Desde que os primeiros casos de coronavírus foram sendo notificados no município, os corpos clínicos dos dois hospitais de referência regional, Hospital de Clínicas (HC) e Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), reagendaram procedimentos e aumentaram a carga de trabalho para atender os pacientes que chegam com suspeita ou diagnóstico de covid-19.
Com 73,2% dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ocupados na região de Passo Fundo [seja por coronavírus ou por outras enfermidades], segundo estimativas apresentadas pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), na segunda-feira (20), as unidades hospitalares remanejaram macas e criaram setores específicos de atenção ao coronavírus. Tendo 51 respiradores artificiais à disposição para serem utilizados em casos que demandam ventilação pulmonar, a “Sala Covid”, como um dos postos de enfermagem do Hospital de Clínicas de Passo Fundo passou a ser denominado pelas equipes multiprofissionais de saúde, 20 leitos estão disponíveis para serem ocupados por pacientes com diagnóstico de coronavírus que chegam ao hospital por meio do sistema público de saúde. No posto 5, destinado à rede privada, a capacidade se amplia para 25 aos pacientes que possuem convênio médico.
Mapa da SES estima porcentagem de internados por macrorregião. Foto: Reprodução
Mas é mesmo nos postos de terapia intensiva que o alerta ressoa. A UTI destinada exclusivamente para os casos complexos agravados pelo SARS-CoV-2 dispõe de 13 leitos a serem ocupados quando o quadro clínico do paciente é considerado grave. “Ainda não temos uma grande ocupação hospitalar, mas vai chegar esse momento”, projeta o médico pneumologista do HC, Gustavo Picolotto. Com o número de leitos reduzido no bloco de intubação, e oito internações por coronavírus, até segunda-feira (20), sendo dois pacientes em atenção intensiva e seis na enfermaria do Hospital de Clínicas, o especialista afirma que, diariamente, são atendidos cerca de 10 a 15 pacientes com quadro de doença respiratória na unidade hospitalar. Aqueles com sintomas leves, segundo ele, são medicados e orientados a permanecerem em repouso domiciliar, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde. Através de um sistema de monitoramento remoto, desenvolvido em parceria com a IMED, os profissionais da saúde estabelecem contato diários com esses pacientes para avaliar a evolução do quadro.
Os mais graves, são internados para um acompanhamento clínico até que o resultado, que atesta ou descarta um possível caso de coronavírus, seja emitido pelo laboratório central do estado (Lacen). “Todo paciente que chega ao hospital com insuficiência respiratória ou em parada cardiorrespiratória é tratado como um paciente covid até que o exame seja concluído”, explicou o médico ao abordar os critérios para internação nas alas especiais.
De acordo com estimativas atualizadas da Secretaria Estadual de Saúde (SES), das 78 pessoas internadas nas unidades de terapia intensiva, tanto no Hospital de Clínicas quanto no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), 6 estão com diagnóstico e complicações decorrentes do coronavírus.
Por município, alerta se acende a Passo Fundo por apresentar mais de 80% dos leitos ocupados. Foto: Reprodução/SES
12h ao dia
“É uma situação nova. Não estávamos esperando”, afirma Picolotto. Na linha de frente de enfrentamento à pandemia, a equipe médica é composta por quatro profissionais no atendimento primário, no HC, e mais 16 profissionais que se revezam na UTI para assegurar o atendimento integral aos pacientes com coronavírus. “Devido à grande carga viral e contato”, como pondera ele, os médicos chegam a trabalhar até 12h no cuidado dos internados em uma escala 12/36.
Na Sala Covid, conforme explica Gustavo, os médicos residentes fazem jornadas de 12/36h durante 15 dias. Depois desse período, ficam 7 dias em isolamento e, se não apresentarem sintomas, retornam às suas rotinas. Se tiverem sintomas, são testados. Se positivo, a quarentena é prolongada por mais 7 dias. Se o exame testar negativo, retorna as funções.
Na UTI adulta são 3 equipes compostas por 5 a 6 médicos, que fazem rodízio semanal. "Então, na semana um, trabalham 5 médicos; na semana dois, outros 6 médicos, e na terceira semana, outros 5 médicos. Na quarta semana, volta a equipe da semana 1. Isso reduz o tempo de exposição dos profissionais ao ambiente contaminado, mas não impede destes profissionais, nas semanas seguintes, seguirem suas rotinas", detalha o pneumologista.
“Precisamos destacar a ação dos médicos residentes também que, com o auxílio de um profissional, estão sendo muito importantes”, enfatizou ainda. “Não gostamos de ficar presos e abandonar coisas da nossa rotina, mas é um vírus e uma doença que ainda não tem vacina”, lembrou. “As pessoas precisam manter o distanciamento social”, prosseguiu o médico.
O distanciamento social, como ponderou, é diferente do isolamento, recomendado, sobretudo, às pessoas pertencentes aos grupos de risco. “É importante perceber sintomas diferentes no organismo, como febre e dores nas articulações, e respeitar a distância de dois metros, além de usar máscaras ao sair na rua. São formas de manter a nossa rotina, mas evitar o contágio”, destacou.