Desde o início da era dos computadores, a saúde ocular relacionada ao uso dos aparelhos eletrônicos vem sendo muito estudada ao redor do mundo. Os maiores sintomas que tínhamos, antes dos smartphones, eram relacionados ao desconforto ocular causado pela diminuição do número de piscadas e redução do tear breakup time - TBUT (que seria o tempo que o filme lacrimal fica em contato com a superfície ocular, protegendo e contribuindo para a oxigenação da mesma), ocasionando sintomas como vermelhidão ocular, ardência e/ou lacrimejamento, e também sintomas astenópicos, que além do desconforto ocular podem causar fortes dores de cabeça, tonturas e cansaço visual ao final do dia.
Luz azul
De acordo com o Dr. Lucas Manfron, médico oftalmologista do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, todos esses sintomas pioraram atualmente com o uso dos smartphones, pois antes não passávamos o tempo inteiro “conectados”, e agora, muitas vezes, descansamos do computador usando o celular, o que faz com que tenhamos um excesso de esforço diário da musculatura ciliar, que controla o nosso foco para a visão de perto. Além disso, sabe-se que a frequência da luz azul, emitida pelos LEDs das telas, altera o ciclo circadiano pela diminuição na produção natural da melatonina, que além de outras funções é primordial para regular o nosso sono, gerando prejuízo no corpo como um todo, aumentando o cansaço, stress, diminuindo a concentração, etc. Esse espectro de luz azul também tem sido estudado como potencialmente danoso à retina com o uso agudo e crônico, podendo vir a causar graves consequências no futuro para toda a nossa geração, desde os mais novos, que fazemos uso diariamente de dispositivos eletrônicos.
Tempo de uso
Então, qual é o tempo recomendado para uso destes dispositivos sem que haja prejuízos? Lucas Manfron explica que os estudos mostram que alguns minutos não fariam mal num único dia, mas poucos minutos, diariamente, ao longo do tempo poderia se transformar em um cofator para futuras doenças retinianas. Por isso, o uso deve ser sempre reduzido, principalmente no período noturno, e também se possível, para quem usa óculos, ter o filtro específico de proteção do espectro de luz azul para evitar esse possível risco. As sociedades médicas, como a AAO – American Academy of Ophthalmology, e a SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria, tem recomendações parecidas sobre o uso dos eletrônicos.
Os sintomas
Sobre os sintomas de que o uso excessivo de eletrônicos está prejudicando a visão, o especialista diz que vão desde desconforto ocular como vermelhidão, ardência, sensação de olho seco, até sintomas astenópicos causando fortes dores de cabeça, náuseas e cansaço visual. Além disso, estamos vivendo uma “epidemia de miopia”, popularmente conhecida como “dificuldade em enxergar de longe”, inclusive de formas mais graves, devido ao uso excessivo da visão de perto nestes dispositivos, gerando estímulo para alterações no desenvolvimento ocular das crianças.
Riscos de distúrbios
Além disso, principalmente em crianças, a alteração do ciclo circadiano causado pelo bloqueio na produção de melatonina pode causar problemas diversos, incluindo maiores riscos de obesidade, problemas no desenvolvimento, psicomotor e intelectual, bem como uma qualidade de sono. Também podem aumentar os riscos de distúrbios como ansiedade (devido ao uso incontrolável das redes sociais) e até mesmo transtorno do déficit de atenção (podendo aumentar em até 8 pontos o risco se usar mais de 2h diárias em pré-escolares, segundo pesquisas).
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