O número de casos confirmados do novo coronavírus segue em crescimento no Brasil. Até a tarde dessa segunda-feira (30), o Ministério da Saúde havia confirmado 4,5 mil pessoas infectadas por Covid-19, com 159 mortos. O aumento também foi registrado no Rio Grande do Sul, onde o número de casos confirmados passou para 254. A Secretaria Estadual de Saúde confirmou, ainda, a terceira e quarta morte em decorrência do vírus em território gaúcho, ambas na segunda-feira. Já em Passo Fundo, por enquanto, o quadro permanece estável, com apenas um caso confirmado até o momento. De acordo com o boletim epidemiológico mais recente, o município contabiliza 49 casos suspeitos de Covid-19, que aguardam resultado do teste. Destes, 24 estão hospitalizados em instituições do município.
Apesar de contabilizar um expressivo número de casos, desde a primeira confirmação do novo coronavírus em território nacional – há cerca de um mês –, o Brasil está apenas no início da sua curva de crescimento. E o avanço da doença tem acelerado. O Ministério da Saúde admite, inclusive, que a perspectiva é de aumento na pandemia durante o mês de abril, tanto em número de infecções quanto de mortes, embora o órgão tenha se abstido de divulgar projeções mais específicas. A título de comparação, conforme levantamento feito pela Agência Brasil, se considerado o período de um mês após o primeiro infectado, pode-se dizer que o Brasil superou o que foi o início da pandemia na Itália. No país europeu, no período equivalente, foram registradas 29 mortes. No Brasil, em 30 dias, o Covid-19 causou 77 mortes.
Para o médico e diretor do campus passo-fundense da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Dr. Júlio Stobbe, ainda é difícil antecipar como se dará o comportamento do vírus na população brasileira. Ele estima, no entanto, que a pandemia deve se estender por mais três meses, a exemplo de outros países. “Porém, devemos lembrar que o Brasil é um país muito grande e com muitas diferenças regionais. Fatores que poderão causar variáveis não previstas”, contrapõe. No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde o inverno tem temperaturas semelhantes às enfrentadas nos países com maior índice de casos de Covid-19 e, também, onde a população idosa é bastante expressiva, os próximos meses podem ser delicados, especialmente se as medidas de isolamento social forem flexibilizadas. “Todos os entes da Federação estão trabalhando nessa questão [de medidas de prevenção]. Enquanto perdurarem somente as medidas técnicas teremos eficácia em suas ações. O maior temor, no entanto, é o risco da interferência política nessas questões. Aí poderemos ter consequências desastrosas à exemplo de outras nações”, comenta.
Stobbe salienta, ainda, a importância das medidas tomadas pelo município de Passo Fundo, como o fechamento do comércio, a suspensão das aulas e a proibição de eventos que poderiam aglomerar um grande número de pessoas. Segundo ele, a restrição na circulação da população tem ajudado a retardar a transmissão do vírus. Esse mecanismo permite que o sistema de saúde consiga atendar a população infectada. Se o contrário acontecesse, com grande parte da população contraindo Covid-19 no mesmo período, o sistema hospitalar poderia enfrentar um colapso. “O município de Passo Fundo e suas Instituições trabalharam muito para minimizar os possíveis efeitos de uma grande epidemia. No entanto, se oscilar em encaixar-se nesse preparo, pode ser catastrófico. Teremos dificuldades como qualquer outro país teve em situações extremas”.
Covid-19 tem taxa de letalidade superior ao H1N1
Embora notícias falsas tenham se disseminado nas últimas semanas, dando conta de que o surto do vírus H1N1, que chegou ao Brasil em 2009, teria sido mais letal que o novo coronavírus, o médico Júlio Stobbe desmente a informação – enquanto em seu primeiro mês o surto de H1N1 causou uma morte no Brasil, no mesmo período, o novo coronavírus foi responsável pela morte de 77 pessoas.
O médico destaca que a taxa de letalidade do Covid-19 gira em torno de 2 a 3%, enquanto a taxa de H1N1 durante o surto variava entre 0,02-0,4%. Além disso, segundo Stobbe, uma pessoa doente com o Covid-19 transmite o vírus a outras 2,74 pessoas, em média. A taxa é, novamente, maior que a observada na pandemia de influenza H1N1 em 2009 (uma pessoa transmite a outras 1,5). “A letalidade do Covid-19 não é das maiores. No entanto, num país de 200 milhões de habitantes [como o Brasil], teria uma alta significância”.