A hemodiálise é um método de filtração do sangue por meio de um rim artificial - máquina, que auxilia pessoas com Doença Renal Crônica, ou seja, quando o rim não exerce sua função. Receber a notícia da necessidade deste tratamento nem sempre é fácil, já que, o paciente se torna dependente das sessões de diálise para sobreviver. São três vezes por semana, em média quatro horas na máquina e muitas vezes somado a isso, a viagem até a cidade do tratamento. Uma rotina cansativa, porém, necessária.
Um nova família
Valdecir Carlos Canzi, Luis Henrique da Silva, Viviane Beatriz Favo Machado, Joel Kelin Santos, Sidernei Oliveira, Terezinha de Assis Terres, Waldemar de Oliveira e Antonio Carlos Von Borowsky saem de suas cidades nas terças, quintas e sábados à noite e vem até o Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo para realizar o tratamento. Uns há mais tempo, outros há poucos meses. A nova rotina de idas e vindas trouxe mudanças em suas vidas e também nas dos familiares Marlise Canzi, Neiva Artuso, Verônica Cordeiro Machado, Ana Wagi, Rejane Santos, Miriam Luciano Oliveira, Loreci Ávila Ribeiro, Lenir Terezinha Terres, Margarete Terezinha de Oliveira e Márcia Von Borowsky. Muitos deixaram para trás o trabalho, outros precisaram reorganizar os horários, em comum eles têm a força, coragem, esperança, o tratamento e a nova família que ganharam: “Família Hemodiálise”.
Rede de apoio
“Quando alguém recebe o diagnóstico de uma doença delicada como é o tratamento de hemodiálise, é normal que essa pessoa perca o chão, a esperança, a fé. Muitos de nós só ouviu falar dela quando chegou aqui para começar o tratamento, antes disso era algo distante. E é justamente por isso que, uma rede de apoio para esses pacientes é tão importante, a informação é tão importante. Depois que se passa a viver com a Hemodiálise como parte da rotina, percebe-se que na verdade se trata de uma nova oportunidade de vida e não de uma sentença de morte”, relata Marlise Cassi, criadora do grupo, “Família HD”, que aproximou os familiares dos pacientes, formando uma rede de suporte para enfrentar a rotina. O grupo começou quando Marlise, ao chegar com o seu marido para a Hemodiálise encontrou suporte e apoio com Lenir, que já acompanhava seu esposo há um tempo no tratamento. "Eu cheguei apavorada, sem chão e ela me acolheu, me explicou várias coisas e isso foi muito importante. Deste dia em diante, percebi que precisávamos acolher também os outros pacientes e familiares que chegavam e assim, fomos nos tornando amigos, nos ajudando e criando uma rede de apoio”, conta.
Dança e redes sociais
Das conversas na sala de espera, do chimarrão com bolo, elas criaram um grupo na rede social WhatsApp e passaram a ter contato diariamente. Nasceu uma amizade, uma família. No grupo elas trocam experiências, dúvidas, datas de exames e também encontram apoio nos dias difíceis. “Nós somos a rede de apoio de nossas famílias, juntamente com os médicos, enfermeiros que desempenham um papel fundamental em todo o processo. Mas, acima de tudo, somos família. Seres humanos com muitas fraquezas. Dividimos alegrias, tristezas, dúvidas, aprendemos a valorizar cada dia, nos tornando mais pacientes e cautelosos”, relatam os familiares, que além das conversas, buscaram juntas uma atividade física para se distrair e cuidar da saúde. “Encontramos um espaço para dança aqui perto do hospital, então toda terça estamos indo na aula de Zumba. Como é uma hora e perto do hospital, ficou fácil para nós. É muito divertido e relaxante”, avaliam.
Rotina sem sacrifício
O alto astral e a amizade do grupo contagiam os pacientes. Conforme a médica nefrologista, responsável pelo Serviço de Terapia Renal Substitutiva do Hospital São Vicente, Dra. Fabiana Piovesan, é possível perceber uma melhora na aceitação ao tratamento, além de os pacientes estarem mais felizes. “Ao ver seus familiares mais tranquilos, fazendo algo prazeroso, fazendo com que a rotina não se torne um sacrifício, mas sim algo divertido, com certeza traz benefícios aos pacientes e significantes melhoras no dia a dia e tratamento”. No grupo elas combinam qual vai ser a atividade do dia. Se vão para a dança, se é dia de pedir pizza ou tomar chimarrão ou ainda, se é dia de dar força e acolher alguém novo que está chegando e contagiar com a energia positiva da Família HD. “Estamos sempre aqui, três vezes por semana, fortes, dispostas e consequentemente essa força também reflete no tratamento. Quando chega um paciente novo, acolhemos com um abraço, um chimarrão, um lanche e muito carinho, porque somos a Família HD”. Assim, as histórias que são diferentes e que se encontram pelo tratamento, ganham capítulos mais leves. O grupo contagia o ambiente, os profissionais e médicos. “Sabemos que eles estão em boas mãos enquanto estão fazendo a diálise, por isso, podemos fazer essas atividades. A equipe faz parte da família”.