Existe a memória da dor?

As sensações desagradáveis da dor aguda ou crônica

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Dr. Alan Christmann Fröhlich é neurologista do SNN e do Hospital de Clínicas de Passo Fundo e professor de Neurologia da IMED.Dr. Alan Christmann Fröhlich é neurologista do SNN e do Hospital de Clínicas de Passo Fundo e professor de Neurologia da IMED.
Dr. Alan Christmann Fröhlich é neurologista do SNN e do Hospital de Clínicas de Passo Fundo e professor de Neurologia da IMED.
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A abrangência da dor é física e emocional. As dores são reflexos do corpo e têm múltiplas origens. Nos queixamos das dores que sentimos e até daquelas que imaginamos. Dores e amores rimam nas músicas, estão nos romances e até em filmes. Mas, cientificamente, o que é a dor? Quem nos responde é o Dr. Alan Christmann Fröhlich, médico neurologista do SNN e do Hospital de Clínicas de Passo Fundo. “Dor é uma experiência emocional e sensitiva desagradável, associada com um dano físico (tecidual) real ou em potencial. A dor pode se manifestar de diferentes formas, dependendo da causa.” Então vamos conhecer um pouco mais sobre a dor.

 

Medicina & Saúde: Quais os tipos de dor que atingem o ser humano?
Alan Fröhlich: Inicialmente, podemos classificar a dor em aguda ou crônica. A dor aguda é uma resposta fisiológica normal a um estímulo adverso mecânico, térmico ou químico, como uma cirurgia, uma queimadura ou uma infecção, respectivamente. A dor crônica é uma dor de difícil tratamento, que persiste por três meses ou mais, e pode ser influenciada por fatores físicos, ambientais e psicológicos, reduzindo significativamente a qualidade de vida, como ocorre em doenças como a fibromialgia. Além da classificação em relação ao tempo de evolução, a dor pode ser nociceptiva, quando tem origem por estímulos provenientes de receptores dolorosos na pele, músculos, articulações ou vísceras. Existe também a dor neuropática, que resulta de dano a estruturas do sistema nervoso, seja nos nervos periféricos, na medula espinhal ou no cérebro.

 

M&S: A dor tem memória?
AF: Temos memória de eventos dolorosos, o que evolutivamente nos protege de uma nova exposição ao dano. Por exemplo, após um choque elétrico, teremos cuidado ao lidar novamente com a eletricidade, pela memória do evento doloroso prévio. Às vezes, mesmo que não ocorra um dano propriamente dito, a revivência de uma situação que desencadeou um evento doloroso pode gerar sintomas. Por exemplo, uma pessoa que teve muita dor após uma queda seguida de uma fratura, em uma nova queda, a pessoa pode momentaneamente experimentar as sensações de taquicardia, dilação pupilar ou sudorese, mesmo que não tenha ocorrido nenhuma nova fratura.

 

M&S: Quando ocorre a perda de uma parte do corpo como, por exemplo, dedo ou perna, a pessoa ainda sete esse membro inclusive com dor?
AF: Esse fenômeno se chama dor em membro fantasma, que ocorre porque o mapa cerebral do membro perdido permanece inalterado.

 

M&S: Em casos pós-cirurgia, algum tempo depois a pessoa sente dor no local que já está devidamente tratado. Como isso ocorre?
AF: Isso ocorre porque uma cirurgia pode causar dano a diversos tecidos e nervos em seu trajeto. Essas lesões, às vezes, podem ser responsáveis pela dor crônica.

 

M&S: Uma pessoa que passou por cirurgia de ligamentos no joelho esquerdo, um ano depois sente dores ocasionais no joelho. Essa dor teria alguma ligação com a dor que sentia no joelho que esteve lesionado?
AF: Não. O mais provável é que o outro joelho tenha alguma lesão e também precise ser tratado.

 

M&S: Dente com canais tratados e, portanto, sem nervos. Mesmo assim, a pessoa ainda sente dores no local. Isso é uma memória da dor?
AF: Não, isso só ocorre se durante o tratamento ocorra lesão de algum nervo bucal, o que causa uma dor neuropática, diferente da dor de dente.

 

M&S: Qual a relação da dor com o sistema nervoso periférico e central? Como isso funciona?
AF: O sistema nervoso periférico contém receptores dolorosos, que transformam os diferentes estímulos em impulsos nervosos, que são enviados pelos nervos ao cérebro (parte do sistema nervoso central), aonde a dor é processada.

 

M&S: A dor pode ser apenas de fundo psicológico?
AF: Pode, mas esse é um diagnóstico de exclusão. Na maioria das vezes, os pacientes que sofrem com dor crônica apresentam comprometimento significativo da qualidade de vida, o que pode levar a problemas psicológicos.

 

M&S: Em situações mais graves, quais as formas de tratamento para “cortar” essa dor?
AF: Existem diversas formas de tratamento da dor, seja com medicamentos ou com apoio de uma equipe multidisciplinar.

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