Após esse período introdutório é bom deixar o paciente falar livremente. A atenção do médico deve ser total, pois ao discorrer ele estará dizendo o diagnóstico. A partir desse relato, 70% da hipótese diagnóstica vai se estabelecer. O exame físico, exames laboratoriais e de imagem geralmente resolvem os outros 30%. Uma história bem obtida diminui muito a necessidade de exames. Após as etapas iniciais é importante fazer um resumo para o paciente daquilo que ele disse e o que você pretende fazer. Desenvolve-se assim um entendimento e uma cumplicidade. Outras vezes, entretanto, em casos mais difíceis, pode não se obter uma pista num primeiro momento. Porém pode ser identificado qual o sistema que está comprometido: digestivo, urinário, pulmonar etc. Nessas circunstâncias é preciso rever o paciente algumas outras vezes e isso deve ser comunicado e organizado.
Relação e transferência
Ao iniciarmos trabalho no consultório precisamos deixar as nossas questões pessoais em segundo plano, pois naquele momento a atenção deve ser para o paciente. Isso não é fácil, pois os eventos da nossa vida estão se passando. Nessa relação terapêutica podem aparecer os fenômenos de transferência e contra transferência. Isso significa que o médico pode identificar com alguma coisa do paciente e esse com alguma peculiaridade do médico. Isso pode acontecer, por exemplo, quando um paciente não faz aquilo que lhe foi pedido e colocando no médico a responsabilidade por não ter sido feito. Pode, nessa hora, se o médico não esta ciente dessas situações, se sentir desrespeitado e ameaçar o paciente com más notícias sobre a sua doença, pedir exames mais difíceis e prescrever tratamentos dispendiosos. Aí começa a se desfazer a relação terapêutica e começam os riscos de uma contenda judicial.
Há muitas doenças psiquiátricas entre os pacientes. Ansiedade e depressão são bem comuns na clínica e são enfermidades muito ruins. Não é boa prática dizer: “Todos teus exames estão normais. Isso é tudo da tua cabeça”. Seria como dizer; você não pode estar triste porque teus exames estão bons. Na prática diária, as situações mais leves podem ser tratadas pelo médico clínico. Somente ouvir o paciente já alivia muito. O médico pode errar o que é diferente de má prática. Qualquer médico pode ser enganado por uma doença se apresentando de maneira inusitada. Isso sempre aconteceu e sempre acontecerá. Não pode, entretanto, ser muito frequente, pois, se assim o for, médico estará precisando de treinamento naquele ponto específico onde está se equivocando de maneira sistemática.
É importante também o médico não deixar se contaminar por modismos. Há, nos nossos tempos, a moda nefasta de solicitação exagerada de exames. Já vi serem pedidos 90 exames os quais não serviram para nada. Muitas vezes levaram a uma grande confusão. Nessa mesma linha, deve ser evitado receitar remédios porque se ouve falar na mídia ou muitos remédios. O médico deve se basear no método científico. É do mister repetir para todos os pacientes que devem adotar hábitos saudáveis de vida pois, ao fazer isso, eles se livrarão da maioria das doenças. Dizer que fumar é um risco enorme e que as vacinas são necessárias, mesmo que não seja algo glamoroso, é fundamental. É um dos trabalhos do médico. Assim, que continuo nessa atividade que tanto me agrada. Nos invernos, verões, primaveras e outonos entro no consultório com a alma limpa e pronto para viver experiências novas e surpreendentes. No final de tudo resta o prazer de ter tentado, e algumas vezes conseguido, tornar a vida dos meus pacientes mais longa e feliz.
(Foto – Divulgação – HSVP)