos da depressão sem acompanhamento profissional?
JN: No Brasil as doenças mentais estão entre as principais causas de aposentadorias por invalidez na Previdência Social. Pessoas com transtorno depressivo apresentam cerca de cinco vezes mais alguma forma de incapacidade do que indivíduos assintomáticos, consultam e se hospitalizam mais por todas as causas. Os maiores riscos são perda da capacidade laboral, da interação interpessoal e, o mais grave dos riscos, o risco de suicídio. 90% dos suicídios se enquadram em algum diagnóstico de transtorno mental. 35% tem diagnóstico de transtorno depressivo grave.

 

M&S: Preventivamente pode ser evitada?
JN: Para espantar a tristeza, que pode ser um prenúncio de um transtorno depressivo, é importante gerenciar o estresse e compartilhar as dificuldades do dia a dia. Ler, aprender coisas novas, ter hobbies e se divertir, ajuda a manter a cabeça ativa e livre de pensamentos negativos ou preocupações excessivas. O otimismo, ladeado de bom-senso, assegura o bem-estar emocional. A máxima “mente sã, corpo são” é cientificamente aceita e o caminho inverso também procede. Ou seja, cuidar do organismo reflete na saúde mental. Nesse ponto, o conselho é praticar atividade física regularmente, inclusive porque estudos atestam que elas incentivam a liberação de hormônios e outras substâncias importantes para a manutenção do humor. Pesquisas recentes revelam que até a dieta influencia as emoções. Nesse quesito, vale se inspirar no cardápio dos mediterrâneos (azeite de oliva, peixes, frutas, verduras e oleaginosas (nozes, castanhas).


M&S: A depressão tem grande prevalência?
JN: A literatura mostra que os transtornos depressivos, em estudos de base populacional, atingem prevalência de 10% ao ano. Prevalência é o número de casos de uma doença em uma população durante um período específico de tempo. Os transtornos mentais afetam 25% da população em alguma fase da vida, representando quatro das dez principais causas de incapacidade em todo o mundo. As doenças mentais respondem por 12% da carga global de doenças, com um crescimento previsto para 15% em 2020. Os distúrbios mais comuns são transtornos depressivos, transtornos de uso de substâncias químicas e esquizofrenia. De acordo com Murray & Lopes2, a depressão deverá ser a segunda doença mais comum no ano de 2020, sendo superada apenas pelas doenças cardíacas. 

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