Utilizada de forma experimental e inédita em quase sete meses de pandemia, a terapia com plasma convalescente aplicada em pacientes internados com diagnóstico positivo para o coronavírus passou a ser utilizada no Hospital de Clínicas de Passo Fundo, que recebe as bolsas com o componente líquido sanguíneo do Hemocentro Regional de Caxias do Sul.
A primeira, e única, transfusão feita na unidade hospitalar, como explicou a médica hematologista do HC, Denise Almeida, permitiu ao paciente, um homem de 68 anos, o desenvolvimento de uma imunidade passiva. “É administrado o plasma de uma outra pessoa que já se recuperou da doença”, explicou. O paciente, morador de Passo Fundo, recebeu 200 ml de plasma coletado por meio de sangue total de uma caxiense de 56 anos, mas faleceu em decorrência de uma hemorragia intracraniana. A médica enfatizou, porém, que o óbito não teve qualquer relação com o uso da substância sanguínea. "Ele estava em estado grave”, ponderou.
Uso antigo
Em fase de pesquisa e ensaios clínicos em diversos laboratórios científicos, a coleta e transfusão do plasma convalescente, como lembrou Denise, já foi usado em outros períodos de surto para tentar reduzir a gravidade de doenças infecciosas, como o zika vírus e chikungunya. “O que nos deixa apreensivos é sobre a própria evolução do vírus [referindo-se ao SARS-CoV-2]. O uso do plasma faz parte de uma pesquisa clínica. Infelizmente, não temos o plasma para uso rotineiro, mas não depende da nossa vontade, mas de autorizações públicas”, ponderou. Rico em anticorpos, a administração do plasma foi realizada pela primeira vez na década de 1980 e durante a pandemia da gripe H1N1, em 2009.
Tal autorização, mencionada pela médica, diz respeito à habilitação do Hemocentro Regional de Caxias (Hemocs), que teve o aval para início de testes clínicos utilizando o hemocomponente. Conforme orienta o Hemocs, na doação por aférese, alguns pontos divergem do método através do sangue total. Antes da coleta é necessário ter testado positivo para Covid-19, pelo exame PCR ou teste sorológico, e estar recuperado e sem sintomas há, no mínimo, 28 dias. Com uma realização prévia de exames para detecção da presença de anticorpos para o vírus da Covid-19, o plasma é coletado e armazenado para estudos científicos, que utilizam pacientes dentro de um quadro de gravidade da doença, como o de Passo Fundo, para avaliar a resposta à terapia. “Estudos apontam que o plasma convalescente pode diminuir a mortalidade em pacientes críticos, diminui a carga viral e apresenta melhora clínica, com a diminuição do tempo de ventilação mecânica e, consequentemente, de internação na UTI”, disse o Hemocentro por meio de nota.