A memória é uma das áreas da cognição capaz de adquirir, armazenar e relembrar informações sobre vivências, conhecimentos e pensamentos experimentados. De acordo com a neurologista Bruna Constantino Rech, pode-se classificar a memória de duas maneiras: a memória de procedimento (“saber como”) e a memória declarativa (“saber que”). A memória de procedimento armazena dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de uma atividade que segue sempre o mesmo padrão. Nela se incluem todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais. A médica, que atua no Hospital de Clínicas de Passo Fundo, explica sobre os cuidados em relação à memória.
Como funcionam as memórias de procedimento e declarativa?
Com memória de procedimento, o ser humano é capaz de executar tarefas, por vezes complexas, com o pensamento voltado para algo completamente diferente, por exemplo, o ato de dirigir. Já a memória declarativa armazena e evoca informação de um acontecimento ou experiências, incluindo memória de fatos vivenciados pela pessoa ou informações adquiridas pela transmissão do saber de forma escrita, visual e sonora. Se analisar a memória quanto ao tempo de armazenamento das informações, pode-se classificá-la em memória de trabalho (retém essa informação por alguns segundos), memória de curto prazo (retém por algumas horas até que sejam gravados de forma definitiva) e memória de longo prazo (retém de forma definitiva a informação).
O esquecimento pode ser o indicativo de alguma doença?
Sim, e se a pessoa e seus familiares perceberem que há uma influência desse esquecimento na rotina e afazeres diários do indivíduo, orienta-se procurar um atendimento médico para avaliação do quadro.
Quais os primeiros sintomas?
A memória é um complexo componente da cognição e seu prejuízo pode manifestar-se de várias maneiras dependendo da causa do esquecimento. No geral, observar o contexto em conversar e lembrança de fatos ocorridos, o desempenho em executar atividades rotineiras para a pessoa, a lembrança geográfica em ambientes familiarizados, reconhecimento de familiares e amigos, entre outros.
A falta de memória pode ser causada por alguma doença?
A principal questão, no que se refere ao esquecimento, é determinar sua causa, pois existe uma grande diversidade de doenças que podem culminar com prejuízo na memória. Dentre as principais estão: medicamentos (exemplo: benzodiazepínicos), abuso de drogas ilícitas, doenças psiquiátricas (exemplo: depressão, transtorno do humor), doença de Alzheimer e outras síndromes demências, distúrbios metabólicos (exemplo: hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12), infecção e trauma do sistema nervoso central.
Existe o check-up da memória?
Não existe um check-up específico para a memória em um indivíduo sem sintomas, pois não há um exame que detecte de forma preventiva doenças demenciais. Mas vale ressaltar a importância do controle de fatores de risco para dano neurológico que pode influenciar no surgimento dessas doenças, como tabagismo, etilismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, sedentarismo, carência nutricional e vitamínica. Assim, de forma preventiva, a pessoa deve se manter ativa física e mentalmente, ter uma boa alimentação e hidratação, e ter controladas suas comorbidades.
Existem exercícios para manter a memória em boas condições?
Não existe indicação de alguma atividade específica, o objetivo é o indivíduo se manter ativo na sua rotina, tanto física como mentalmente, e vale ressaltar que essa proteção só é válida se for mantida durante anos. Sabe-se que a escolaridade do indivíduo está diretamente relacionada com o risco de dano na memória, assim o desenvolvimento intelectual como prevenção tem que ser um hábito de anos, iniciado desde a adolescência ou adulto jovem, por exemplo a leitura.