Ano marcado pelos impactos da pandemia no combate ao câncer

Diagnóstico precoce e tratamento do câncer, essenciais para a cura da doença, foram impactados pela pandemia de Coronavírus em 2020

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Pandemia exige mais cuidados no tratamento do câncer (Foto: Divulgação)Pandemia exige mais cuidados no tratamento do câncer (Foto: Divulgação)
Pandemia exige mais cuidados no tratamento do câncer (Foto: Divulgação)
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A pandemia de Coronavírus, declarada há oito meses pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que já ultrapassou as 170 mil mortes e 6 milhões de casos no Brasil, impactou no diagnóstico e tratamento de câncer. Conforme estudos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a redução no número de cirurgias de câncer, que é uma das principais formas de tratamento, chegou a 70%. O Dia Nacional de Combate ao Câncer, que ocorre no dia 27 de novembro, enfatiza a importância de manter e buscar o tratamento do câncer.

Além da pesquisa da SBCO, outros estudos também indicaram impactos negativos no tratamento da doença neste ano. Dados da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), por meio de pesquisa feita com seus associados, indicam que 74% dos oncologistas clínicos relataram que um ou mais pacientes interromperam ou adiaram o tratamento por mais de um mês durante a pandemia. A pesquisa aponta ainda que os procedimentos em que os pacientes mais enfrentaram dificuldades no período foram cirurgias (67,5%) e exames de seguimento (22,5%).

Em Passo Fundo, por exemplo, dados do Sismama/DataSUS, sistema de registro de mamografias do SUS, apontam redução de mais de 70% no número de mamografias comparado com anos anteriores, sendo que esse é o principal exame para diagnóstico precoce do câncer de mama, neoplasia mais prevalente e que mais mata as mulheres.

Os impactos da pandemia preocupam os oncologistas. “Isso significa diagnósticos tardios e mais óbitos por câncer. Nos próximos meses, haverá uma avalanche de pessoas que não procuraram atendimento ou não conseguiram ser atendidas neste ano e sobrecarregará o sistema público, já saturado, que não terá condições de atender esta demanda reprimida pela pandemia”, ressalta o oncologista clínico do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Alvaro Machado, membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Os pacientes oncológicos fazem parte do grupo de risco para a Covid-19 e o medo da contaminação retarda a realização de exames e tratamentos. Além disso, problemas de logística, produção e entrega de medicamentos e insumos e o afastamento de profissionais por contágio pelo coronavírus colaboram para atrasos e remarcações. “O câncer não é uma doença que pode esperar a pandemia passar. Há casos, que necessitam tratamentos imediatos, que não devem ser adiados. O ideal é que os pacientes visitem seus especialistas e sigam as recomendações destes”, destaca Machado.

Considerando que a pandemia não tem prazo para terminar e a vacina ainda não chegou, a orientação é para que a população não deixe de realizar os exames de rotina e não interrompa os tratamentos, respeitando todas as medidas de prevenção contra a Covid-19. “O paciente não deve interromper o tratamento oncológico, seja radioterapia, seja quimioterapia ou cirurgia relacionada ao câncer. O câncer é uma doença que tem alto poder de letalidade. Ao interromper o tratamento, a eficácia e chance de cura caem drasticamente”, enfatiza o também oncologista do CTCAN, Alex Seidel.

 

Diagnóstico precoce é essencial

O câncer, segunda causa de morte no mundo, é uma epidemia global e tende a aumentar nos próximos anos. Ele poderá ser a principal causa de morte no Brasil e no mundo, caso não sejam tomadas medidas urgentes. Atualmente, 8,8 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência dessa doença, conforme a OMS. No Brasil, são registradas cerca de 220 mil mortes por câncer (DataSUS) e 660 mil novos casos por ano.

O diagnóstico precoce e tratamentos adequados são dois fatores determinantes para combater a incidência e a mortalidade por câncer. Conforme “Estimativa 2020” do Instituto Nacional de Câncer (Inca), os cânceres mais incidentes no Brasil são os de pele não melanoma, mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.

Cerca de 30% dos cânceres mais incidentes podem ser evitados com hábitos saudáveis de vida. “Exercícios físicos, alimentação saudável, restrição do álcool, não fumar, manter peso adequado e fazer a vacinação contra HPV são algumas das formas de prevenção. Além disso, os exames de rastreamento, como o exame ginecológico com Papanicolau, mamografia, pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia, exame de toque da próstata e dosagem do PSA no sangue são essenciais”, destaca Seidel. 

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